É claro que a agricultura, mais que a indústria, foi a base do poderio da região nordeste. Apesar do clima ríspido e caprichoso, a vasta (324 mil quilômetros quadrados) planície em volta de Pequim é uma área agrícola muito produtiva, equivalendo a 20% das terras cultiváveis da China. Por todo lado, trigais e simpáticos vilarejos recortam o horizonte.
A fertilidade da área, plana como uma mesa por centenas de quilômetros, deve-se a uma feliz combinação de ventos, solo e água. Esta chega através do rio Amarelo, que parece percorrer a história chinesa como uma dragão volúvel, ao mesmo tempo terno e malévolo. Mas o rio só alimenta os campos à custa do esforço humano concentrado na irrigação. Entre 1965 e 1975, as obras irrigatórias chinesas foram ampliadas em um terço; com isso, cerca de metade dos terrenos, agrícolas do país, passou a ser irrigada. Na região tritícola, a proporção é maior que a média: 80%.
O rio também ajuda a formação da camada superior do solo, que chega a ter 75 metros de espessura e é a mais fértil da China, originando-se das terras altas a oeste de Pequim. De lá vem um material poroso e amarelo-escuro denominado loess, erodido pelos ventos e soprado para o leste, enchendo os ares de poeira.
Por isso, em Pequim, na primavera, as pessoas costumam usar máscaras cirúrgicas na rua.
Boa parte desse sedimento eólico é carregado pelo rio; daí seu nome: é a maior concentração sedimentar do mundo. Nas últimas voltas de seu percurso de 4.632 quilômetros até o mar, o rio Amarelo despeja essa rica carga na planície do Norte da China. Mas o preço desse beneficio são sistemáticas e calamitosas enchentes. Nos últimos 3 mil anos, o Amarelo extravasou, mais de 1500 vezes, ceifando mais de 10 milhões de vidas. Não admira que seu outro nome seja “a amargura da China”.
Por mais de trinta séculos, o povo do norte da China lutou contra o Amarelo. Desde 400 a.C., o rio já corria “acima do chão”. Hoje, seu fundo está acima do nível do terreno adjacente: em certos pontos, sua superfície situa-se 5 metros acima do solo em volta, mantida no lugar por robustos taludes da altura de um celeiro, que cobrem o horizonte como um espigão de colinas. Essas elevações artificiais chegam a ter 30 metros de largura da base e 15 metros no topo, o suficiente para alojar uma rodovia de duas faixas e, em alguns trechos uma linha férrea.
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