O cristianismo afirma sua identidade como uma religião revelada. A Sagrada Escritura também fala sobre revelação de Deus através da criação, dos acontecimentos históricos, dos profetas, etc. mas é sobretudo através da pessoa de Jesus, o Filho de Deus em que se dá a plenitude da revelação.
Estudar a teologia de “Revelação é para o crente ter um entendimento mais claro sobre a revelação divina, que é o fundamento de sua fé.
Significado do termo “Revelação”
A Revelação é um dos aspectos fundamentais de toda religião teísta. O termo “revelação”, é um derivado do termo latino revelatio, uma tradução da palavra grega apocalypsis. Etimologicamente, tanto apocalipse quanto a revelação significam o acto de destapar, descobrir, expor ou manifestar algo escondido sob um véu. Quando o véu é removido, a realidade oculta é descoberta, revelada, exposta, manifestada. O que está escondido pode ser uma pessoa, uma coisa, um significado ou uma mensagem. Na experiência religiosa da revelação, a realidade oculta de Deus e a Sua vontade é manifestada. No entanto, o Mistério revelador nunca se torna totalmente transparente.
“Na linguagem comum, mesmo fora do contexto religioso, a revelação significa uma inesperada acção livre, pela qual uma pessoa confia seus pensamentos e sentimentos íntimos a outra, permitindo que esta entre no seu mundo pessoal. Na teologia, o termo geralmente denota a acção pela qual Deus comunica o conhecimento que tem de Si mesmo às criaturas fazendo com que estas participem do conhecimento de Deus. Tal comunicação é SUPERNATURAL, uma vez que transcende toda a capacidade humana de descobrir tais realidades através de seu próprio poder.
A fenomenologia da religião mostra que há uma variedade de graus e maneiras de revelação.
a) Em termos de graus, a revelação pode ser pública ou privada, individual ou comunitária, normativa ou opcional.
b) Em termos de maneiras, a revelação significa um pluralismo de teofanias, como aparições, visões, oráculos, profecias, inspirações, etc. A Revelação não termina com a comunicação de mensagens. Ele se move progressivamente para a revelação da própria pessoa de Deus, que é o dom de Deus para a humanidade. Esta é a ideia central da revelação no cristianismo.
O cristianismo identifica muitos tipos de revelação. Mas vê o ponto culminante da revelação de Deus na encarnação do Filho de Deus, no Seu ministério e sobretudo na Sua morte e ressurreição.
Há cinco características importantes da revelação, comuns em toda religião teísta:
a) Fonte sobrenatural de revelação: Deus.
b) Instrumento ou meio de revelação: sinais naturais (o sol, a escuridão, o fumo) os lugares ou tempos sagrados (lua nova, lua cheia), sonhos, visão e êxtases, textos de livros sagrados.
c) Conteúdo ou objecto de revelação: Didáctico, normativo ou instrutivo em relação à vontade e ao plano de Deus; revelando os requisitos da vida pessoal ou comunitária para se entrar em comunhão com Deus; ou em missão, envio para tarefas específicas.
d) Destinatários da revelação: pessoas com missão específica (sacerdotes, profetas, reis), ou pessoas comuns (discípulos de Jesus, os visionários das aparições marianas). Eles recebem uma missão ou mensagem destinada a indivíduos ou grupos, para um povo ou a humanidade inteira.
e) Efeito e consequência da revelação: quando recebida, a revelação traz mudanças radicais nos pontos de vista e de valores, transforma a identidade e motivações pessoais, comprometendo a pessoa a missões difíceis e ousadas.
Em todas as experiências reveladoras existem as dimensões activas e passivas. É dimensão activa na medida em que Deus faz uma auto-doação graciosa, chamando o Homem a um relacionamento dialógico íntimo com Ele. É dimensão passiva na medida em que a entrega graciosa e amorosa de Deus é acolhida com gratidão. Porém, no evento revelador, não só Deus pode estar activo. O Homem também pode ser activo na medida em que recebe o bem-estar de Deus com gratidão em liberdade e amor como sujeito livre e que responde com o mesmo amor e liberdade, fazendo uma auto-doação recíproca para Deus.
Revelação na sagrada escritura
Não encontramos na Sagrada Escritura a terminologia da revelação de forma sistemática. A Bíblia está mais interessada no facto da revelação do que na noção de revelação.
Quando a Sagrada Escritura fala de revelação, muitas vezes o que é evidenciado é Deus, o Criador revelando-se activamente aos seres humanos, seu poder e glória, em suma, é o Seu plano que é revelado.
Do ponto de vista do conteúdo da revelação divina é tanto instrutivo quanto normativo (Ex. 20: 20-23; Dt 4: 13). As revelações de Deus são feitas no contexto da demanda por confiança e obediência ao que é revelado. Em outras palavras, a revelação de Deus não nos vem como informação sem obrigação, mas como uma regra obrigatória de fé e conduta (Dt 29: 29).
