O feminismo, nessa virada do século, constitui-se em um amplo espectro de discursos diversos sobre as relações de poder. Esses discursos por sua vez informam e são informados pelas práticas políticas e culturais, tem ancoragem naqueles pontos nodais que são produtos da intersecção intricada das diferenças (de raça, género, classe, idade, orientação sexual etc.). A imbricação dessas diferenças tem dado vazão a uma variedade de feminismos: feminismo liberal, cultural, humanista, marxista, socialista, psicanalítico, radical, lésbico, negro, pós estruturalista, do terceiro mundo entre outros.
Porém, a dinâmica do movimento feminista foi marcada por debates em torno da causa principal da opressão feminina, se seria o patriarcado? O capitalismo? Patriarcado capitalista? Capitalismo patriarcal? Ainda nos anos 70 o campo vivenciou sínteses que tentaram unir patriarcado com capitalismo, feminismo com o marxismo, ou seja, amplos debates sobre sexo e classe. Neste contexto, pode-se identificar historicamente as seguintes tendências no movimento feminista: feminismo liberal, socialista e radical.
Contudo neste trabalho faz-se uma descrição de destaque para o feminismo liberal, o radical, negro e o marxista.
Feminismo liberal
De acordo com Giddens (2010), o feminismo liberal procura explicações para as desigualdades de género nos comportamentos sociais e culturais, as feministas liberais não concebem a subordinação das mulheres como parte de um sistema ou estrutura maior, concentrando-se em muitos factores distintos que contribuem para as desigualdades entre homens e mulheres. O feminismo liberal vai preocupar-se com o sexismo e a discriminação das mulheres nos locais do trabalho nas instruções educativas e nos meios de comunicação.
Tendem a concentrar as suas energias no estabelecimento da igualdade de oportunidade para as mulheres através da legislação e de outros meios democráticos, apoiaram activamente novas leis, como a lei da igualdade de salário e a lei da descriminação sexual, afirmando que era importante consagrar a igualdade na lei para eliminar a descriminação das mulheres. As feministas radicais acusam as feministas liberais de incentivarem as mulheres a aceitarem uma sociedade desigual e o seu carácter competitivo.
Feminismo radical
Esta categoria feminista, toma a mentalidade assente na crença de que os homens são responsáveis pela exploração das mulheres e beneficiam desse facto. A análise do patriarcado , o domínio sistemático dos homens sobre as mulheres, é a questão principal para este ramo do feminismo. As feministas radicais concentram-se, muitas vezes, nas famílias como uma das fontes primárias da opressão das mulheres na sociedade. Afirmam, que os homens exploram as mulheres pois contam com o trabalho doméstico gratuito realizado pelas mulheres em casa. Enquanto o grupo, os homens negam igualmente o acesso das mulheres a cargos de poder e de influência na sociedade.
Chulamite Fereston (1971) apud., Geddiens (2010), umas das primeiras autoras feministas radicais, afirma que:
“Os homens controlam os papéis da mulher na reprodução na educação dos filhos. Por as mulheres serem biologicamente capazes de dar a luz, tornam-se materialmente dependentes dos homens para fins de protecção e subsistência. Esta desigualdade biológica está socialmente organizada na família nuclear. Fireston fala em classe social para descrever a posição sexual das mulheres e afirma que a sua emancipação só será possível com a abolição da família e das relações de poder que a caracterizam”.
Outras feministas radicais, apontam a importância da violência masculina sobre as mulheres como um facto central na supremacia masculina. Nesta perspectiva, a violência doméstica, a violação e assédio sexual são parte de uma opressão sistemática das mulheres, não casos isolados com as suas próprias causas psicológicas e criminosas. Até as interacções quotidianas, como a comunicação, não-verbal, os padrões da audição e interrupção, e o bem-estar das mulheres em público, contribuem para a desigualdade de género.
