A religião pode ser entendida como sistema de crenças rituais ligados com seres, poderes, forças sobre naturais. A religião é um universal da cultura, isto é, é um fenómeno inerente a todas as culturas.
Expressões da religião
Em sentido restrito, explica-se a vida pela presença, em cada organismo, de uma alma. Opõe-se ao materialismo, que a explica pela matéria inanimada. É imaginar uma alma (anima) em todos os seres, inclusive naqueles privados de sensibilidade, tais como, florestas, rios e estrelas.
Geralmente refere se a uma proibição da prática de qualquer actividade social que seja moral, religiosa ou culturalmente reprovável. Dizer que algo é um tabu pode significar que é sagrado e por isso interdito qualquer contacto. Ou pode também significar algo perigoso, imundo ou impuro. Cada sociedade possui os seus próprios padrões morais, tabus existentes em uma cultura podem não existir em outras.
Os tabus são criados por convicções sócias, religiosas e culturais. São meios de preservar os bons costumes da sociedade, limitando a prática de determinados actos ou evitando falar de assuntos polémicos.
Segundo Ivala 2007, os primeiros humanos entediam os sobrenaturais como uma força que não podiam controlar. Esta concepção era muito importante na Melanésia (Pacifico do sul, Papua Nova Guiné e Ilhas de Perto).
A magia é capacidade de modificar o mundo através do carácter ritual, é um conjunto de técnicas de manipulação do sobrenatural orientadas a alcançar propósitos específicos. Na magia é costume a utilização de conjuros, fórmulas verbais e encantamentos.
A magia embora assenta se em realidades sociais, a magia diferentemente da religião, é, nos seus ritos, individual. As vezes são consideradas anti-social. A magia põe em acção poderes externos, manipulados pelos símbolos (objectos, formulas, gestos) visando modificar o curso dos acontecimentos em favor de alguém e prejuízo do outro.
Mitos são crenças que expressam valores culturais através de relatos que narram acontecimentos do passado remoto: a origem do mundo ou de uma povoação através de factos extraordinários, os deuses, heróis, com atributos humanos, seres sobrenaturais com o fim de ensinar e moralizar, ilustrar crenças religiosas, oferecer esperança, emoção e evasão.
De acordo com Ivala 2007, propõe quatro tipos de religião:
- Xamanista diferente dos sacerdotes os xamanes são encarregados religiosos a tempo parciais que mediam entre as pessoas e seres sobrenaturais, são especialistas mágico-médicos.
- As religiões comunais têm xamanes, rituais colectivos de colheita e ritos de transição, são politeístas. São religiões típicas de produtores de alimentos.
Religião em Moçambique
As religiões tradicionais em Moçambique envolvem um conjunto de procedimentos culto dos antepassados, a crença na magia e na feitiçaria diferentes da maioria das religiões do mundo (o cristianismo e o islamismo). Esses cultos resultam de crenças numa segunda vida acreditando que os antepassados que tiveram uma óptima conduta em vida têm a possibilidade de ter uma relação directa com deus. É uma religião que não tem um calendário delimitado, varia segundo o momento em que um determinado factor se manifesta (ex.: a evocação da chuva só ocorre quando houver escassez da mesma).
Impacto de novas ideologias religiosas na sociedade Moçambicana
A introdução do cristianismo e do islamismo nem sempre foi negociada, o que ocorreu foi a imposição dos dois credos religiosos. Não foi possível apagar tudo nas tradições religiosas locais, os africanos em particular moçambicanos resistiram sobre diversas formas como a integração parcial de alguns caracteres religiosos impostos. A preservação do sobre natural. As evidências indicam que com a emergência dessas práticas sincréticas os africanos quiseram preservar a relação do sobrenatural segundo os seus fundamentos de vida.
Religião como fenómeno sócio-cultural
Embora Durkheim 1996 se tenha baseado em estudos antropológicos de sociedades primitivas, considerava a religião como um fenómeno universal; daí o facto de ter estudado o sistema religioso em diferentes contextos históricos, sociais e culturais, tentando entender a essência comum e as funções que a religião desempenha nas diferentes sociedades e o que explica a sua origem.
Não há sociedade sem religião e muito menos existe sociedade, por mais primitiva que seja, que não apresente um sistema de representações colectivas relacionadas à alma, à sua origem e ao seu destino. Para o autor, a realidade simbólica da religião é o núcleo da consciência colectiva e como acto social, a religião transcende o indivíduo e é a condição primordial da integração e da manutenção da ordem social.
Por detrás de toda a manifestação religiosa (ritos, cultos, crenças adorações.) está a sociedade, pois foi ela que criou a sua concepção religiosa. Deus, por exemplo, que é a concepção mais forte dentro do sagrado, é uma forma de mitificação de meras leis, usos e costumes, valores e tradições de um grupo social. O culto a Deus é no fundo um culto à própria sociedade e a religião é apenas uma forma suprema de consolidar o social, perpetuar a cultura e reafirmar e actualizar simbolicamente os valores colectivos.
A religião impõe respeito e é uma das formas de sanção social, pois trata-se de um conjunto de normas super humanas que controlam o social das tendências constrangedoras da ordem social. A religião estabelece normas consuetudinárias (sanções legais), normais morais (sanção da opinião pública) e normas sobrenaturais (sanção da consciência), são estas três maneiras de controlar o comportamento humano.
Assim, a religião como um subsistema sócio-cultural é composta por dogmas (conjunto de verdades inquestionáveis); moral (normas de comportamento) e liturgia (o ritual relativo ao culto).
Características da religião
Andréa 2012 indica as seguintes:
- Existência de entidades sobrenaturais que criaram e controlam o mundo natural e ordem social.
- Crenças, rituais, acções e comportamentos individuais ou colectivos, regras sociais ou morais são prescritos e legitimados pela tradição religiosa ou pela revelação divina.
- Em expressão de obediência gratidão e devoção frequentemente na presença de representações simbólicas de entidades sobrenaturais.
Funções Sociais da Religião
Andréa 2012 destaca as seguintes:
- Ajuda a superar incertezas quanto ao desconhecido, à impotência face à forças da natureza, à vida, à morte e ao futuro.
- Serve para legitimar as desigualdades sociais, a divisão do trabalho, a dominação e a subordinação.
- Gera um conforto afectivo-espiritual, isto é, proporciona consolo, alívio e estabilidade emocional nos momentos críticos e dolorosos da vida.
Em períodos de grandes comoções sociais, crises políticas, fome, instabilidades financeiras, a religião funciona como um importante factor de união, de identidade cultural e religiosa.
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Bibliografia
ADREA, Themis, Apostila de Introdução a Sociologia, CTTHG, 2012.COSTA, Cristina, Introdução a Sociologia: Introdução a Ciência da Sociedade, 2 ed, Editora Moderna, São Paulo, 1997.IVALA, Adelino Zacarias. Antropologia Cultural: Plano de Estudos, e apontamentos, Nampula, 2007.MARTINEZ, Francisco, Lerma. Antropologia Cultural: Guia para Etudos. Instituto Maria, Maputo, 2002.RIVIÉRE, Claudino. Introdução a antropologia, edições 70, Lisboa, 2000.PEDRO, Martinho e NIQUECE Alípio. Antropologia Cultural, Maputo, INED, s/d.WEBER, Max, A Ética Protestante e o Espírito do Capitalismo, Ed. Martin Claret, São Paulo, 1997.