A revelação tem dois pontos focais: O propósito de Deus de oferecer salvação e o Seu plano de intervenção na história humana para realizar esta salvação (Gênesis 6: 13-21; 17: 15-21; 15: 3-21; Ef. 3: 3-11); E a resposta do Homem a este propósito e plano (Gen.l2: 1ss; Ef. 1: 9ss). O resultado dessa oferta e resposta é a salvação (2 Tim. 3:15; 1 Cor10: 1 1; Rom 15: 4). Os seres humanos caídos precisam desta revelação para a sua salvação (Rom 2: 14).
Revelação venera testamentária
Nós quase não encontramos o nome “revelação” no Antigo Testamento. A forma comum em que o termo é encontrado é a “forma verbal” (cfr. Génesis 35: 7; Números 12: 6; 23: 4,16; Amós 7:1,4,7). Assim, a revelação é apresentada quando Deus se aproxima do Homem de maneira pessoal para entrar em relação pessoal com ele. Isto é expresso no Antigo Testamento como dando a conhecer o Seu nome a Israel (Êxodo 3: 11-15) e entrando em uma Aliança com ele {Gén. 17: 1ss; Ex. 19: 3-8). Ao mesmo tempo, Sua singularidade e Sua santidade, Sua majestade e liberdade permanecem intactas e supremas.
O Universo ou o cosmos é a primeira auto-expressão da bondade e do poder de Deus. (Revelação Cósmica). Portanto, a natureza é um meio privilegiado da revelação de Deus. O livro, de Génesis, mostra-nos o próprio Deus certificando que o cosmos é bom em todas as etapas da sua criação e, portanto, capaz de revelá-Lo. O salmo 19 proclama essa verdade em voz alta. Do mesmo modo, o Salmo 104 celebra a capacidade reveladora do cosmos. O livro da Sabedoria leva essa discussão um pouco mais profunda. Usando uma linguagem filosófica e a metodologia da analogia, diz que a grandeza e a beleza das criaturas fazem contemplar seu autor. A Revelação, no AT é também vista como privilégio de uma escolha única. Como sempre acontece, é Deus quem toma a iniciativa e se revela a um povo e faz deste o seu povo escolhido, através de alianças e promessas. O Deus da vida, querendo manifestar o seu plano de salvação para toda a humanidade (DV 14) escolhe para si um povo, o povo de Israel. Mas por que Israel? O Deuteronómio fundamenta: “Não é porque vós sois o mais numeroso entre todos os outros povos, pelo contrário, vós sóis o menor de todos os povos! Foi por amor a vós e para manter a promessa que jurei aos vossos antepassados” (Dt 7, 7-8).
Esta eleição e revelação ao povo de Israel trata-se, primeiramente, do “encontro de alguém com alguém, de alguém que fala de alguém que ouve e responde. Dirige-se Deus ao homem como um Senhor a seu servo, interpela-o, e o homem, que ouve a Deus, responde pela fé e pela obediência”.
A Revelação, assim como é apresentada no AT, tem como finalidade estabelecer relação de amizade entre Deus e o ser humano.
Através do povo eleito, nós ouvimos a declaração da auto-identidade deste gracioso Deus no livro de Êxodo: “[Eu sou] o SENHOR, o Senhor, um Deus misericordioso e compassivo, lento para a ira, abundante em amor e fidelidade, mantendo o amor até a milésima geração e perdoa a iniquidade e o pecado “(Ex 34: 6-7).
No AT Deus se revela como aquele que fala, e sua palavra cria (Gn 1-2), chama e elege (Gn 12), liberta e salva (Ex 3), faz aliança com o homem (Ex. 19). Em Moisés temos o ponto alto da Revelação veterotestamentária (Se revela o nome, liberta-se e salva-se o povo, guia-se e criam-se providências pelo deserto, estabelece-se a aliança).
Revelação neotestamentária
No Novo Testamento que é o cumprimento do Antigo Testamento, revelação consiste em divulgar o Reino de Deus aos discípulos de Cristo e através deles para o resto da humanidade (Mt 13: 10-11).
Este Reino é proclamado por Jesus de diversas formas. Os Evangelhos estão repletos de parábolas, milagres, discursos, enfim, sinais que demonstram que Jesus está a serviço do Reino de Deus e revelam que o mesmo está próximo (Mt 4,17), que já está entre nós, através da própria actividade realizada por Jesus (Mt 4,23; 9,35) e que pertence àqueles que o aceitam: sermão da montanha (Mt 5, 3-10). É nas Bem-aventuranças que Jesus proclama a verdade do Reino dos céus.
O único Deus do Antigo Testamento é revelado como o Deus Trino (Efésios 1: 3-14; Rom 8: 14-17. Este Deus fala à humanidade em, e através de Cristo (Heb 1: Iss). Jesus, por sua vida e ministério, revela esse Deus (João 1:18; 14: 7-11) Sua vida é a revelação perfeita de Deus (2 Cor 4: 4; Col 1:15; Heb 1, 3). A revelação do Novo Testamento é o desdobramento do plano de Deus através de Cristo (1 Cor 7-10; Col l. 19s). O efeito desta revelação é a comunhão das pessoas humanas com o Deus Trino e entre eles (1 João 1: 1-5). O estágio final desta revelação será realizado na Parusia quando Cristo se manifestar como o Senhor da nova terra e do novo céu (Ap 21 e 22).
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