Entende-se por estudos sócio-biológicos, o estudo do comportamento social dos animais, usando conceitos da etologia, evolução, sociologia e genética de populações.
Estes estudos são desenvolvidos numa ciência biológica denominada Sociobiologia. O termo Sociobiologia foi popularizado por Edward Osborne Wilson, no seu livro Sociobiologia: A Nova Síntese, lançado em 1975.
A Sociobiologia tenta encontrar uma explicação das sociedades, isto é, para explicar as instituições sociais (casamentos, guerras, religião, etc.) como se fossem produto de um condicionamento genético ou do processo adaptativo de certa população, usando conhecimentos da biologia e da antropologia cultural.
Essa disciplina científica propõe que comportamentos e sentimentos animais, também existentes nos seres humanos, como o altruísmo e a agressividade, são em parte derivados da genética, e não são apenas culturais ou socialmente adquiridos.
Como o Homem é também considerado um animal, este não está isento de ser um objecto de estudo da sociobiologia, pois, conforme defendido pela psicologia evolutiva, o cérebro dos humanos também sofreu pressões selectivas específicas, que o adaptaram a determinadas circunstâncias. Antes mesmo da vida em grandes sociedades, o homem precisava interagir e comunicar-se.
A Sociobiologia se apoia em alguns conceitos que formam a base dessa ciência. Em primeiro lugar a evolução centrada no gene é importante para se identificar as vantagens e desvantagens evolutivas de um determinado comportamento social. Este conceito é assunto central do livro de Richard Dawkins “O Gene Egoísta” de 1976.
Outro conceito importante para os estudos sócio biológicos é a Selecção de Parentesco, especialmente útil para o entendimento de actos altruísticos entre indivíduos aparentados.
Os estudos sócio biológicos não propõem o determinismo de qualquer forma. A influência da cultura é diminuída, mas não eliminada. A cultura e os genes não devem ser vistos como factores antagónicos no comportamento, mas como factores que interagem, a cultura sendo um factor ambiental que afecta a maneira como serão expressos os genes que tenham relação com o comportamento.
Por tanto esta área trata do entendimento do comportamento social dos animais, quer dizer, como os animais sociais são, ou seja, apresentam vida organizada em sociedades.
Sociobiologia Humana
Sabe-se que a sociobiologia trata do entendimento do comportamento social dos animais. Como são os animais sociais, ou seja apresentam vida organizada em sociedades, os seres humanos são objecto de estudo da Sociobiologia.
Para alguns autores os seres humanos apresentam um factor que os torna diferentes da maioria dos animais sociais – a cultura – capaz de promover transformações na forma como os humanos interagem com seu ambiente abiótico e biótico, independente de sua herança genética. Assim, é importante lembrar que para os Sociobiologias, o comportamento é fenótipo, isto é, é um produto que resulta da interacção dos genes com o ambiente.
Os Sociobiologias não têm um consenso sobre o papel da Sociobiologia Humana, pois alguns defendem a pertinência da analogia do comportamento dos chimpanzés com seres humanos, uma vez que 99,5% da história evolutiva dos seres humanos foram compartilhados com os chimpanzés.
Aspectos dos estudos sociobiológicos
Estudo do comportamento social encontrado em várias espécies do mundo animal, incluindo invertebrados como por exemplo, formigas, abelhas vertebrados como certos macacos e os homens.
Estudo da cultura como algo que identifica cada sociedade.
Sociedade
Em um ecossistema, os seres vivos relacionam-se com o ambiente físico e também entre si, formando o que chamamos de relações ecológicas.
As relações ecológicas ocorrem dentro da mesma população, quer dizer, entre indivíduos da mesma espécie), ou entre populações diferentes. Essas relações estabelecem-se na busca do alimento, água, espaço, abrigo, luz ou parceiros reprodução.
Existem animais que vivem de forma solidária, mas a maior parte precisa no mínimo de um parceiro da mesma espécie para a sua sobrevivência formando um agrupamento designada sociedade.
