Antes também conhecida por apologética, (que no confronto teológico entre diferentes religiões e heresias, defende a doutrina da confissão cristã em causa). Alguns estudiosos a chamam de “pré-teologia”. Esta posição teológica argumenta a racionalidade de várias verdades “fundamentais”: a existência de Deus, a revelação de Deus, o evento bíblico de Cristo. Às vezes essa teologia é chamada de “teologia fundacional”.
A fé vem do que é ouvido: uma introdução à teologia fundamental informa tanto o coração como a mente enquanto reúne a teologia dogmática e bíblica, a tradição, os ensinamentos dos padres da igreja e o magistério contemporâneo.
Teologia sistemática
A palavra “sistemática” se refere a algo que colocamos num sistema. Teologia sistemática é, então, a divisão da Teologia em sistemas que explicam suas várias áreas. A teologia sistemática, que engloba ramos como a teologia doutrinal, a teologia dogmática e a teologia filosófica, é o ramo da teologia cristã que reúne as informações extraídas da pesquisa teológica, organiza-as em áreas afins, explica as aparentes contradições e, com isso, fornece um grande sistema explicativo.
Podemos dizer que a Teologia fundamental e sistemática, constituem um conjunto que compreende uma série de disciplinas resultantes da elaboração teórica da Igreja durante mais de dois mil anos. A matéria-prima da Teologia Fundamental e Sistemática é o dado revelado, aprofundado, reinterpretado e enriquecido pela tradição viva, regulado pelo Magistério e celebrado pela Igreja. Suas disciplinas centrais são as seguintes: cristologia, eclesiologia, sacramentos, Trindade e antropologia teológica (criação, pecado, graça e salvação). Seu quadro ainda abarca tratados como a escatologia e a mariologia.
A Teologia Fundamental e Sistemática, em suma, procura tornar inteligível para o homem hodierno o património da vida e reflexão dos católicos. Ela cria uma linguagem que, fiel ao passado, abre a compreensão da fé às pessoas com os esquemas mentais de nossos dias.
Fases históricas da teologia fundamental e sistemática
A expressão Teologia Fundamental tem sua origem conceitual disciplinar a partir do século XX, após o Concílio Vaticano II, quando as primeiras obras teológicas utilizaram a nova nomenclatura de Teologia Fundamental para se reportar aos conteúdos essenciais da fé, aos elementos fundamentais e fundantes da Teologia cristã. Porém, no seu aspecto conteudista a Teologia Fundamental “nasceu da apologética clássica e de uma reflexão, feita por esta, sobre a necessidade de reformar-se, sob pena de desaparecer” na história (FISICHELLA, 1994, p. 949). Se por um lado a Teologia Fundamental nasce da apologética, por outro sua inspiração se assenta nas Sagradas Escrituras ou especificadamente na Primeira Epístola de Pedro (3,15), onde ele afirma: “santificai a Cristo, o Senhor, nos vossos corações, estando sempre prontos a dar razão da vossa esperança a todo aquele que vo-la pede”. É partindo dessas considerações que tratamos aqui sobre o percurso da Teologia Fundamental na história da Igreja, nos seus diversos períodos de documentos conciliares, assim como na realidade do mundo actual.
Os conteúdos que qualificam e especificam a Teologia Fundamental foram construídos e definidos ao longo do percurso histórico da Igreja-comunidade-crente, na sua caminhada com a sociedade e na sua relação com as diversas expressões religiosas e anti-religiosas, no seu confronto com diferentes correntes de pensamento que existiram em certos períodos históricos.
No século I, período em que o cristianismo germina e acontece a cisão com o Judaísmo, os elementos essenciais de fé cristã se inserem com força na cultura greco-helenista. Tais elementos primários e originários da Teologia dos primeiros cristãos se apresentam nos escritos de carácter narrativo-catequético, como podemos ver nas cartas Paulinas e no livro dos Atos dos Apóstolos. Nos Actos 8,26-35 podemos encontrar Filipe esclarecendo a fé cristã ao eunuco. Filipe ressalta o ponto central que é a fé cristã como chave de leitura para explicar ao Eunuco o trecho de Isaias 53,7-8: “Dirigindo-se a Filipe, disse o eunuco: ‘Eu te pergunto, de quem diz isto o profeta? De si mesmo ou de outro? Abrindo então a boca, e partindo deste trecho da Escritura, Filipe anunciou-lhe a Boa Nova de Jesus”. É neste aspecto teológico-catequético que se dá o kerigma fundamental da fé cristã nos seus primórdios.
No século II, quando o cristianismo se expandia, ainda não como religião oficial do império romano, houve grandes perseguições aos primeiros cristãos. É desse contexto que a Teologia começa a se moldar com uma reflexão de fé na figura dos Padres apostólicos como Clemente, Inácio, Policarpo, e dos Padres Apologistas como Justino, Taciano e Teófilo, dentre outros. A Teologia cristã desse período ganha a base inicial com o dogma cristológico-trinitário e as práticas sacramentais.
Do século III ao VI nos situamos na fase esplendorosa da Patrística e no período de oficialização do cristianismo como religião obrigatória em Roma.
bPatrística é o nome dado à filosofia cristã dos primeiros sete séculos, elaborada pelos Padres da Igreja, os primeiros teóricos —- daí”Patrística” —- e consiste na elaboração doutrinal das verdades de fé do Cristianismo e na sua defesa contra os ataques dos “pagãos” e contra as heresias. Foram os padres da Igreja responsáveis por confirmar e defender a fé, a liturgia, a disciplina, criar os costumes e decidir os rumos da Igreja, ao longo dos sete primeiros séculos do Cristianismo.
