Responsável pela perpetuação da vida, prazer e alegria. Historicamente, seu culto na Grécia Antiga foi importado da Ásia, influenciado pelo culto de Astarte, na Fenícia, e de sua cognata, a deusa Ishtar dos arcádios. Ambas eram deusas do amor, e seus atributos e rituais foram incorporados no culto grego a Afrodite. Na era romana, seria a vez de Afrodite ser a influência, dando origem à sua equivalente romana, a deusa Vénus.
Conteúdos
Origem etimológica
A pronúncia arcaica (homérica) do nome era aproximadamente [ˌapʰroˈdiːtɛː]. No grego koiné esta pronúncia se tornou [afroˈdiːtɛː], passando posteriormente para [ˌafroˈditi] no grego bizantino, devido ao fenómeno do iotacismo (erro de escrita em manuscritos gregos). A etimologia do nome não é conhecida com segurança. Hesíodo o associou a aphrós, “espuma”, interpretando-o como “erguida da espuma”. Esta origem, no entanto, foi classificada como etimologia popular por diversos autores e diversas outras etimologias especulativas, muitas derivadas de idiomas não gregos, foram sugeridas por outros autores. O indo-europeísta Michael Janda considera genuína a conexão com “espuma”, identificando o mito de Afrodite se erguendo das águas após Cronos derrotar Urano como um mitema do período proto-indo-europeu.
História
Afrodite é uma deusa tão velha quanto o tempo, pertencendo a uma linhagem de deusas femininas que representavam a fertilidade na Antiguidade. O culto de Afrodite foi provavelmente baseado no culto de Astarte da Fenícia, que era venerada em todo o Oriente Médio como soberana do mundo. Entretanto, como o sincretismo religioso era muito forte naquela época, não se sabe com exactidão qual a origem das deusas. Por exemplo, no Império Babilónico, Astarte foi relacionada à deusa Ishtar.
Ela também seria associada com a deusa síria Atargatis e com a deusa do amor suméria, Inanna. Segundo Pausânias, os assírios foram a primeira civilização a fundar um culto de Afrodite, tese que faz sentido, tendo em vista uma pesquisa que revela a influência mesopotâmica sobre a sociedade e mitologia grega, antes de 700 a.C.. O culto de Afrodite na Grécia provavelmente foi introduzido da Síria para as ilhas de Chipre, Citera, Corinto e outras, de onde se espalhou por toda a região grega. Então, a deusa do amor teria “nascido” no Mediterrâneo, local em que as deusas mencionadas foram adoradas.
Afrodite também é bastante semelhante à deusa Hator do Egipto, que era vista como Afrodite pelos gregos. Vê-se que Astarte, Ishtar, Inanna, Hator e Afrodite eram deusas de atributos comuns, que geralmente eram vistas como uma só deusa, sendo difícil determinar com precisão quem influenciou quem, embora os historiadores concordem que o culto de Afrodite é de origem oriental. No Império Romano, outro sincretismo ocorreria e Afrodite seria transformada em Vênu.
A helenização a transformou de Grande Mãe a um dos onze deuses submetidos a Zeus e com papel reduzido às paixões humanas. Porém, quando é esculpida e pintada com seus golfinhos, o bode, o ganso, o cisne e a pomba, pode-se vislumbrar claramente sua antiga linhagem. Desta maneira a deusa, bem como suas antepassadas, é um símbolo das forças irrefreáveis da fecundidade, não propriamente em seus frutos, mas em função do desejo ardente que essas mesmas forças irresistíveis ateiam nas entranhas de todas as criaturas. Eis o motivo por que a deusa é frequentemente representada escoltada por animais ferozes.
“Foi ela que deu o germe das plantas e das árvores, foi ela que reuniu nos laços da sociedade os primeiros homens, espíritos ferozes e bárbaros, foi ela que ensinou a cada ser a unir-se a uma companheira. Foi ela que nos proporcionou as inúmeras espécies de aves e a multiplicação dos rebanhos. O carneiro furioso luta, às chifradas, com o carneiro. Mas teme ferir a ovelha. O touro cujos longos mugidos faziam ecoar os vales e os bosques abandona a ferocidade, quando vê a novilha. O mesmo poder sustenta tudo quanto vive sob os amplos mares e povoa as águas de peixes sem conta. Vênus foi a primeira em despojar os homens do aspecto feroz que lhes era peculiar. Dela foi que nos vieram o atavio e o cuidado do próprio corpo.”
De acordo com os pontos de vista cosmogónicos da natureza de Afrodite, ela era a personificação dos poderes generativos da natureza e mãe de todos os seres vivos. Um traço dessa noção parece estar contido na tradição no concurso de Tifão com os deuses, onde Afrodite metamorfoseou-se em um peixe, animal que foi considerado possuindo as maiores potências geradoras.
Afrodite Urânia e Afrodite Pandemos
No final do século V a.C., os filósofos passaram a considerar Afrodite como duas deusas distintas, não individualizando seu culto: Afrodite Urânia, nascida da espuma do mar após Cronos castrar seu pai Urano, e Afrodite Pandemos (ou Pandemia), a Afrodite comum “de todos os povos”, nascida de Zeus e Dione.
