O ritual é uma formação social que estabelece, reitera, reforça laços e ligações sociais, resolve conflitos, regula tempos e espaços. O ritual é uma espécie da promessa da comunidade
Rito designa um conjunto de actos repetitivos e codificados por vezes solenes, de ordem verbal, gestual ou postura, com forte carga simbólica fundada sobre a crença na força actuante de seres ou de poderes sagrados com os quais o homem tenta comunicar, visando obter um determinado proveito
Processo ritual
São várias as ciências que se dedicam ao estudo dos símbolos. Actualmente a investigação simbólica mostra uma linha ascendente nomeadamente nas áreas de psicologia profunda, psicanálise, da ciência das religiões, da antropologia cultural, da sociologia e informática, entre outras. Deve-se captar o sentido das acções simbólicas através da antropologia, tendo em conta as estruturas de percepção e da comunicação interior e exterior, onde a fundação da corporeidade é indispensável.
Ao estudar uma cultura é impossível não nos referir-mos a função e simbolismo de determinados objectivos e instituições. O estudioso Lévi-Strauss, afirma que o homem vive entre dois espaços, dois mundos que se completam:
- O mundo do referente, isto é, o espaço exterior;
- O mundo simbólico ou espaço imagético.
- Lima de Levi Strauss, diz que aprendemos a ler e escutar esse mundo específico:
- Ler pois esse mundo tem um discurso que lhe é próprio e que é necessário descodificar e traduzir para poder compreender;
- Escutar, pois os símbolos formam entre si sistemas que ‘’falam’’e na sua interelacção transmite mensagens que, são necessárias prestar-lhes a devida atenção para as captar.
Nesta linha de pensamento é fácil compreendera afirmação do francês Ernest Cassierer, que afirma ‘’o símbolo é uma chave para a compreensão da cultura dos homens’’. O problema do simbólico toca a cultura e a sociedade em toda a sua globalidade. Toda a cultura pode ser considerada como ‘’um conjunto de sistemas simbólicos’’e constitui, de facto, um conjunto de comunicações. Mas nem tudo na cultura é simbólico.
Muitos estudiosos consideram o homem como ‘’animal simbólico’’. Neste sentido não só a linguagem verbal, mas também os ritos, as instituições culturais, as relações, os costumes etc. não são mais do que formas simbólicas. Se reflectirmos sobre o estudo da cultura, chegaremos a conclusão de que, ao tentar formular a cultura, faz se por intermédio de uma linguagem que é eminentemente simbólica. De facto, a nossa linguagem falada situa-se no sistema linguístico, sistemas cultural em que o símbolo e o simbólico são donos da casa e His pedes ao mesmo tempo. Qualquer interpretação antropólogo vai sempre carregada de espetos simbólicos, o que significa que são predominantemente do domínio da mente.
Dinâmica do processo ritual
O símbolo não existe na natureza, ele é criação do homem, exige participação e distanciamento, ao mesmo tempo, trás consigo surpresas e imprevistos no seu reaparecer constante, pelo exclui a atitude de simples espectador, desencadeia sempre emoções novas (toca a emotividade), possui eficácia dentro da comunicação ritual em que age, estabelece relação entre dois mundos aparentemente opostos; possui um significado e um significante. Mas sempre no rito que devemos considerar o símbolo.
O rito elabora as diferentes passagens da vida e supera as tensões traumáticas de cada uma delas. O rito guia-conduz-processo (a passagem) de uma fase do ciclo vital à outra; é o intermediário ou elo de união entre as várias fases da vida.
Os ritos são muito e variáveis, variam em relação a mediação estrutural, a função colectiva e a função individual, segundo os próprios contextos culturais. A complexidade e o dinamismo rumo a unidade a harmonia são características do sistema ritual.
E o próprio símbolo tem uma estrutura e uma função dinâmica. É necessário situar o símbolo no tríplice contexto: cultural, operativo e ritual.
Comportamento técnico
Trata-se do comportamento que tende a certos fins bem determinados e que, julgado pelos novos critérios de avaliação, produz resultados de um modo estreitamente mecânico. É o comportamento normal entre as pessoas, sem necessidades de mais interpretações para o compreender.
Comportamento comunicativo
É o comportamento que faz parte de um sistema de sinais e funciona para comunicar entre os membros de uma sociedade, transmitido através de um código de comunicação culturalmente definido. Quem não conhecer o código não está em condições de receber e compreender a comunicação. Exemplo código de uma determinada língua.
Comportamento ritual
Trata-se do comportamento que é potente em si mesmo no termos da cultura dos agentes.
Este comportamento é dirigido á evocação dos valores mais íntimos do mundo espiritual, das experiências místicas. Sem uma séria iniciação no conhecimento dos códigos interpretativos é impossível compreender as suas mensagens e atingir os seus significados.
Significado no contexto
Em todo o processo ritual o que o observador deve procurar são os significados do rito que se realizam e a compreensão de todo o processo.
O que não acontece com o comportamento ritual, pois neste está tudo em linguagem cifrada que é necessário decifrar, para poder captar o significado.
