A desconstrução, conceito elaborado por Jacques Derrida, é uma crítica de pressupostos dos conceitos filosóficos.
A noção de desconstrução surge pela primeira vez em 1962 na introdução à tradução da Origem da Geometria de E. Husserl. A desconstrução não significa destruição, mas sim desmontagem, decomposição dos elementos da escrita. A desconstrução serve nomeadamente para descobrir partes do texto que estão dissimuladas e que interditam certas condutas. Esta metodologia de análise centra-se apenas nos textos.
Falar de desconstrução dentro da teoria do conhecimento é falar de Jacques Derrida.

Jacques Derrida foi um filósofo francês, de origem judaica, mas secular, nasceu e cresceu na Argélia. Sofreu, durante a época da Segunda Guerra com as consequências das políticas anti-semitas. Entretanto, a descoberta dos livros de Jean-Jacques Rousseau, Friedrich Nietzsche, André Gide e Albert Camus, durante a adolescência, contribuíram para sua vocação literária e filosófica.
Com uma obra imensa, a rondar os 100 títulos, ao qual se junta à edição em curso dos seus Seminários, é o filósofo mais traduzido no mundo, tendo exercido um profundo impacto nas mais diversas áreas das humanidades e ciências humanas, em especial nos campos da estética, teoria da literatura e filosofia do direito, e gerado debates decisivos com os pensadores mais importantes de sua época (Claude Lévi-Strauss, Michel Foucault, John Searle, Paul Ricoeur, Jürgen Habermas, etc).
A Desconstrução
Derrida vai encontrar um reconhecimento precoce no exigente panorama intelectual francês do inicio dos anos ‘60, vencendo o prestigiado prémio Jean Cavaillés (prémio de epistemologia) pela sua introdução (e tradução) da Origem da Geometria de Edmund Husserl (1961), com apenas 31 anos de idade, onde se pode já perceber as grandes linhas de força que iriam marcar a novidade, profundidade e rigor do seu pensamento.
Esta originalidade leva-lo-á muitas vezes a ter de cunhar os seus próprios conceitos, dos quais se destacará desde logo o neologismo “differance”, traduzido por vezes por “diferância”, por vezes por”diferência”. Différance joga assim com o fato da palavra francesa différer poder significar tanto “diferir”(“postergar” / “adiar”, em termos diacrónicos, o que nos remete para uma temporalização, para actividade, para a fala, para o uso, para a génese) quanto “diferenciar” (em termos Saussureanos, onde os termos se determinam reciprocamente na estrutura da Língua, não detendo um significado “em si” mas determinando-se pela relação diferencial que estabelecem com os demais termos, sincronicamente, o que nos remete para um espaçamento, para passividade, para língua, para esquema, para a estrutura).
Levando aos limites o contraste entre termos bipolares, Derrida é invariavelmente levado à necessidade de criar e reelaborar novos termos capazes de superar toda a relação dialéctica simples que nos permitisse reduzir o pensamento à ordem do calculável.
Desta forma, Derrida irá levar a cabo uma exaustiva desconstrução de inúmeras cópulas de opostos subjacentes à metafisica tradicional caraterizada por uma cristalização dos conceitos.
Derrida vai assim impor na filosofia a experiência do indecidível enquanto limite de qualquer teoria expressa numa qualquer sintaxe necessariamente incompleta. Derrida acredita que as formações culturais e intelectuais humanas deveriam sofrer uma reinterpretação como elemento fundante de um novo conhecimento: “Não existem fatos, apenas interpretações”. Para Derrida, a desconstrução não quer dizer a destruição, mas sim desmontagem, decomposição dos elementos da escrita.
O método da desconstrução suscitou amigos e admiradores, nos departamentos das Letras, mas revolta e polêmica no mundo da filosofia canônica, visto como uma ameaça à Metafísica clássica. A aplicação da Desconstrução a um texto filosófico ameaça a leitura verdadeira da verdade da filosofia, tornando-a uma das leituras possíveis, mas não a leitura correta. A famosa frase “A linguagem se cria e cria mundos”, aponta perigosamente para a contingência dogmática do ‘Ser’ e do ‘Significado’. Isso quer dizer que os textos corrompem seus significados tradicionais, criam novos contextos e permitem novas leituras, em um processo contínuo e vertiginoso.
Os conceitos segundo Derrida estão sofrendo profundas transformações, e isso é tanto inevitável quanto necessário.
O próprio Derrida, acusado de ser obscuro escreve em 1983: “A desconstrução não é um método e não pode ser transformada num método”. Para Derrida as palavras não têm a capacidade de expressar tudo o que se quer por elas exprimir, de modo que palavras e conceitos não comunicam o que prometem. Para ele as lacunas na escrita e na fala são inevitáveis; é a capacidade de serem modificados no pensamento, na expressão e na escrita que torna os conceitos incompletos. Assim, aquilo que dizemos e ouvimos só será de fato verdade, quando o vermos como algo incompleto e aceitarmos desconstruí-lo.
Em A Gramatologia, Derrida apresenta outra tese inovadora e provocante afirmando que a linguagem escrita precede a linguagem oral no ser humano, alicerçada no princípio anti-idealista que “a existência precede a essência”. Para o nosso filósofo o que está fora dos livros é marginal, está à margem da tradição e situa-se no limite do discurso.
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