A definição de Tylor incide nesta ideia fundamental, a cultura não é adquirida através da herança biológica, porém é adquirida pela aprendizagem (consciente e inconsciente) numa sociedade concreta com uma tradição cultural específica. O processo através do qual as crianças aprendem a sua cultura é denominado inculturação. A inculturação é um processo de interiorização dos costumes do grupo, até o ponto de fazer estes como próprios. Este processo é fundamental para a sobrevivência dos grupos humanos, assim por exemplo os esquimos tem de aprender a proteger-se do frio. O processo de inculturação produz-se fisicamente (gestos, formas de estar, de comer…), afectiva e sentimentalmente (por causa da acção de reforço ou repressão da nossa cultura) e também intelectualmente (esquemas mentais de percepção do mundo). Os agentes de inculturação são a família, as amizades, a escola, os media, os grupos de associação, etc., eles têm como missão introduzir o indivíduo na sua sociedade através da aprendizagem da cultura.
Segundo Margaret Mead (2001), os tipos de aprendizagem das culturas podem classificar-se em:
- Culturas pós-figurativas: Aquelas nas quais os filhos aprendem com os pais e o futuro dos filhos é o pasado dos pais.
- Culturas pré-figurativas: Aquelas nas quais os adultos aprendem com os filhos e os mais novos.
- Culturas co-figurativas: Aquelas nas quais todos aprendem com todos.
Alguns animais (i.e.: primates) também têm alguma capacidade de aprendizagem, incluso para distinguir plantas, mas a diferença dos humanos, os animais não podem transmitir culturalmente a informação cultural acumulada, nem podem registar (ex.: escritura,…) codificadamente a informação cultural.
A cultura é informação herdada através da aprendizagem social, portanto diferente da natura (herdada geneticamente) e com uma especificidade baseada no cérebro que é a linguagem. A linguagem permite aos humanos articular, transmitir e acumular informação aprendida como nenhuma outra espécie pode fazer.
Em relação com esta característica da noção de cultura, o antropólogo Clifford Geertz (1987) define a cultura como ideias baseadas na aprendizagem cultural de símbolos. A gente converte em seu um sistema previamente estabelecido de significados e de símbolos que utilizam para definir o seu mundo, expressar os seus sentimentos e fazer os seus juízos. Este sistema guia o seu comportamento e as suas percepções ao longo da sua vida. A cultura transmite-se através da observação, da imitação, da escuta, etc.; nesse processo de aprendizagem fazemos consciência do que a nossa cultura define como bom e mau (princípios morais). Mas a cultura também se aprende de maneira inconsciente, é o caso das noções culturais a manter com as pessoas quando falam entre si, a distância da conversa e a linguagem não-verbal. Por exemplo, os latinos mantêm menos distância nas conversas pela sua tradição cultural. Neste sentido, para Clifford Geertz (1987) a cultura é:
- Uma fonte ou programa extrasomático de informação.
- Um mecanismo de controlo extragenético.
- Um sistema de significados.
- Um “ethos”.
- Um conjunto de símbolos que veiculam a cultura.
- Um conjunto de textos que dizem algo sobre algo (interpretações de interpretações).
No sentido gertziano a cultura é um conjunto de “modelos de” representação do mundo e da realidade, mas também um conjunto de “modelos para” actuar no mundo (padrões, guias para a acção, o que está bem e o que está mau). Clifford Geertz é muito ontológico e pouco fenomenológico, esquece que as formas culturais não são só pautas de significado, senão que estão inseridas em relações de poder e conflitos.
Segundo o antropólogo Carmelo Lisón Tolosana, podemos entender o ethos (Weltanschauung) como o sistemas de valores e normas morais, aquilo que a gente pensa que deve ser, os estilos e modos de vida aprovados em um grupo humano, os hábitos emotivos, as atitudes, tendências, preferências e fins que conferem unidade e sentido à vida, os aspectos morais, religiosos e estéticos do grupo.
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