Vénus
No período helenístico, a cultura grega dominou a Macedónia, a Síria e o Egipto. Assim, há uma predominância das artes e ciências gregas no mundo ocidental. Mais tarde, com a expansão de Roma, cada um dos reinos daqueles territórios foi absorvido pela nova potência romana. Antes disso, porém, os próprios romanos adoptaram traços da cultura grega, e mais tarde do helenismo, daí a cultura grega ser depois perpetuada pelo Império Romano.
Os romanos apropriaram Afrodite para si durante a conquista das cidades gregas do sul da Itália peninsular, como Pesto, e, em seguida, na Sicília, onde a deusa foi venerada em Siracusa. Vénus pode ter sido a deusa sucessora de uma divindade etrusca em um ponto muito cedo na história romana. No entanto, o conceito romano de Vénus e seus mitos são baseados nas obras literárias da mitologia grega em relação a Afrodite. Vénus é um substantivo latino que significa amor sexual ou desejo sexual.
Mitologia
Nascimento
Afrodite, segundo algumas versões de seu mito, teria nascido perto de Pafos, na ilha de Chipre, motivo pelo qual ela é chamada de “Cípria”, especialmente nas obras poéticas de Safo. Seu principal centro de culto era exactamente em Pafos, onde haviam sido cultuadas desde o início da Idade do Ferro as deusas Ishtar e Astarte.
Outras versões do mito, no entanto, afirmam que a deusa teria nascido próximo à ilha de Citera. A ilha era um entreposto comercial e cultural entre Creta e o Peloponeso, portanto estas histórias podem ter preservado traços da migração do culto de Afrodite do Levante até a Grécia continental.
Personalidade
Afrodite nunca foi criança, sendo constantemente retratada nascendo já adulta, nua e bela. Nos mitos, é normalmente apresentada como vaidosa, sedutora, charmosa, uma amante fervorosa que, quando amava, o fazia incondicionalmente. No Hino Homérico de número 6 dedicado a Afrodite, narra que em todo lugar que a deusa pisa com seus pés delicados as flores nascem. Homero também relata uma Afrodite bastante maternal, chegando a se sacrificar pelo seu filho Eneias, entrando em combate para protegê-lo.
Casamento com Hefesto
De acordo com uma versão da história de Afrodite, por causa de sua imensa beleza, Zeus teme que os outros deuses passassem a brigar uns com os outros por causa dela. Para evitar isso, ele a obriga a casar-se com Hefesto, o deus ferreiro, sem senso de humor e feio. Em outra versão da história, Afrodite se casa com Hefesto depois que sua mãe, Hera, lança-o do Olimpo, considerando-o muito feio e deformado para habitar com os deuses. Ele se vinga prendendo a mãe num trono mágico que construiu. Em troca de sua libertação, ele pede para ser-lhe dada a mão de Afrodite em casamento.
Guardiã de Roma
Na destruição de Tróia, Afrodite falou para seu filho Eneias pegar seu pai, sua esposa e ir embora de Tróia. Eneas fez como sua mãe disse e viajou, orientado por Afrodite com o nome romano de Vénus, errante pelo Mediterrâneo até chegar à península Itálica, onde seus descendentes construíram Roma. Isto é relatado no poema épico de Virgílio, Eneida, obra máxima da literatura latina.
Ira da deusa
Embora seja considerada a deusa do amor, Afrodite não foi muito amável com seus adversários, sendo muito vingativa e impiedosa nas suas vinganças. Uma das coisas comuns que irava a deusa era quando ela privilegiou mortais e eles não a honraram, como Hipômenes, que não teria pagado a Afrodite os devidos tributos por ela tê-lo ajudado na corrida. Afrodite ter-se-ia vingado levando Hipômenes a ter relações sexuais com Atalanta no templo de Reia, fazendo com que essa deusa transformasse a dupla em leões.
Outro caso famoso foi o de Menelau, príncipe de Mecenas e mais tarde rei da Lacedemónia, que como uma centena de outros pretendentes pediu a mão de Helena em casamento. Ele prometeu sacrificar a Afrodite cem cabeças de gado se ganhasse o concurso, mas após o casamento não honrou sua promessa. A deusa teria se vingado fazendo Helena se apaixonar por Páris e fugir com ele para Tróia.
Relacionamentos e filhos
Os mitos mais importantes da deusa, como Ares e Adónis, giram em torno do amor, que era o atributo principal de Afrodite. O seu primeiro amor teria sido Nefrites, um jovem deus do oceano que ela amou ainda quando vivia no mar. Quando Afrodite saiu do oceano e foi viver no Olimpo, ela voltou ao mar para buscar Nefrites para que ele vivesse com ela. Entretanto, o deus se recusou a ir com Afrodite. Ela, com raiva e traída, transformou Nefrites em um molusco.
Culto
Afrodite era adorada na maioria das cidades de Chipre, bem como em Citera, Esparta, Tebas, Delos e Elis, e seu templo mais antigo estava em Pafos. Homero se refere à deusa como o Cípria no século VIII a.C. e ela foi chamada de Páfia no século VI a.C. Inscrições no seu santuário em Palea Pafos referem-se a ela simplesmente como Wanassa (“a senhora”).
O templo de Afrodite estava em uma colina a cerca de dois quilómetros para o interior, com vista para o mar. A cidade de Palea logo surgiu ao redor do templo. Seus símbolos incluem a murta, o golfinho, o pombo, o cisne, a rosa, a romã, limeira, pérolas e jóias. Seu festival principal era chamado de Afrodisia e era celebrado por toda a Grécia.
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