Karl Marx, define a mercadoria como tendo um duplo aspecto:
a) Como valor de uso, a mercadoria é algo concreto, um objeto de consumo, que pode ser imediatamente utilizado para satisfazer uma necessidade ou que pode ser consumido produtivamente – ser usado como meio de produção de outros objetos ou como matéria-prima;
b) Como valor de troca, a mercadoria é uma coisa que pode ser trocada por outra, diretamente – escambo – ou por meio do dinheiro. Marx afirma que, como valor de troca, aspeculiaridades dos objetos são deixadas de lado para considerá-los apenas como quantidades abstratas. Por exemplo, 2 kg de arroz tornam-se iguais a uma caixa de fósforos, enquanto que, como coisas concretas (valores de uso), caixas de fósforos e sacos de arroz não tem nada em comum.
Para Marx, esses dois aspectos são constituintes de toda e qualquer mercadoria e formam uma unidade inseparável ao mesmo tempo que conflitante (contraditória). Ele define a sociedade capitalista como tendo posto o valor de uso como meio para o aumento do valor de troca, enquanto as sociedades mercantis pré-capitalistas colocavam o valor de uso como fim e o valor de troca como meio.
Em “O Capital“, Marx vê a sociedade capitalista se constituindo na interação e inter-relacionamento de três tipos de mercadorias (cada uma tendo o duplo aspecto de valor de troca/valor de uso), que são:
A mercadoria-simples, a mercadoria força de trabalho e a mercadoria-capital, sendo que esta última domina e dirige a produção e reprodução dos outros dois tipos.
A mercadoria-capital (enquanto valor de uso), consiste nos meios de produção que se acumulam revolucionando-se indefinidamente, e, (enquanto valor de troca), consiste no valor que busca se valorizar indefinidamente (a mercadoria-capital não deve ser confundida com o capital propriamente dito, pois este é uma relação social, enquanto a mercadoria-capital é apenas uma coisa econômica);
A mercadoria simples (como valor de uso), consiste em objectos que satisfazem uma necessidade e nas matérias-primas, e, (como valor de troca), consite no valor que desaparece com o uso ou tende a conservar seu valor ao ser usada como matéria-prima;
A mercadoria força de trabalho (enquanto valor de uso), consiste nas habilidades e aptidões humanas e, (enquanto valor de troca), consiste no valor que se consome na reprodução da força de trabalho (reprodução das habilidades e aptidões), isto é, o salário, mas é unicamente a utilização da força de trabalho que cria o valor que se acumula indefinidamente na mercadoria-capital. Para uma descrição da interação entre estas mercadorias, ver o artigo mais-valia.
Um aspecto fundamental para entender “O Capital”, é o conceito de fetichismo da mercadoria, segundo o qual, na troca de mercadorias, a relação entre pessoas “assume a forma fantasmagórica de uma relação entre coisas”. Numa sociedade mercantil (capitalista ou pré-capitalista) ocorre que a troca de mercadorias é a única maneira na qual os diferentes produtores isolados se relacionam entre si.
Dessa maneira, o valor das mercadorias é determinado de modo independente dos produtores individuais, e cada produtor deve produzir sua mercadoria em termos de satisfação de necessidades alheias. Disso resulta que a mesma mercadoria (ou o mercado) parece determinar a vontade do produtor e não o contrário. O fetichismo da mercadoria é o fenômeno social e psicológico onde as mercadorias aparentam ter uma vontade independente de seus produtores.
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