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Biografia
José Luandino nasceu a 4 de Maio de 1935, é um escritor e tradutor luso-angolano. Originário da vila de Ourém, aos três anos de idade José Vieira Mateus da Graça, que viria a adoptar o nome literário de José Luandino Vieira, viajou para Angola, juntamente com os seus pais.
Perfil Académico
Passou toda a infância e juventude em Luanda, onde fez os estudos secundários. Com o eclodir da Guerra Colonial, ingressou nas fileiras do MPLA, participando na luta armada contra Portugal. Já antes estivera detido pela PIDE, por se manifestar contra a ditadura, em 1959; voltaria a ser detido em 1961, e subsequentemente condenado a 14 anos de prisão. Até 1964 passou por várias cadeias em Luanda, até que no último desses anos foi transferido para o campo de concentração do Tarrafal, em Cabo Verde, onde passou oito anos.
Carreira Profissional
Em 21 de Maio de 1965, encontrando-se Luandino preso há quatro anos, a Sociedade Portuguesa de Escritores, então presidida por Jacinto do Prado Coelho, deliberou atribuir-lhe o Grande Prémio de Novela, pela sua obra Luuanda.
Depois de os jornais portugueses noticiarem o galardão, a Direcção dos Serviços de Censura detectou a gaffe política e proibiu qualquer referência ao prémio sem um enquadramento crítico face ao escritor, aos membros do júri e à própria SPE, cuja sede foi assaltada e destruída na noite de 21 de Maio, alegadamente por “desconhecidos”, mas na realidade elementos da polícia política PIDE e da Legião Portuguesa.
Por despacho datado do mesmo dia 21 de Maio, o Ministro da Educação Nacional, Inocêncio Galvão Teles, extinguiu a Sociedade Portuguesa de Escritores. Na sua edição de 23 de Maio, o Jornal do Fundão noticiou os prémios, elogiando fortemente os vencedores, incluindo Luandino, e recusando qualquer referência ao estatuto criminal do escritor.
Em consequência, o periódico foi suspenso durante seis meses e multado, tendo a sua caução aumentado exponencialmente até cumprir a obrigação de apresentar as provas à delegação de Lisboa dos Serviços de Censura e não de Castelo Branco. Só viria a retomar a normalidade no final de Novembro de 1965, após exposições do director ao Presidente do Conselho.
Em 2009, numa rara entrevista concedida ao jornal Público, Luandino confidenciou que as notícias do prémio chegaram tardiamente ao Tarrafal, pois o director do campo de detenção retardou a informação. Como o escritor estava impossibilitado de candidatar a obra, bem como o seu editor, foi com surpresa que percebeu que a obra fora, mesmo assim, distinguida, graças à intervenção do crítico literário Alexandre Pinheiro Torres.
Saiu em regime de liberdade condicional em 1972, passando a viver em Lisboa, sujeito à medida de segurança residência sob vigia. Foi trabalhar com o editor Sá Costa (até à Revolução de Abril) e iniciou a publicação da sua obra, escrita, na grande maioria, nas prisões por onde passou.
Em 1975 regressou a Angola. O regime da agora independente República Popular de Angola de que Luandino é um ideólogo, pois assume a função de director do Departamento de Orientação Revolucionária do MPLA (1975-1979 atribui a Luandino Vieira responsabilidades ligadas ao sector audiovisual e cinematográfico; começa por ser director da Televisão Popular de Angola (1975-1978), e passa depois a dirigir o Instituto Angolano de Cinema (1979-1984). Foi igualmente co-fundador da União dos Escritores Angolanos, de que foi secretário-geral (1975-1980 e 1985-1992), e secretário-geral adjunto da Associação dos Escritores Afro-asiáticos (1979-1984).
Na sequência das eleições de 1992, porém, e desiludido com o reinício da guerra civil angolana, Luandino Vieira acabou por regressar a sua terra-natal. Radicou-se numa zona rural do Minho, próximo de Vila Nova de Cerveira.
Prémios
Recebidos |
Grande Prémio de Novelística da Sociedade Portuguesa de Escritores (Prémio Camilo Castelo Branco) (1965)
Prémio Sociedade Cultural de Angola (1961), Casa dos Estudantes do Império – Lisboa (1963) Prémio Mota Veiga (1963) Associação de Naturais de Angola (1963). Prémio Camões (2006) |
A recusa do Prémio Camões |
Em 2006 foi-lhe atribuído o Prémio Camões, o maior galardão literário da língua portuguesa. Luandino recusou o prémio alegando, segundo um comunicado de imprensa, «motivos íntimos e pessoais». Entrevistas posteriores, sobretudo ao Jornal de Letras, esclareceram que o autor não aceitara o prémio por se considerar um escritor morto e, como tal, entendia que o mesmo deveria ser entregue a alguém que continuasse a produzir. Ainda assim publicou dois novos livros em 2006. |
Obras
Contos |
A cidade e a infância (Contos), 1957; 1986
Duas histórias de pequenos burgueses (Contos), 1961 Luuanda (Contos), 1963; 2004 Vidas novas (Contos), 1968; 1997 Velhas histórias (Contos), 1974; 2006 Duas histórias (Contos), 1974 No antigamente, na vida (Contos), 1974; 2005 Macandumba (Contos), 1978; 2005 Lourentinho, Dona Antónia de Sousa Neto & eu (Contos), 1981; 1989 História da baciazinha de Quitaba (Conto), 1986 |
Novelas |
A vida verdadeira de Domingos Xavier, 1961; 2003
João Vêncio. Os seus amores, 1979; 2004 |
Romances |
Nosso Musseque (Romance), 2003
Nós, os do Makulusu (Romance), 1974; 2004 O livro dos rios, 1º vol. da trilogia De rios velhos e guerrilheiros (Romance), 2006 |
Infanto-juvenil |
A guerra dos fazedores de chuva com os caçadores de nuvens. Guerra para crianças (infanto-juvenil), 2006 |
Tradução |
A Clockwork Orange (Laranja Mecânica) de Anthony Burgess, 1973 |
Outras Obras |
Kapapa: pássaros e peixes, 1998
À espera do luar, 1998 Papéis da prisão, 2015 |
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