Paul Ricoeur foi um dos grandes filósofos e pensadores franceses do período que se seguiu à Segunda Guerra Mundial.
Ricoeur forma-se em contato com as ideias do existencialismo, do personalismo e da fenomenologia. Suas obras importantes são: A filosofia da vontade (primeira parte: O voluntário e o involuntário, 1950; segunda parte: Finitude e culpa, 1960, em dois volumes: O homem falível e A simbólica do mal). De 1969 é O conflito das interpretações. Em 1975 apareceu A metáfora viva.

Em O voluntário e o involuntário, Ricoeur dirige a atenção sobre a relação recíproca entre voluntário e involuntário, assim como esta relação se configura na tríplice dimensão do decidir, do agir e do consentir. Em poucas palavras: necessidades, emoções, hábitos premem sobre o querer que replica a eles por meio da escolha, do esforço e do consentimento. Escreve Ricoeur: “Eu suporto este corpo que governo”. Descendo ainda mais em profundidade no interior da existência humana, Ricoeur vê que o homem concreto é vontade falível e, portanto, capaz de mal. A antropologia de Ricoeur delineia um homem frágil, “desproporcionado”, sempre sobre o abismo entre o bem e o mal.
A fim de entender o mal e a culpa, o filósofo deve ouvir e interpretar os símbolos que representam a confissão que a humanidade fez de suas culpas; ou seja, deve compreender os mitos que veiculam símbolos como a mancha, o pecado, a culpabilidade etc. E, entre esses mitos, central, no pensamento de Ricoeur, é o mito de Adão: a figura de Adão mostra a universalidade do mal enquanto Adão representa toda a humanidade.
A problemática da simbólica do mal leva Ricoeur ao tema da linguagem, ou melhor, ao projeto da construção de uma grande filosofia da linguagem. Projeto que encontra seus inícios com um escrito sobre Freud: Da interpretação. Ensaio sobre Freud (1965).
A psicanálise interpreta a cultura e simultaneamente a modifica; assim como marca duravelmente a própria ideia de consciência.
A realidade é que Freud, junto com Marx e Nietzsche, é um dos três mestres da suspeita, que levaram a dúvida para dentro da fortaleza cartesiana da consciência:
-para Marx não é a consciência que determina o ser, mas é o ser social que determina a consciência;
-para Nietzsche a consciência é a máscara da vontade de poder;
-para Freud, finalmente, o Eu é um infeliz submisso aos três patrões que são o “Isso”, o “Supereu” e a “Realidade” ou “Necessidade”.
A humanidade objetiva nos símbolos, nas diversas formas simbólicas, os significados e os momentos mais importantes da vida e de sua história.
O sentido do trabalho filosófico de Ricoeur deve ser visto em uma teoria da pessoa humana, a pessoa é um conceito que sobreviveu e que hoje voltou a viver com força, daí se quisermos compreender o homem, necessária é a interpretação.
Leia Também Sobre:
- Revolução Copernicana na Teoria do Conhecimento
- Ética de Responsabilidade de Hans Jonas
- A Desconstrução de Jacques Derrida
- Teoria Crítica da Sociedade
- A Filosofia de linguagem de Wittgenstein
- Hermenêutica e Filosofia da Linguagem
- Conhecimento filosófico e a questão da verdade
- O Nascimento do Pensamento e da Linguagem Humana