Uma sociedade é o conjunto de indivíduos que compartilham propósitos, gostos, preocupações e costumes, e que interagem entre si constituindo uma comunidade.
Por outras palavras, o mesmo autor admite que a sociedade é uma relação ecológica harmónica intra-específica. Na maioria das espécies de sociais, esta forma de organização é altamente concisa, havendo divisão de actividades entre os organismos que possuem diferenciações anatómicas de acordo com a função que realizam.
Uma sociedade depende de um comportamento mútuo, quer dizer, um agrupamento requer alguma adaptação de comportamento que assegure a coesão entre os indivíduos do grupo, e que, esta coesão depende de alguns padrões comportamentais especiais e semelhantes encontrados nos animais sociais.
Numa sociedade o grupo de indivíduos, forma um sistema semi-aberto, no qual a maior parte das interacções é feita com outros indivíduos pertencentes ao mesmo grupo.
Uma sociedade é uma rede de relacionamentos entre indivíduos. Uma sociedade é uma comunidade interdependente. O significado geral de sociedade refere-se simplesmente a um grupo de indivíduos vivendo juntos numa comunidade organizada.
Para além das sociedades humanas existem sociedade de animais inferiores, onde a seguir se descreverá a sociedade dos insectos destacando as abelhas.
Sociedades dos insectos
Alguns insectos podem estabelecer sociedades que são grupos de organismos de uma mesma espécie que cooperam entre si, dividem os trabalhos e se comunicam.
A maioria das sociedades dos insectos como abelhas, formigas compõe-se de poças fêmeas ou mesmo uma fêmea reprodutiva com grande número de descendentes. Geralmente numa sociedade destes seres existe uma rainha.
Por exemplo nas colmeias das abelhas (Apis millifera) podem-se encontrar uma clara divisão de tarefas. Existem três grupos sociais: A rainha, o zangão e as operárias.
A rainha é uma fêmea que recebe alimentação diferenciada das outras larvas durante o seu desenvolvimento e por isso é fértil. Sua função é a reprodução, originando novos indivíduos para a colmeia.
As operárias são fêmeas inférteis e tem várias funções. Durante a fase larval, as abelhas destinadas a serem operárias são alimentadas com mel e pólen. A larva destinada a ser rainha é alimentada com geléia real, que é a secreção glandular das operárias.
As operárias trabalham na produção dos favos e do mel, limpam e guardam a colónia e buscam néctar e pólen nas flores, etc.
A rainha se acasala com vários zângãos quando atinge a idade reprodutiva. Só pode haver uma rainha por colmeia e quando duas se encontram, lutam até a morte de uma. Quando as jovens rainhas estão prestes a nascer, a rainha mata-as.
A rainha produz feromonas que mantém seu status na colónia, inibindo o desenvolvimento de ovários nas operárias. Ela pode produzir 2 tipos de ovos. Os ovos fecundados são diplóides e dão origem as fêmeas e de acordo com o modo de alimentação podem originar rainhas ou operárias.
Os machos são provenientes de óvulo não fecundados, portanto são haplóides. Esse processo chama-se partenogénese, possuem cromossomas maternos. Estes morrem logo após a cópula. As feromonas e os odores característicos são importantes na manutenção e reconhecimento mútuo entre insectos da mesma sociedade.
Sociedade das formigas
As formigas são animais pertencentes à família Formicidade, o grupo mais numeroso entre os insectos. São seres particularmente interessantes porque formam níveis avançados de sociedade, ou seja eu socialidade.
Embora nem todas as espécies de formigas construam formigueiros, muitas fazem autênticas obras de engenharia, normalmente subterrâneas, com um complexo sistema de túneis e câmaras com funções especiais – para o armazenamento de alimentos, para a rainha, o “berçário”, onde são tratadas as larvas.
