O Romantismo português implicou uma relação com o conceito de Nação – enquanto ser dinâmico, dotado de uma energia vital e transformadora, capaz de se assumir e de se afirmar – e uma ressurreição poética dos grandes mitos da História de Portugal, como o mito de Camões e o da regeneração nacional. O início do século XIX revelou-se um período de grande instabilidade política, pelo que a produção literária da época é expressão de uma crise de identidade, dado o estabelecimento de uma relação estreita entre literatura e a realidade nacional. Eduardo Lourenço (1988:80) afirma que, desde o Romantismo, a literatura portuguesa reflete a relação com a nacionalidade e a Pátria e a questão da identidade nacional é continuamente pensada.
O Romantismo inaugura uma idade crítica, em que a literatura apresenta o modo como é realizada, explicitando a faculdade de criação de textos – o escritor não faz só literatura; tem, também, que pensar o projecto literário que o move e cada obra surge como portadora da sua própria teoria, a defender o seu projecto literário, reflectindo sobre o seu processo de criação e levando, também, o leitor a fazê-lo; pensando o modo como é criada, afirma-se a si mesma enquanto produção, enquanto originalidade. Por exemplo, nas Viagens na Minha Terra, de Almeida Garrett, há a permanente reflexão sobre o que é escrita, o que é literatura, como se faz um romance, orientando o autor a leitura ao recorrer à digressão ou à interrupção da narrativa para um comentário ou confidência ao leitor.
Trata-se de ler Portugal através da literatura, que traduz a essência do povo, a expressão da nação. Com Garrett, Portugal é valor a interrogar; com Herculano, é valor a recuperar, através de textos narrativos que abordam as origens, a primavera fecunda da pátria lusitana.
Como período literário e cultural de longa duração, implicando rupturas e continuidades, é possível identificar, no Romantismo Português, três momentos ou gerações distintas, mas interseccionando-se entre si, qual «curva sinusoidal». Forma-se, à volta de Garrett e Herculano (também se indica António Feliciano de Castilho, ainda dominado pelo Arcadismo e fazendo a ligação com a geração seguinte), o que se designa como Primeira Geração Romântica, empenhada e ligada à instauração do Liberalismo em Portugal e versando temas medievais e sentimentais do romantismo francês, fruto dos seus contactos culturais no exílio.
Porém, o Romantismo, que nascera como reacção contra o academismo clássico, acabou por cair no formalismo convencional e no sentimentalismo exagerado a que se deu, com um sentido pejorativo, o nome de Ultra-Romantismo, dominado pela poesia de João de Lemos e Soares de Passos. Será, pois, com a Geração de 70 que o Romantismo português se reveste de uma face crítica, com a poesia e as ideias literárias e filosóficas de Antero de Quental, com a contestação ao sentimentalismo ultra-romântico e uma tentativa de reforma das mentalidades.
O Romantismo português revelou-se pouco atraído pelo transcendentalismo ou pela exploração do inconsciente e do onírico, pelo que será a produção poética anteriana que virá afirmar um princípio de modernidade, renovando a linguagem poética e despertando ideias que serão desenvolvidas futuramente.
Álvaro Manuel Machado considera que nos escapou a lição do grande romantismo europeu, sobretudo a mais elevada e cósmica, a do romantismo alemão, quase desconhecido e nada estudado a nível da história das ideias filosóficas e da teorização literária, exceptuando alguma atenção restrita.
No entanto, Antero beberia da influência alemã, sem deixar de ser original ou de estar enraizado na cultura portuguesa, opondo-se à estética narcisista da facilidade ultra-romântica. Será Antero quem pensará o Romantismo não em termos de género, mas assumindo-o plenamente numa estruturação reflexiva.
Aspirando à Liberdade e à Justiça, pela via da Razão (recuperação iluminista onde persiste a influência francesa), Antero recupera do romantismo alemão a ideia de fazer da arte experiência do absoluto, por ela manifestando o caminho para a intuição do infinito, que é libertação de regras e constrições à inspiração artística e libertação do contingente e efémero mundo das aparências. Porém, esta busca ansiosa, desesperada e melancólica do absoluto revela-se, no sujeito poético romântico, sob a forma de imagens do silêncio, da noite, da morte e na aniquilação física e espiritual.
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Referências bibliográficas
ALENCAR, José. O guarani. São Paulo, 2005.
MORA, Ana Riera; COLL, Isabel – Do iluminismo ao romantismo. Volume VIII, 1992
SARAIVA, António José. História da Literatura Portuguesa. Lisboa: Livraria Bertrand, 1979.
WOLF, Norbert – Romantismo. Singapore: Tachen, Brasília, 2008.