
foi uma filósofa política alemã de origem judaica, uma das mais influentes do século XX. A privação de direitos e perseguição na Alemanha de pessoas de origem judaica a partir de 1933, assim como o seu breve encarceramento nesse mesmo ano, fez-la decidir emigrar. O regime nazista retirou a nacionalidade dela em 1937, o que lhe tornou apátrida até conseguir a nacionalidade estadunidense em 1951.
Trabalhou, entre outras actividades, como jornalista e professora universitária e publicou obras importantes sobre filosofia política. Contudo, rechaçava ser classificada como “filósofa” e também se distanciava do termo “filosofia política”; preferia que suas publicações fossem classificadas dentro da “teoria política”.
Arendt defendia um conceito de “pluralismo” no âmbito político. Justamente graças ao seu pensamento independente, a teoria do totalitarismo (Theorie der totalen Herrschaft), seus trabalhos sobre filosofia existencial e sua reivindicação da discussão política livre, Arendt tem um papel central nos debates contemporâneos. Seu sistema de análise, parcialmente influenciado por Heidegger, a converte em uma pensadora original situada entre diferentes campos de conhecimento e especialidades universitárias. O seu devenir pessoal e o de seu pensamento mostram um importante grau de coincidência.
O primeiro livro As origens do totalitarismo (1951) consolida o seu prestígio como uma das figuras maiores do pensamento político ocidental. Arendt assemelha de forma polémica o nazismo e o socialismo, como ideologias totalitárias, isto é, com uma explicação compreensiva da sociedade, mas também da vida individual, e mostra como a via totalitária depende da banalização do terror, da manipulação das massas, do criticismo face à mensagem do poder. Hitler e Stalin seriam duas faces da mesma moeda tendo alcançado o poder por terem explorado a solidão organizada das massas.
Sete anos depois em 1958 publica Vita acética. A condição humana, obra onde adopta a clássica tripartição grega e enfatiza a importância da política como acção e como processo, dirigida à conquista da liberdade:
“Com a expressão ‘vita activa’, pretendo designar três atividades humanas fundamentais: labor, trabalho e ação. (…) O labor é a atividade que corresponde ao processo biológico do corpo humano (…). A condição humana do labor é a própria vida. O trabalho é a atividade correspondente ao artificialismo da existência humana (…). O trabalho produz um mundo “artificial” de coisas, nitidamente diferente de qualquer ambiente natural. A condição humana do trabalho é a mundanidade. A acção, única actividade que se exerce directamente entre os homens sem a mediação das coisas ou da matéria, corresponde à condição humana da pluralidade, ao facto de que homens, e não o Homem, vivem na Terra e habitam o mundo. Todos os aspectos da condição humana têm alguma relação com a política; mas esta pluralidade é especificamente ‘a’ condição (…) de toda a vida política”.
Arendt entende vista activa relacionando-a às esferas nas quais estão localizadas as actividades humanas: a esfera privada e a pública. Na perspectiva antiga, a esfera pública é o espaço em que entram somente acções (praxis) e palavras (lexis) que dignificam o homem, que o tornam distinto do animal humano. Nessa esfera, o homem adentra como ser livre, capaz de tomar atitudes e agir espontaneamente, sem o constrangimento das necessidades ou forma outra de coacção. Dimensão do reconhecimento, a política oferece um espaço na memória da comunidade para a imortalização dos homens como seres singulares.
Já a esfera privada é a dimensão em que os homens, privados do mundo, exercem actividades constrangidos pelo fato de serem animais como os demais animais (labor) ou, então, realizam actividades cuja execução exige a retirada do mundo, como no caso da arte, do trabalho e a actividade do pensamento.
O tema da vita contemplativa em sua relação com a vista activa foi abordado directamente apenas no final da vida de Arendt. Ela morreu quando escrevia a terceira parte da obra A Vida do Espírito. A motivação desse livro, sem dúvidas, pode ser atribuída à dificuldade de, nas sociedades contemporâneas, se exercer a faculdade do juízo, uma faculdade intimamente relacionada à capacidade de pensar, forma apropriada do pensamento se manifestar no mundo. Na sociabilidade actual o exercício da faculdade de julgar é dificultado, prevalecendo um horizonte meramente funcional e condicionado.
Ainda, em 1963, escreveu Eichmann em Jerusalém para a The New Yorker, nesse livro impressionante revela que o grande exterminador dos judeus e arquitecto da Solução Final Eichmann não era um demónio, mas alguém terrível e horrivelmente normal, é o protótipo do homem contemporâneo que age sem julgar, como se fosse uma coisa na engrenagem social e institucional, condicionado apenas pelos interesses funcionais. Um típico burocrata que se limitara a cumprir ordens, com zelo, sem capacidade de separar o bem do mal, ou de ter mesmo contrição. Do mesmo modo, sem motivação alguma, o homem pode possibilitar ou realizar os maiores males. A isso Arendt chamou de a Banalidade do Mal.
Esta perspectiva valer-lhe-ia a crítica virulenta desorganizações judaicas que a considerariam falsa e abjurariam a insinuação da cumplicidade dos próprios judeus na prática dos crimes de extermínio.
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