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Introdução
Moçambique é um País com diversidade cultural muito grande que se manifesta tanto pela diversidade linguística assim como pela diversidade em termos hábitos e costumes sociais. O presente trabalho tem em vista a exposição crítica relativamente aos papéis que homem e a mulher desempenham nas culturas da zona sul. Sendo a zona sul maioritariamente dominada pela cultura tsonga, por este motivo durante a abordagem faz-se alusão a cultura tsonga como a cultura que representa todas as culturas do sul de Moçambique.
O trabalho tem como objectivo mostrar as os pápeis do homem e da mulher na cultura tsonga. Como metodologia, foram usadas fontes orais assim como, manuais de formato electronico. E como estrutura, o trabalho contem uma abordagem sobre os papeis do homem e da mulher, assim como uma avaliacao critica em torno dos mesmos.
O papel do homem e da mulher na cultura tsonga
As culturas da região sul de Moçambique são caracterizadas por uma desigualdade de géneros muito significativa. Nas zonas rurais essa diferença é mais nítida que nos centros urbanos pois, é nessas zonas que melhor se verifica a distinção entre aquelas tarefas que são restritamente femininas e as que são restritamente masculinas.
Na sociedade moçambicana as mulheres possuem uma posição de subordinação em relação aos homens, tanto pela educação que as mesmas tem, como pela cultura e tradição de África no geral.
A região sul de Moaçambique é dominada por comunidades patrilineares o que influencia de certa forma nos papéis do homem e da mulher de acordo com (Asdi, 2007). Ainda de acordo com Asdi (2007), nas comunidades patriarcais ou sistemas de descendência patrilineares os homens assumem a propriedade dos recursos do agregado familiar, detém o poder sobre esses recursos, sendo responsável por autorizar a mulher a fazer o uso dos mesmos.
Tendo em consideração que a cultura Tsonga é dominante na zona Sul do País, as relações e papéis da mulher giram em torno do sistema patrilinear.
De acordo com Chiziane (2013), na etnia Tsonga quando uma rapariga nasce, a família e amigos recebem a rapariga recém-nascida dizendo hoyo-hoyo mati (bem vinda a água), atinguene tipondo (que entre o dinheiro), hoyo-hoyo tihomo (bem vindo o gado), pois o seu nascimento significa mais uma força de ajuda a transportar a água, mais dinheiro ou gado cobrado pelo lobolo. Desde pequena, na sua infância a rapariga aprende o que é ser mulher. Ela brinca a mamã ou a cozinheira, imitando as tarefas da mãe. São momentos muito felizes, os mais felizes da vida da mulher tsonga. Mal vê a primeira menstruação é entregue a marido e não lhe são permitidos sonhos, sendo a única carreira a que é destinada é casar e ter filhos.
Rafael afirma que antigamente, a mulher moçambicana era tratada e tinha os mesmos papeis que qualquer mulher africana:
- Objecto do prazer do marido: visto que a sua educação a ensinava que deveria ser submissa ao marido, devia-lhe obediência e sempre seguia as suas regras;
- A procriação: tido como papel essencial da mulher, ela deveria gerar os filhos (que na vertente Tsonga pertencem ao marido), educar-lhes, dar-lhes o essencial para que os mesmos tivessem noção da cultura que os cerca e obedecessem as tradições e regras. No entanto a mulher que não fosse capaz de gerar um filho, acabava sendo devolvida para os pais sendo exigida uma outra mais nova e pertencente a mesma família para fazer o que a mais velha não era capaz.
- Aumento da renda familiar: ela era a responsável pelas machambas e por fazer a produção aumentar de tal modo que nada faltasse a família tanto na sua ausência como na sua presença.
- Responsável pela família na ausência do marido: deveria manter a casa mas sempre ensinando aos filhos que deviam obediência ao pai mesmo que ele não estivesse presente, pois a mãe era apenas a educadora.
Segundo Zucula para além de cuidar da casa, a mulher é responsável por criar uma relação saudável entre os filhos e o marido assim como com toda a família. Grande parte da educação das crianças é responsabilidade da mulher, que é complementada pelo homem (marido).
Às mulheres eram ensinadas que tinham que ficar em casa, entretanto, de acordo com Churana (2016), aos poucos a mulher começou a trabalhar fora de casa nas grandes fábricas, na indústria têxtil, na indústria de caju, etc; não obstante, apesar de trabalhar fora ela continuava sendo a encarregada pelos trabalhos domésticos, por cuidar das crianças e da família no geral.
