A categoria verdade é inegavelmente um elemento de fundamental importância no que diz respeito à produção historiográfica. Sendo esta última também histórica, as concepções de verdade de determinados períodos, ora mais afastados cronologicamente, ora bastante próximos, são bastante diferentes de outros, o que torna necessária a reflexão constante acerca da produção do conhecimento histórico, do alcance e eficácia dos métodos e abordagens dos historiadores na difícil tentativa de (re)construção do passado. Pode parecer evidente que “as sociedades passadas não tiveram as mesmas concepções de verdade que a nossa”.
No entanto, convém delimitar com mais precisão a maneira como tal concepção aparece em outros períodos, povos e culturas. Até ao século V aC, a historiografia Grega era cosmogónica e mítica. A história da humanidade estava dividida em cinco idades: Idade de Ouro, Idade de Prata, Idade de Bronze, Idade dos Heróis e Idade de Ferro.
Apesar de estar associada a mitologia religiosa, muitas das vezes politeístas (adoração de vários deuses) o mito grego das cinco idades mostra claramente a sua evolução tecnológica, visto que o desenvolvimento da humanidade está intimamente ligado ao uso de metais e a conquista do fogo. O mito das cinco idades constitui uma visão global da história da humanidade, marcada por um acontecimento central que é a conquista do fogo pelos homens, graças a ajuda de Prometeu.
A partir do século V aC, operam-se profundas transformações na sociedade grega, pois a escrita e o saber passam a ser de domínio público, bem como o desenvolvimento das cidades-estado/polis onde reinava o regime democrático, principalmente em Atenas (berço da democracia), o que permitiu que houvesse debates, a argumentação e a liberdade de pensamento. Foi esta democracia que permitiu aos gregos a se entregarem na pesquisa e especulação do mundo. Aliado a isso, existia uma prosperidade económica imensa derivada do trabalho dos escravos e do domínio do mar mediterrâneo como principal rota comercial.
Vários historiadores, abdicaram-se a escrita da historia da Grécia naquela altura. A titulo de exemplo, o Heródoto e Tucideles
Heródoto de Halicarnanço (484-420 aC), considerado pai da História. A cientificação da Historia começa com ele, pós:
- A História passa a debruçar-se sobre o passado e o presente dos homens e não dos deuses;
- Inaugura uma história genética, no sentido de se perguntar não somente o que aconteceu, mas também porque aconteceu, tentando encontrar o fio condutor da causa e efeito;
- Introduziu no discurso histórico a noção de mudança, onde resulta o conceito de evolução inerente ao todo o acontecimento histórico;
- A história preocupa-se em perceber a dicotomia passado-presente;
- Heródoto não só fala e investiga a cerca dos gregos, mas também alarga a sua pesquisa ao povo Bárbaro, atingindo outras civilizações;
- Propõe não somente reconstituir os fatos, mas sobretudo descobrir a razão porque se deram;
- Com Heródoto (que não se limitou a escrever sobre as guerras Pérsicas, mas foi também ao Egipto e a Mesopotâmia, sobre cuja história escreveu), há o reconhecimento do parentesco universal do Homem e se transforme num sentimento generalizado;
- Tanto Heródoto como Tucídides fazem história a partir dos testemunhos fidedignos das fontes orais espalhadas por várias divindades;
- Sem ser ainda uma ciência, a história ensaia com Heródoto os seus primeiros passos na senda da cientificação. Será a História uma Ciência do geral ou do particular? Aristóteles entendia que a História era o conhecimento do particular.
Tucídides, continuador do pensamento de Heródoto, operou avanços significativos na História ao introduzir a análise e a explicação causal dos factos históricos, pois ele afastou-se das interpretações fabulosas que subsistiam em Heródoto e procurou uma inteligibilidade assente nas provas mediante uma investigação e crítica das fontes. Começa com Tucídides a História explicativa.
Característica da historiografia Grega
- A historiografia Grega é humanista, científica e auto-reveladora, uma vez que procura não apenas a projeção do presente no futuro, mas principalmente ensinar com o presente a relação com o passado dos homens, objetivando mostrar o sentido dos fatos humanos;
- A historiografia grega é pragmática, pois procura obter do ocorrido uma lição proveitosa para o futuro.
Limitações da historiografia Grega
- Foi limitada no tempo: o recurso documental restrito a tradição oral e os testemunhos oculares limitou o âmbito cronológico da história grega;
- Foi limitada no espaço, uma vez que centrou o seu estudo às costas do mediterrâneo dando assim um caráter regional.
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Referências
DETIENNE, Marcel. Os Gregos e Nós: Uma Antropologia Comparada da Grécia Antiga. São Paulo: Edições Loyola, 2008.
Jurandir. (Org.). A História Escrita: teoria e história da historiografia. São Paulo, 2006.
VERNANT, Jean-Pierre. As Origens do Pensamento Grego. Rio de Janeiro: DIFEL, 2005.