Foi uma escritora, mística e filósofa francesa. Irmã mais jovem do matemático André Weil, Simone nasceu numa família judia não-praticante; ela e o irmão cresceram agnósticos.
Em 1933, publicou um artigo considerado herético pelos marxistas ortodoxos, Allons-nous vers la révolution prolétarienne? (Vamos nós para a revolução proletária?), no qual enfatizava a opressão do proletariado, causada pelas técnicas da produção industrial, presentes tanto no capitalismo quanto no socialismo burocrático vigente na Rússia. A epígrafe desse artigo, que teve o mérito de antever a falência do socialismo real, eram os versos do Ajax de Sófocles: “não tenho senão desprezo pelos mortais que se nutrem de esperanças vãs”. Talvez, como ela observou posteriormente: “não é a religião, mas a revolução que é o ópio do povo”.
Em 1934 Simone licenciou-se por dois anos do magistério e tornou-se operária metalúrgica da Renault para escrever sobre o cotidiano dentro das fábricas. Todavia, sua resistência física só lhe permitiu levar o projeto até agosto de 1935, quando, trabalhando na linha de montagem de carros da Renault, caiu doente com uma inflamação na pleura. Ela ficou tão traumatizada por sua experiência fabril, que abandonou imediatamente quaisquer noções românticas que ainda tivesse sobre o proletariado e sua habilidade para ajudá-lo. Ela descobriu que a opressão não resulta em rebelião, mas em obediência e apatia, e até mesmo na internalização dos valores do opressor. Com base em sua experiência pessoal, ela argumenta no ensaio Expérience de la vie d’usine (Vivendo a vida da fábrica), que a automação é uma boa coisa ao eliminar trabalho penoso e servil, mas que a superautomação transforma um trabalhador qualificado em nada mais que um intermediário entre o maquinário e as coisas a serem processadas.
Em 1936 lutou na Guerra Civil Espanhola, ao lado dos republicanos. Mesmo sendo míope e frágil, recebeu um rifle e foi incorporada a uma unidade deanarquistas. Sem nenhum preparo para a vida militar, ela quase que imediatamente enfiou o pé numa panela de óleo fervente e teve de ser resgatada por seus pais, que a mandaram para Assis, na Itália, para recuperar-se. Desanimada com as atrocidades que havia visto seu próprio lado cometer, Simone reafirmou seu pacifismo.
Posteriormente, ao ouvir um canto gregoriano num mosteiro beneditino enquanto sua enxaqueca estava no auge, ela “experimentou a alegria e amargura da paixão de Cristo como um evento real”, e pela primeira vez começou a pensar em si mesma como uma pessoa religiosa (êxtase).
Com o início dos conflitos entre França e Alemanha e em 1940, quando os alemães entram em Paris, ela foge para Marselha onde passa a colaborar, sob o pseudônimo de Emile Novis, com o jornal Les Cahiers du Sud organizado por um grupo de escritores fugitivos. É lá também que conhece o padre católico Joseph-Marie Perrin, que fica tão impressionado com os pensamentos dela sobre a cristandade que a convida a batizar-se. Simone, todavia, recusa a oferta afirmando que: “não quero ser adotada por um círculo, viver entre pessoas que dizem ‘nós’ e ser parte de uma ‘gente’, descobrir que ‘estou em casa’ em quaisquer cercanias humanas, sejam lá quais forem… sinto que é necessário e ordenado que eu deva permanecer só, uma estranha e uma exilada em relação a qualquer círculo humano, sem excepção”.
O padre Perrin a apresenta então a Gustave Thibon, um teólogo leigo que administrava uma colônia agrícola católica. Lá ela pode praticar o ascetismo do modo como sempre havia desejado: trabalhou nos campos e vinhedos durante a colheita ao lado dos camponeses, dormia num saco no chão e se alimentava somente de cebolas e tomates. E também escreveu, muito. Em abril de 1942, ela deixa seus diários com Thibon e emigra para os Estados Unidos, de onde começa a planejar seu retorno à Europa. Escreve para o governo provisório francês exilado em Londres, expressando sua ânsia em pular de pára-quedas sobre a França ocupada numa “missão secreta, preferivelmente perigosa”. Valendo-se dos seus contactos, Simone finalmente conseguiu ser chamada à Londres, onde viu-se encarregada de analisar todas as sugestões de como organizar a França depois da guerra. Desapontada com o nacionalismo antiquado dos gaullistas, logo renunciou ao cargo, e afirmando que não tinha o direito de comer mais do que seus camaradas na França ocupada, deixou-se passar fome até que teve de ser hospitalizada.
Depois de sua recuperação, ela fez um último esforço para compilar suas idéias sobre a tão sonhada “sociedade sem opressão”. O resultado é L’Enracinement (O Enraizamento), onde Simone reafirma seu posicionamento; antes que a sociedade possa ser regenerada, devemos reconhecer que cada problema social é um sintoma de um profundo “desenraizamento” (um estado “mais ou menos similar à vida puramente vegetativa”), produzida por: dinheiro, mecanismo, ciência e tecnologia divorciadas da vida e o uso da força. A política deve ser algo mais do que impor uma ideologia sobre a táctica particular de um grupo social que queremos levar adiante, deveria ser uma reflexão inteligente sobre a realidade, conduzida por pensadores profundos.
Pouco depois de terminar O Enraizamento, ela escreveu em seu diário: “dado o dilema geral e permanente da humanidade neste mundo, comer até que se esteja saciado é um abuso”. Simone recebeu um diagnóstico de tuberculose em Abril de 1943. Enviada para um sanatório no campo, recusou-se a se alimentar, insistindo que suas refeições deveriam ser mandadas para a França, porque não teria admitido se alimentar além da ração diária permitida aos soldados, nos campos de batalha. Com a progressiva deterioração de seu estado de saúde, em estado de desnutrição, faleceu poucos dias depois de seu internamento hospitalar aos 34 anos.
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