De facto este é o papel, muitas vezes desempenhado pela mulher no âmbito geral, contudo, actualmente na visão de Cumbane, as coisas estão mudando, pois a mesma já participa nas várias decisões familiares, e transcende no papel primordial de mãe para cargos que muitas vezes não permitem que ela esteja a tempo inteiro dedicada aos filhos e neste contexto, muito se fala sobre a perca dos valores que se verificam principalmente nas mulheres pelo facto delas se encontrarem numa luta continua pela igualdade que acabam se esquecendo do que é primordial para elas.
Na cultura tsonga quando um menino nasce, há maior felicidade pela linhagem patrilinear característica desta etnia. De acordo com Rafael o rapaz (varrão) representa a continuidade da família, ele garante o apelido, a quantidade e o poder familiar (o menino é o próximo factor decisor da nova família).
A literatura internacional sobre a África Austral mostra que o poder de tomar decisões nos agregados familiares chefiados por homens permanece grandemente com o homem e que o padrão de despesa depende também fortemente para o homem chefe do agregado familiar.
Segundo Churana o homem sempre foi o chefe da família. O homem sempre trabalhou fora de casa, e em algum momento fora da sua zona de residência e até mesmo do País. Os homens que não deixavam a sua zona de residência se dedicavam a agricultura em trabalhos mais pesados como a limpeza dos campos de cultivo, na época da colheita e pastagem de gado, mas as suas actividades nunca estavam ligadas a trabalhos domésticos pois estes de acordo com a cultura são única e exclusivamente tarefas da mulher.
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Avaliação Crítica
Na sociedade patriarcal a mulher é tida como um objecto de troca por parte dos homens que dominam as esferas do poder e a tomada de decisões. Desde pequena a mulher é ensinada a submissão ao homem o que faz com que ela não tenha voz nem vontades próprias. Uma mulher tsonga logo a nascença já tem o seu futuro resumido em casar e ter filhos.
O respeito e a obediência ao homem são essenciais para que a mulher seja tida como uma boa esposa. Nalgum momento, os homens aproveitam-se das mulheres pela educação que elas recebem e acabam maltratando-as principalmente quando as consideram como sua propriedade visto que, pagaram o lobolo.
A definição dos papeis de cada um deles, deveria ter em base que antes de mais são seres humanos, possuem algumas tarefas irrevogáveis, contudo, também existem tarefas que podem se atribuídas aos dois.
A visão de Chiziane (2013) em relação ao nascimento das meninas, mostra que as mesmas representam uma melhoria de vida das famílias pelo facto de serem loboladas quando atingem uma determinada idade. Contudo, o lobolo é tido por muitos homens tradicionais e machistas, como um negócio, onde o mesmo adquire uma propriedade (a mulher) e passa a controla-la de todas as formas e tornando-a submissa e sem opinião própria. E a mulher que foi comprada deverá desempenhar todos os papeis que fora ensinada em casa, sem fazer o uso da palavra para opinar sobre os assuntos que são entendidos como do homem.
Actualmente em Moçambique fala-se muito da igualdade de géneros, entretanto é difícil pensar na igualdade de gêneros de forma integrada e sólida sem falar a perda de identidade cultural quando as raízes culturais já estabelecem uma hierarquia entre o homem e a mulher que se reflecte em termos de direitos, oportunidades… desiguais.
Leia Também Sobre:
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- A Raça e o Racismo
- Diversidade Religiosa como parte da Cultura
- Tabu
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- Descendência e filhação em Moçambique
Referências Bibliográficas
Asdi (2007). Um Perfil das Relações de Género Edição Actualizada de 2006: Para a Igualdade de Género em Moçambique.
Ferreira, C. & Souza, E.P. (2010). Relações do Género e Novas Configurações do Feminino na Curta Moçambicana “PHTYMA”. Razón Y Palabra. Primeira Revista Electrónica en Iberoamérica en Comunicación. Acedido a www.razonypalabra.org.mx
Grupo Moçambicano da Dívida (2004). Género e Desenvolvimento: Uma Perpectiva Sociológica Com Enfoque Nos Sectores de Educação e Saúde.
Prof. Dr.a Tengler, H & Prof. Dr. Pe Laissone E. (2015). Manual do Estudante: Habilidades de Vida, Saúde Sexual e Reproductiva, Género e HIV&SIDA; Disciplina Curricular. Universidade Católica De Moçambique; Departamento de HIV&SIDA e Género. Beira – Moçambique.