Malangatana Valente Ngwenya Nasceu em Matalana, distrito de Marracuene, província de Maputo, a 6 de Junho de 1936, filho de Manguiza Ngwenya e de Hloyaze Xerinda. Frequentou a Escola da Missão Suíça em Matalana, onde aprendeu a ler e a escrever em ronga. Transitou para a Escola da Missão Católica em Bulázi, onde conclui a terceira classe rudimentar, em 1948, partiu seguidamente para Lourenço Marques, onde arranja emprego como criado de crianças.
Em 1953, conseguiu emprego de “apanha-bolas” e, mais tarde, de criado de mesa no Clube de tênis de Lourenço Marques. Em 1956, casou-se com Gelita Mhangwana. A partir de 1959, descobertas as suas capacidades artísticas, Malangatana dedica-se a carreira de pintor profissional, com o apoio de Augusto Cabral e Miranda Guedes, que lhe cedeu a garagem para atelier e lhe adquiria dois quadros por mês, para que se pudesse manter.
Organizou a sua primeira exposição a 10 de Abril de 1961 no banco Nacional Ultramarino (Lourenço Marques). Junta-se à rede clandestina da FRELIMO, criada pelos guerrilheiros que integravam a Quarta Região (Inhambane, Gaza e Província e Cidade de Maputo), desenvolvendo actividades diversas que levaram a PIDE a afirmar mais tarde que “MALANGATANA serve de cartaz de propaganda adoptado por matizes políticos antagônicos à linha política da administração ultramarina portuguesa”.
Em 22 de Dezembro de 1964, foge para a Suazilândia, regressando a Lourenço Marques no dia 1 de Janeiro do ano seguinte, tendo a PIDE procedido à sua captura três dias depois. Julgado em Tribunal Militar, é absolvido a 23 de Março de 1966, sendo de novo preso a 17 de Junho desse ano, sendo restituído à liberdade a 11 de Novembro. Segundo a PIDE, Malangatana “cultivou a aura popular e beneficiou de simpatia e protecção dispensada por Sua Excelência o Ministro das Corporações, Saúde e Assistência, ao tempo Coordenador-geral da Província de Moçambique.” Frequentador assíduo do “Núcleo de Arte”, aí expõe diversas obras, de cariz eminentemente social.
Data aliás de 1968 um dos seus quadros politicamente mais empenhados e que esteve exposto no “Núcleo de Arte”, a que pôs o título de “25 de Setembro”, data de início da luta armada em Moçambique o que levou a PIDE/DGS a interrogá-lo em 1971 sobre o significado dessa obra, concluindo a polícia política que o mesmo pretendia “reproduzir a fúria da alma negra em revolta no momento em que eclodiram no norte da Província os ataques sangrentos da FRELIMO”.
Malangatana organiza também frequentes atividades culturais na sua aldeia natal de Matalana, sendo aliás acusado de aí organizar “danças nativas e batuques”, em que se exibe “por forma não isenta de reparos de alguns dos presentes” e acolher com frequência “visitantes americanos e altos funcionários do Governo daquele país”. Em 1971, o Pintor recebe uma bolsa “para a metrópole” da Fundação Calouste Gulbenkian, tendo sido mandado reter por despacho do Ministro do Ultramar, posteriormente revogado em face da informação de que “marcada para hoje, anunciada mesmos órgãos [imprensa local e rádio], interdição saída não deixará ser conhecida a todos os níveis sociais e ele mesmo se encarregará de a espalhar, apresentando-se como vítima arbitrariedade governo.
Por outro lado, especular-se-á com os fatos de se apregoar propósitos de promoção homem negro e, quando surge uma oportunidade, governo corta-la.” Conseguindo seguir para Lisboa, trabalhou em gravura na Gravura – Sociedade Cooperativa dos Gravadores Portugueses e em cerâmica na Fábrica de Cerâmica Viúva Lamego.
A partir de 1982, Malangatana desenvolve novas técnicas e assume novos modos de expressão artística. Em 1984, integra os “Artistas do Mundo contra o Apartheid”, expondo em diversas cidades da Europa. Em 1986, organiza em Maputo uma retrospectiva comemorativa dos seus 25 anos de pintura, inaugurada pelo Presidente Samora Machel, exposição retomada em Viena e em Lisboa.
Em 1989, conclui a construção da escultura em ferro e cimento “Casa Sagrada da Família Mabyaya” nos terrenos da fábrica Mabor, em Maputo. Em 1994, o Autor retoma a execução da escultura, alterando a sua dimensão de 15 para 25 metros de altura. Foi um dos criadores do Movimento para a Paz, pertence à Dicção da Liga de Escoteiros de Moçambique (LEMO) e é membro da Direção da Associação dos Amigos da Criança.
Intervém na organização da Escolinha dominical “Vamos Brincar”, promovida pela UNICEF e participa na Suécia, em 1987, em atividades similares com crianças suecas e refugiados de diversos países. A sua obra é reconhecida em todo o mundo, participando em múltiplas exposições coletivas e individuais e integrando diversos júris em Moçambique e no estrangeiro. Homem multifacetado, pintor, ceramista, cantor, actor, dançarino, é uma presença assídua em numerosos festivais, afirmando sempre a sua origem africana e moçambicana.
Publica também obras de poemas, em 1996 e 2004. Em 6 de Junho de 2006, é homenageado em Matalana por ocasião do seu 70.º aniversário, sendo condecorado pelo Ex-Presidente da República de Moçambique, Armando Guebuza, com a Ordem Eduardo Mondlane do 1º Grau, o mais alto galardão do país, em reconhecimento do trabalho desenvolvido nas artes plásticas. Na mesma data, com a presença de centenas de convidados moçambicanos e estrangeiros, foi lançada a Fundação Malangatana Ngwenya, com sede em Matalana, sua terra natal, na província de Maputo.
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