Existe uma família tipicamente africana e que pode ser definida como uma unidade grupal na qual se desenvolvem três tipos de relações: aliança (casamento), filiação (pais/filhos) e consanguinidade (irmãos) e que a partir dos objectivos genéricos de preservar a espécie, nutrir e proteger a descendência e fornecer-lhe condições para a aquisição de suas identidades pessoais tendo em conta que cada membro ocupa uma posição com a qual se deve identificar.
A família é vista como um conjunto invisível de exigências funcionais que organiza a interacção dos membros da mesma, considerando-se igualmente como um sistema que opera através de padrões transaccionais e no seu interior os indivíduos podem constituir subsistemas, podendo estes ser formados pelas gerações, sexo, interesse e ou função, havendo diferentes níveis de poder, e onde os comportamentos de um membro afectam ou influenciam os outros membros.
Para além da família
Em Moçambique, assim como em outras sociedades africanas, a unidade fundamental das sociedades é a família extensa, que funciona como elemento mítico-espiritual, social e até juridicamente solidário.
Afirma Garcia (2001) que:
“Aquelas estruturas possuem um carácter intensamente comunitário; desempenhando o indivíduo funções com importância colectiva; o seu interesse é subordinado ao geral. O comunitarismo faz ainda parte da religião, das formas de vida económica e da existência de inúmeras sociedades especiais (no espaço entre família e a tribo). Visto que as famílias moçambicanas são no geral colectivistas, onde o papel de cada um dos membros está bem definido e, um possível erro de um dos membros pode ser analisado como sendo um erro de toda família no geral.(p. 37).
Do exposto acima percebe-se que, os verdadeiros protagonistas da existência individual e social das sociedades africanas, são os grupos, as comunidades e as famílias. A família é a célula inicial na vivência e essencialmente comunitária que define a cultura do indivíduo. Desta feita, não se pode conceber, nem explicar o indivíduo africano isolado de uma comunidade, onde a parentela cria a capa inabdicável, se geram as estruturas sociais e o ambiente onde elas podem subsistir.
A sua realidade místico-participante constitutiva estabelece um amplo sistema operativo, fundamento da organização social, ao situar todos os indivíduos dentro de um contexto de relações vitais e mútuas e de comportamentos funcionais e decisivos para a subsistência individual e comunitária. Assim, a sociedade africana se vai alargando em círculos concêntricos gradualmente, justapostos e cada vez mais amplos, confiando nas famílias, como núcleo e células-base.
A participação vital como núcleo e guardiã da cultura, impõe ao africano uma vida comunitária e aclimar-se no grupo, participando da mesma corrente vital comunicada pelo sangue. Goza de uma comunidade muito ampla que lhe proporciona o prazer de viver sempre em família. Assim, os membros se tratam como parentes, chamam “pai” ao tio e “irmão” ao primo, mãe a tia. Sem se importarem com a proximidade do parentesco, as designações de pai, mãe e irmão vão-se alargando indefinidamente. As sociedades africanas, encontram pais e irmãos nos lugares mais afastados.
Nesse sentido, entende-se que a família não é apenas uma instituição de origem biológica, mas, sobretudo, um organismo com nítidos caracteres culturais e sociais.
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