É necessário analisar o contexto global da cultura, isto é, conhecer a cultura a que pertence o rito e os factores fundamentais (geográfico, sociais, políticos, religiosos históricos) -deverão analisar-se os elementos que constituem o rito, decifrar tudo o que estiver codificado para tornar compreensiva a sua linguagem, e considerar a sua relação com os restantes ritos da cultura a que pertence.
Em terceiro lugar, se deve viver o rito, participando na sua celebração para captar e partilhar os sentimentos próprios.
Uma coisa é a análise detalhada de um rito, isto é, o conhecimento teórico de um rito, outra coisa muito diferente é a própria participação na celebração de um rito, a vivência de um rito.
Aspectos de um rito
Aspecto instrumental, trata-se daquelas partes do rito que significam aquilo que a primeira vista e na linguagem comum indicam, tudo o que se usa no rito e as acções não simbólicas. Exemplo, o uso de uma mesa para pôr os objectos do culto ou de assentos para sentar-se, de uma luz para poder iluminar o local. Nem tudo o que se usa no rito tem valor simbólico.
Aspecto expressivo trata se das acções próprias do rito que tem como finalidade última a expressão dos mais variados sentimentos (alegria, tristeza, louvar, agradecimento, arrependimento, misericórdia humor), sem outras intenções ou interesses.
Estrutura do rito
O rito tem uma estrutura complexa na qual podemos distinguir várias partes dos mesmos.
- Uma componente simbólica composta de coisas que se usam no rito (os objectivos para a realização do rito, o material para as ofertas o vestuário litúrgico, e outros utensílios), as coisas que se dizem no rito (os textos escritos ou orais as fórmulas, as orações, as inovações e outras expressões), e as coisas representadas no rito (as acções, o gesto e as cerimónias em geral).
- Uma outra componente que podemos chamar de papeis ou funções, onde cada um dos agentes do rito participa segundo o seu Status com determinadas funções que lhes são próprias.
- Estrutura télica que contém os objectivos do rito, pois cada rito é realizado com uma determinada finalidade.
Níveis de significado de rito
O significado de um rito encontra se a três níveis ou planos diferentes
Manifesto: há um significado claro, que se manifesta ao observador e ao próprio sujeito do rito na primeira abordagem.
O sujeito do rito é plenamente consciente dos significados dos ritos que faz.
Latente: há significados que exigem uma particular atenção para os detectar. Neste caso, os significados são apenas marginalmente conscientes, mas podem tornar se plenamente conscientes através de uma acção reflexiva mais atenta.
Escondido: a um nível mais profundo estão os significados do rito que são ignorados pela maioria dos agentes do rito.
Modalidades de análise do rito
São três momentos de análise do rito
- Local: o significado local atribuído ao ritos em geral e a determinado rito em particular.
- Posicional: significado do rito segundo o lugar que ocupa em relação a totalidade dos elementos culturais e de todas as instalações da sociedade.
- Operacional: o significado considerado no contexto cerimonial do mesmo rito na sua celebração.
Ritos dentro dos processos socais
Estrutura | Antiestrutura |
Insuficiência da história | “Comunistas” situação da relação sociologicamente definidas. |
Constante interna | |
Sistematização das instituições |
“Liminariedades” Fase intermediárias entre duas estruturas sucessivas. |
Interacções das instituições | |
Aspectos sociais mais estáveis | |
Nexo externo | |
Relação com a antiestrutura |
Classificação dos ritos
Podemos classificar os ritos em três grupos:
Ritos de aflição – restabelecer;
São ritos que se realizam com motivo de um acontecimento que produziu crise no indivíduo e /ou no próprio grupo. Com estes ritos procura se restabelecer o Status que anterior. São ritos de cura de doenças, de reconciliação entre desavindos, de reconciliação em tempos de guerra e de harmonia social.
Ritos de passagem; transitar
O indivíduo ou grupo de indivíduos que entra nestes ritos fá-lo para passar a um estado superior exemplo ritos de iniciação na puberdade, o matrimónio, a entronização do rei, os ritos funerários.
Ritos de protecção – defender.
São ritos que acompanham diversos acontecimentos da vida e realizam se com finalidade de obter boa sorte, alcançar protecção nas diversas circunstâncias da vida e obter o bem-estar físico e emocionar e defender se dos perigos e inclemências. São os ritos que se realizam com motivo da caça, de uma viagem, na inauguração de uma aldeia ou residência e outras situações semelhantes.
Os ritos para outros acontecimentos da vida.
Em qualquer classe de ritos, dão se sempre os três passos ou fases fundamentais: separação, transição e incorporação
Ordem
No Cristianismo a iniciação é universal a todo o crente que confessa ser Jesus Cristo seu senhor e salvador que por sua vez irá lhe redimir de todos os seus pecados conhecidos e desconhecidos, e por norma é praticada ainda na infância na Igreja Católica. O ritual iniciático cristão consagra-se no Baptismo e confirma-se na cerimónia de crisma
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