As sociedades das formigas são organizadas por divisão de tarefas, muitas vezes chamados castas. As tarefas podem ser distribuídas pelo tamanho e ou pela idade do indivíduo. A função de reprodução é realizada pela rainha e pelos machos, em voo nupcial e após a fecundação da rainha, perde as asas e durante a sua toda vida, põe ovos.
A procura de alimento, construção e manutenção do formigueiro e sua defesa, são realizadas por fêmeas (que não possuem asas, para maior mobilidade no formigueiro). Existem outras funções como a de operário, as quais tomam conta da cria (ovos, larvas e pupas), fazem a limpeza do formigueiro e colectam o alimento. Já as formigas soldadas, guardam a entrada do formigueiro sem descanso.
Comportamento das formigas
As formigas comunicam-se geralmente por substâncias químicas chamadas feromonas, esses sinais de mensagem são mais desenvolvidos na espécie das formigas que em outros grupos humenópteros. Quando uma obreira encontra um alimento, ela deixa um rastro no caminho de volta para a colmeia, e esse é seguido por outras formigas que reforçam o rastro quando elas voltam à colmeia. Quando o alimento acaba, as trilhas não são remarcadas pelas formigas que voltam e o cheiro dissipa.
Esse comportamento ajuda as formigas a se adaptarem à mudanças em seu meio. Quando um caminho estabelecido para uma fonte de alimento é bloqueado por um obstáculo, as obreiras o deixam para explorar novas rotas, se bem-sucedida, a formiga retorna e deixa um rastro para a rota mais curta.
A casa é sempre localizada por pontos de referência deixados na área e pela posição do sol; os olhos compostos das formigas têm células especializadas que detectam luz polarizada usados para determinar a direcção.
As formigas geralmente atacam e defendem-se ferroando, por vezes injectando compostos químicos no animal atacado, em especial, o ácido fórmico.
Portanto, uma sociedade é composta por um grupo de indivíduos da mesma espécie que vivem juntos de forma permanente e cooperando entre si.
Sociedades dos vertebrados
Entre os mamíferos também encontram-se vários exemplos de sociedades como os gorilas, babuínos e a espécie humana. Neste, a divisão do trabalho não é tão rigorosa quanto as abelhas, mas também há várias formas de cooperação
Os estudos biossociais nos vertebrados intervêm nas relações de parentesco, formação de casais e nas relações entre parceiros.
As relações entre os adultos expressam-se sob forma de hierarquias e dominância, onde de forma frequente cabe ao macho dominante a escolha da fêmea.
Nos pássaros a dominância baseia-se na experiencia e o reconhecimento dos indivíduos, sobre tudo da mesma espécie.
Aves
A comunicação das aves é feita através de cantos magníficos e extraordinários padrões de cor, torna tudo possível, seja afastar predadores e intimidar rivais ou impressionar possíveis parceiros para acasalamento.
Poses extraordinárias e espectaculares e bizarros rituais de acasalamento representam um papel vital na função de atrair, e manter um parceiro.
As aves geralmente apresentam comportamentos diferenciados, que podem serem vistos através das manifestações corporais como: esticar a asa que pode ser um sinal de ameaça ao seu rival; enfiar a cabeça nas asas, posição para dormir, expressão de grande comodidade e confiança, mas também pode ser sinal de doença.
Nos primatas, o macho dominante do grupo geralmente é o maior e o mais forte e sua posição é determinada pela sua capacidade de lutar e vencer os seus opositores.
Ao falar de sociedades, é comum encontrar conceitos como colónia que é um grupo de organismos da mesma espécie que formam entidades diferentes dos organismos individuais. Por vezes, alguns destes indivíduos especializam-se em determinadas funções necessárias à colónia. Um recife de coral, por exemplo, é construído por milhares de pequenos animais (pólipos) que secretam à sua volta um esqueleto rígido.
As abelhas e formigas, por outro lado, diferenciam-se em rainha, zangão com funções reprodutivas e obreiras (ou operárias) com outras funções, mas cada indivíduo pode sobreviver separadamente. Por isso, estas espécies são chamadas eusociais, ou seja, formam sociedade e não colónia.