Além disso, argumentam que, os homens impõem as mulheres conceitos populares de beleza e sexualidade, de forma a criar um determinado tipo de feminilidade. As normas sociais e culturais que a relação um corpo elegante e uma atitude carinhosa e atenciosa para com os homens por exemplo, ajudam a perpetuar a subordinação das mulheres. A objectivação das mulheres através dos meios de comunicação, da moda e da publicidade transforma-as em objectos sexuais, cujo papel principal é entreter os homens.
As feministas radicais não acreditam na libertação das mulheres da opressão sexual através de reformas ou mudanças progressivas, não obstante, afirmam que em virtude do patriarcado ser um fenómeno sistémico, a igualdade de género só será possível com a eliminação da ordem patriarcal.
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Feminismo negro
A insatisfação relativamente as formas do feminismo existente levou a emergência de um feminismo negro concentrado em problemas específicos que as mulheres negras enfrentam. No prefácio da sua autobiografia, a feminista negra norte-americano DeLL Hooks afirma que muitas pensadoras feministas que escrevem e discutem a meninice na actualidade gostam de sugerir que as raparigas negras têm uma maior auto estima do que as brancas essa diferença é medida, muitas vezes, pelo facto das raparigas negras serem mais assertivas, falarem mais e parecerem mais confiantes. Estas peculiaridades eram entendidas como uma promoção da raça, e não estavam necessariamente associadas ao desenvolvimento de auto estima feminina.
Os testos de autoras feministas negras tendem a darem ênfase a historia, ao aspecto do passado que estão na base dos problemas actuais que as mulheres negras enfrentam. Os testos das feministas negras norte-americanas dão ênfase a influenciam do poderoso legado da escravatura, da segregação e do movimento dos direitos civis a desigualdade de género e a comunidade negra.
Salientam que as primeiras sufragistas negras apoiaram a campanha a favor dos direitos das mulheres mas perceberam que a questão da raça não podia ser ignorada: as mulheres negras eram discriminadas com a base na raça e no género. Nos últimos anos, as mulheres negras não tiveram, em parte, um papel essencial no movimento da libertação das mulheres por feminidade não dominar tanto as suas identidades quanto os conceitos da raça.
Hooks afirmou que os enquadramentos exploratórios favorecidos pelas feministas brancas, como a família com um alicerce do patriarcado, por exemplo, poderão não se aplicarem nas comunidades negras, onde a família representa um ponto fulcral de solidariedade contra o racismo. Por outras palavras, é possível encontrar opressão sobre as mulheres negras em localizações diferentes das mulheres brancas.
As feministas negras afirmam, por isso que qualquer teoria sobre a igualdade de género que não tome em consideração o racismo, não poderá explicar a pressão das mulheres negras de forma adequada. As dimensões de classes são outro factor que não poderá ser ignorado no caso de muitas mulheres negras. Algumas feministas negras defendem que a forca da teoria do feminismo negro reside no facto de focar a interacção entre os interesses da raça, da classe social do género. As mulheres negras encontram-se consideravelmente em desvantagens, afirma, pela sua cor, sexo e posição de classe.
Portanto em última análise Da Conceinção (2009), afirma que:
“A actuação do feminismo negro deslocou o debate que se dava entre marxistas e feministas sobre sexo e classe para outro plano e demonstrou que não se tratava de uma questão só de sexo e classe, uma vez que problematizam a questão: e raça? A partir desse questionamento começa-se a se pensar na articulação de género, raça, e classe e nas diferenças entre mulheres, não, mas apenas nas desigualdades entre homens e mulheres, mas também entre mulheres e entre os homens. A partir dessa crítica o género começa a ser pensado como um dos elementos constitutivos das relações sociais, que se articula com outras categorias importantes: classe, raça, etnia, idade, dentre outros, configurando situações de género específicas.”
No tocante ao feminismo marxista, as reflexões fundamentam-se na busca de uma base material para o género e a encontram na divisão sexual do trabalho. Nesta perspectiva teórica o género é considerado como “produto acessório”, nas transformações das estruturas económicas, carecendo, portanto, de status analítico próprio e independente.
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