O estatuto epistemológico das ciências humanas e sociais – As Ciências Sociais aparecem, enquanto exercício profissional, no sec. XIX. Este aparecimento não se dá por acaso, uma vez que é nessa altura que se consolida a sociedade burguesa e a modernidade e que aparecem novos problemas na relação entre o indivíduo e o grupo.
As Ciências Sociais e Humanas têm em comum a relação entre sujeito (humano) e objecto (humanos) de estudo, o que implica falar de um estatuto epistemológico próprio, diferente do das ciências naturais. Esta postura não se encontra, porém, isenta de um forte debate científico que remonta à origem das ciências humanas e sociais.
Antropologia |
Conteúdos Psicologia |
A realidade social assenta numa realidade psicológica e biológica –bioquímica-.
O humano não se reduz só ao psicológico (ex.: atracção sexual entre duas pessoas). Experiencialismo. Estuda como o cultural e o social modelam o psicológico e vice-versa. “Facto social total” (Marcel Mauss). A antropologia pratica uma integridade na análise sociocultural. O biológico é um aspecto humano com sentido, que actua, através da cultura na sociedade. “Choque cultural”. |
Identifica os traços psicológicos do indivíduo e explica os processos e mecanismos psíquicos intraorgânicos.
Conceitos: impulso, repressão, reflexos, condicionamentos, ego, personalidade, motivação… Método: experiências de laboratório, testes psicométricos, … A psicologia experimental tenta determinar as bases psicológicas da conduta individual. Tenta descobrir um humano abstracto existente em todas as culturas. PSICOLOGIA SOCIAL: estuda como o psicológico modela o social. |
A Antropologia e a Sociologia
Anedota: Um antropólogo é capturado por uma tribo de canibais que o colocam numa panela gigante juntamente com batatas, sal, legumes… Pouco depois, o antropólogo grita: “Mais batatas, mais legumes…” (O antropólogo tinha começado a comer tudo) |
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Nasceu como uma espécie de “sociologia dos outros” e dos “primitivos”.
Inicialmente pensada como uma microsociologia e uma sociologia comparada (Radcliffe-Brown). Tem uma epistemologia própria. Os “outros” foram incorporados no “nós” e o objecto de estudo entrou em crise, diversificando-se. A antropologia não é uma parte da sociologia: pensar desta forma seria uma ingenuidade. Os factos, estudados pelos antropólogos, não podem ser exclusivamente considerados sob uma perspectiva social. Ex.: a religião não cumpre, apenas, funções sociais: o problema não se esgota aí. Objecto de estudo: Estuda a cultura humana e a forma como esta é vivenciada, em sociedade. Estuda culturas e etnias, dentro da sociedade. Estuda culturas diferentes. Métodos: observação participante; entrevistas em profundidade; comparação – histórica e diversidade cultural; compreensão holística, para desvendar aspectos essenciais da vida humana muitas vezes inconscientes. Estudos mais micro. Teorias e conceitos diferentes. Ex.: relativismo cultural, etnocentrismo,… Conhecimento dos outros e de nós mesmos. Finalidade: descobrir a natureza humana. Mais histórica. Deixa falar as pessoas, escuta-as e dá-lhes voz. Implica um modo de estar com as pessoas. Tem em conta as teorias nativas. |
-Sociologia de “nós” e do nosso.
-Os factos sociais explicam-se em função de outros factos sociais (Durkheim). Objecto de estudo: O comportamento social de um grupo humano, de acordo com as variáveis: idade, sexo, profissão, classe, prestígio, papel, mudança,… A sociedade em si mesma. A sociedade em geral e as suas leis gerais. A sua própria sociedade. -Conceitos: estrutura social, relações sociais… -Métodos: inquéritos, entrevistas… (recorre mais aos métodos quantitativos do que a antropologia) (utiliza com maior frequência a observação exterior e os estudos macro). Mais ahistórica e presentista. -Muitos empréstimos conceptuais e teóricos à antropologia e vice-versa. Fala das pessoas em seu nome. |
Antropologia | Sociologia |
Interesse pelo qualitativo | Mais interesse pela medição quantitativa. |
Observação participante de práticas declaradas e práticas efectivas | Método típico do inquérito estatístico, por questionário fechado. Técnica da objectividade oficial, comprovativa da separação entre sujeito e objecto. |
A Antropologia e o Direito
Antropologia e Direito |
Os primeiros antropólogos eram advogados.
B. Malinowski: Crime e Costume na Sociedade Selvagem. Esta obra é dedicada à lei. Paul Bohanan: Tiv (Nigéria). É outra obra sobre a criação de leis na cultura tivs. |
A Antropologia e a Geografia
Antropologia e Geografia |
As semelhanças entre estas duas disciplinas foram evidentes, desde Franz Boas, nomeadamente desde a publicação da sua teoria do “determinismo geográfico” (inspirada em Ratzel) e do determinismo geográfico-climático. Boas aplicou esta teoria nos seus estudos sobre os esquimós do Canadá.
As semelhanças destas duas ciências passam também pelo uso e criação de mapas, como representação do espaço e do território. Os mapas e os relatórios geográficos são apoios logísticos fundamentais na investigação antropológica. Conceptualmente, são importantes os paralelismos entre “área cultural” (Cf. Brown: 2001) e o conceito geográfico de “região”, mas também o de “fronteira”. Este último conceito foi utilizado, pela primeira vez em antropologia, por Clark Wissler, em 1918, no seu estudo sobre a fronteira entre os colonos e os indígenas dos EUA. Em termos teóricos, as influências entre estas disciplinas foram mútuas, desde há muito tempo. Por exemplo, a teoria do lugar central do geógrafo Walter Christaller influenciou a antropologia. Em antropologia, a preocupação por uma análise do espaço está bem representada pelo antropólogo E.T. Hall que estudou a forma como as pessoas utilizam culturalmente o espaço. As geografias pós-modernas, como por exemplo os trabalhos de Eduardo Soja, incidem muito na antropologia urbana. Apesar das semelhanças, também existem diferenças conceptuais, teóricas e metodológicas. O trabalho de campo antropológico é específico da antropologia. A geografia tende a realizar, sobre o terreno, uma observação mais exterior dos fenómenos sociais. |
A Antropologia e a História
Antropologia e História |
Os antropólogos evolucionistas e difusionistas (século XIX) fizeram uma história especulativa e conjectural.
Os antropólogos funcionalistas tenderam a excluir a história e aproximaram-se da sociologia. A antropologia marxista recuperou a história. Metodologicamente, há muitas aproximações: trabalho de campo antropológico e história oral. Actualmente, os antropólogos também trabalham com documentação escrita. A Antropologia histórica trabalha com documentos e memórias orais. A História tende a dar maior importância aos documentos escritos. A antropologia tenta compreender as relações entre passado, presente e futuro, que podem convergir metaforicamente no presente. A história tende a reconstruir, eventualmente, o passado. A antropologia interpreta as representações do passado, as amnésias e os esquecimentos. |
A Antropologia e a Filosofia
Para alguns autores, a origem da antropologia encontra-se na filosofia grega. Os contributos da filosofia foram e são muito importantes para a antropologia. A filosofia contribuiu para a reflexão sobre as condições de produção do conhecimento antropológico, enquanto problema epistemológico. A filosofia deu azo à análise antropológica (por exemplo, a filosofia hermenêutica de Gadamer – 1992). A filosofia também chamou a atenção da antropologia para a forma como os seres humanos pensam e apreendem.
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