Cultura
A palavra cultura é uma das que mais comporta maiores significados e sentidos. Sua amplitude pode ser observada em sua etimologia, onde, por um lado, há uma perspectiva de dominação quando se observa a origem comum com a palavra colonização e, ao mesmo tempo, guarda um carácter transcendente ao vir da mesma raiz da palavra culto. Por outro lado, engloba a noção da civilização além de também poder ser contemplada vários aspectos da intervenção humana no quotidiano.
Etimologia
Do Latim COLERE (colo, -is, -ere, colui, cltum) = cultivar, cuidar.
Expressa a relação activa e estável a um lugar:
Agri-cola = cultivador da terra;
In-cola = morador
Clonus = que cultiva;
Colónia = o local cultivado
a: colere terram, é o primeiro sentido de cultura:agricultura = cuidar a terra
b: colere deos loci: cultus derum = cuidar dos deuses da terra
A primeira definição abrangente aceita pela antropologia e até hoje considerada, foi dada por Edward Taylor em 1871, considerado pai da antropologia moderna, ao definir o termo cultura como conjunto complexo que inclui conhecimentos, crenças, arte, mora, leis, costumes e várias outras aptidões e hábitos adquiridos pelo homem como membro de uma sociedade.
A cultura é considerada por vários autores como algo específico da humanidade, afirmando que por mais perfeito que os animais façam, o ninho…A diferença está na consciência que está presente no acto humano. Este facto é actualmente contestado por diversos cientistas da actualidade, sobre tudo os Sócio-Biologos, isto porque afirma-se que a cultua decorre numa sociedade e ao mesmo tempo não há sociedade sem cultura.
É possível, na opinião de alguns cientistas, identificar uma espécie de cultura em alguns animais superiores, especialmente mamíferos e dentro destes, especialmente primatas. Relatos actuais de investigações dizem que os chimpanzés possuem um rico repertório de ferramentas (clavas, perfuradores, etc.).
A técnica de produção de ferramentas, além de sua forma de uso, é ensinada de geração em geração entre os chimpanzés. Algo semelhante ocorre com alguns primatas. A existência da produção de cultura material e transmissão desta cultura socialmente é, dentro de algumas concepções de cultura, suficiente para afirmar que primatas possuem cultura.
No entanto, percebem-se diferenças na forma como a cultura existe entre os primatas. É consenso entre os antropólogos que caracterizar culturas entre “superiores” e “inferiores” é uma impropriedade científica, já que não existem critérios objectivos para realizar esta diferenciação.
Portanto, a diferença entre a cultura humana e a cultura dos primatas deve ser entendida em outros termos. A grande diferença, do ponto de vista dos sócio-biólogos, entre essas duas manifestações culturais, é que entre os primatas não ocorre o chamado efeito de somatório e inovações tecnológicas para produzir produtos tecnologicamente mais complexos.
O processo de difusão da cultura entre primatas ainda está sendo estudado. Além da produção de ferramentas, os chimpanzés apresentam comportamentos diferentes conforme as sociedades estudadas.
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Bibliografia
GOMES, Castro Mário. Estudo da Sociobiologia. Acessado em www.comciencia.br/comciencia/hand.GONSALVES, Stefano Lima. Sociedade de Abelhas, commons.wikimedia.org/wiki/Userabelha;LOPEZ, Samuel Nuno Maria. Os Animais tem ou não tem Cultura um Debate em Aberto. Acessado em Www.mundoeducacao.com.br/biologia/sociedade-das-abelhas.htm;MOUTINHO, Sociedade e Cultura. Acessado em www.mundoeducacao.com.br/biologia/insetos-sociais.htm;RUSE, Michel. Soiobiologia:Senso ou Contra-senso? Belo horizonte: itatiaia; S.P; Ed. Da USP, 1983;
WILSON, Edward O. Sociology:The New Synthesis. Cambrige:Belkanap, 1975.