É o período de heresias cristológicas e de mistura da Teologia cristã com o gnosticismo e outras correntes contrárias a doutrina cristã. A figura de Santo Agostinho, Santo Ambrósio, Leão Magno e São Jerónimo, dentre outros, marca o esforço teológico de se fazer inteligível, compreensível e racional a Teologia. Trata-se da Teologia Fundamental na sua forma apologética da fé e na sua refutação contra a heresias.
Na Idade Média que vai do século V ao XV a Teologia assume outras formas de organização e recursos argumentativos para uma melhor fundamentação da fé. Neste período os comentários das Escrituras se tornam um dos pontos fortes da Teologia. Os escritos aristotélicos influenciam a forma como a Teologia se fundamenta. Neste sentido as verdades teologais são expostas em premissas e numa argumentação dedutiva lógica. Pelo viés da Disputatio a Teologia refuta os argumentos contrários a sua sacra doctrina e se auto afirma como Ciência. Vale ressaltar que só após esse período é que se utiliza conceitualmente o termo Teologia para os saberes referentes às coisas de Deus. A Suma Teológica de Santo Tomas é um exemplo de como a Teologia se estruturou mais categoricamente, discursivamente e metafisicamente. Tais recursos facilitaram para que a Teologia possuísse uma estrutura sistemática mais elaborada acerca dos elementos importantes da fé cristã.
No início da Modernidade, do século XVIII em diante, a Teologia é questionada pelos pensadores da dúvida. É o Iluminismo racionalista autónomo, as novas ciências humanas que surgem (sociologia e psicologia), as correntes teológicas protestante e reformistas, os diversos pensadores da dúvida, o secularismo e a cultura ateia que se manifesta no ethos social. Nesse contexto os elementos fundamentais e secundários da Teologia são colocados em questionamentos. E a postura apologética da Igreja persiste na explanação de suas verdade fundamentais e no decretar Anátema para os que discordavam de sua postura e doutrina de fundamento teológico.
A Teologia Fundamental no Concílio Vaticano II
Todavia, é no Concílio Ecuménico do Vaticano II que a teologia muda de uma postura defensiva e excludente do mundo e da sociedade moderna, para uma postura mais aberta, ecuménica e dialogal. É no florir do século XX para o XXI que a Teologia muda, não somente o seu discurso e postura, mas também a nomenclatura de uma Teologia apologética para uma Teologia Fundamental. Na modernidade e pós-modernidade conciliar a Teologia Fundamental assume o estatuto semântico, conceitual-conteudista e disciplinar.
Do Concílio Vaticano II à Contemporaneidade as questões referentes à Teologia Fundamental tiveram nova reflexão teológica e filosófica, assim como uma abertura dialogal às novas ciências que emergiram na sociedade e ao novo aparato tecnológico-instrumental-científico moderno e pós-moderno. Porém, duas tendências marcam a orientação da Teologia Fundamental: a primeira é a relação da Teologia com a Antropologia, em que o sujeito da experiência se torna o destinatário moderno e pós-moderno das verdades fundamentais da fé cristã. Essa abordagem antropológica tem como expoente teológico o jesuíta Karl Rahner (1904-1984). Para ele a Teologia se caracteriza como uma antropologia, pois a comunicação de Deus e a experiência humana possuem uma correspondência.
A segunda tendência se reporta à história. O mundo não se torna o lugar estranho ou de negação humana, mas realidade histórica, o lugar onde o ser humano se salva e onde a humanização acontece. Nesse sentido Rahner contribui na construção de uma Teologia que sustenta que a história da salvação realizada por Deus na história não é contraria à história da humanidade, mas se identifica com esta. Isto é, que a história da salvação é a história da humanidade. E que “é necessário dizer antes de tudo que a história do homem, verdadeiramente entendida… é precisamente a história dum ser transcendental enquanto tal”. Tal história se relaciona diretamente com a nossa fé e com o modo de ser humano na história. Por isso que tal história faz parte dos elementos abordados na Teologia Fundamental.
Fontes da teologia
A Sagrada Escritura
A sagrada Teologia apoia-se, como em seu fundamento perene, na palavra de Deus escrita. Pelo facto de ser inspirada, é verdadeiramente palavra de Deus, por isso, o estudo da Sagrada escritura deve ser como que a alma da sagrada teologia, nela se consolida firmemente e sem cessar se rejuvenesce, investigando, à luz da fé, toda a verdade contida no mistério de Cristo. (Dei Verbum 24).
A Tradição
Por tradição refere-se ao conjunto de práticas, costumes e doutrinas da igreja no decorrer da História. Juntamente com as Sagradas Escrituras, vai se desenvolvendo uma tradição interpretativa destas mesmas Escrituras, vão se formando costumes, liturgias e práticas durante a história. No campo doutrinal, a igreja desenvolveu os credos e formulações doutrinais que constituem bases sólidas de fé, passadas de geração em geração.
O magistério
Segundo o catecismo da igreja Católica, 85 “O ofício de interpretar autenticamente a Palavra de Deus escrita ou transmitida foi confiado unicamente ao Magistério vivo da Igreja ( Igreja, coluna e sustentáculo da verdade – Cf. 1Tm 3,15) cuja autoridade se exerce em nome de Jesus Cristo”, isto é, foi confiado aos bispos em comunhão com o sucessor de Pedro, o bispo de Roma.
Segundo a Encíclica Veritatis Splendor, “o encargo de interpretar autenticamente a Palavra de Deus, escrita ou transmitida “depositum fidei”, foi confiado exclusivamente ao Magistério vivo da Igreja, ao Papa e aos Bispos em comunhão com ele, cuja autoridade é exercida em nome de Jesus Cristo”. O Magistério é portanto o eco da voz do Divino Mestre que continuamente fala aos homens e se faz ouvir através da Igreja.
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