A Antropologia em Moçambique
Bernardo (2005) afirma que os dois períodos colonial e pós-colonial, as linhas políticas preferenciais ditou o percurso e desenvolvimento do conhecimento antropológico em Moçambique colonial e pós colonial. Somente na actualidade, existe uma fraca tendência de se abrir e se apropriar do conhecimento endógeno, procurando lavar a embalagem política que sempre definiu o percurso das manifestações sociais.
A Antropologia no Moçambique colonial
Para Osório e Macuacua (2013) nesse período, a antropologia portuguesa ganhou maior impulso do Estado. Ela apresentava-se, no conjunto da acção colonial, como «ciência global» do homem africano. Encarregou-se da universalização da ideologia colonial no espaço português, apresentando, as suas ideias como as mais racionais e universalmente válidas e, portanto, como de interesse comunitário de todos os membros da sociedade.
Nesta dimensão para Costa (2013) também «fornecia aos missionários uma vasta panóplia de preconceitos racistas e etnocentristas e às diversas organizações coloniais do governo uma argumentação e conhecimentos que lhe facilitavam a sua acção destruidora das estruturas sociais e económicas indígenas», prestando relevantes serviços ao Estado Novo. Para responder melhor aos objectivos da colonização e sob o impulso do próprio Estado Novo, Geffray (1991) foram sendo criadas instituições especializadas. Orientado pelos mesmos objectivos, destacava-se o «Acordo Missionário», de 7 de Maio de 1940, assinado entre a Santa Fé e a República Portuguesa, no qual as missões eram consideradas «corporações missionárias» ou «religiosas».
Por vezes, diz Conceição (2006) o sistema de ensino colonial foi sofrendo reformas, mas adequadas às circunstâncias histórico económicas e à conjuntura política internacional. E Redondo (1994) a formação do indígena e a criação da figura jurídico-política de «assimilado» impunham-se como necessidade de força de trabalho qualificada para a maior exploração capitalista. Para Redondo (1994) e Cabral (2005) o sistema de educação colonial organizou-se em dois subsistemas de ensino distintos: um «oficial», destinado aos filhos dos colonos ou assimilados, e outro «indígena», engenhosamente articulado à estrutura do sistema de dominação em todos os seus aspectos.
A negação da cultura ao colonizado constituía uma justificativa ideológica para a acção civilizadora junto dos «indígenas», mantendo-os submissos à exploração da sua força de trabalho barata.
A antropologia no Moçambique pós-colonial
Bernardo (1998) a Independência, portanto, foi vivida universalmente com um enorme sentimento de esperança e o país estava inicialmente em paz. Aliás, durante as duas décadas precedentes à Independência, Moçambique tinha experimentado um processo acelerado de crescimento económico e modernização. Infelizmente, diz Geffray (1991) coadjuvado com Cabral (2005) que por um lado, os jovens líderes do movimento militar não estavam preparados para tomar em mãos um Estado moderno e, por outro, o êxodo da população branca e mulata durante o período de transição, que ninguém soube ou quis impedir, retirou os principais recursos humanos ao país.
Para , Bernardo (2013), Cabral (2005) e Conceição (2006) no actual contexto o “atrelamento” à ocidentalização fez emergir o conceito de “póscolonialidade” que, em alguma medida, procura mostrar como é ínfima a margem de manobra dos povos saídos recentemente do quadro colonial, como é o caso de Moçambique, em direcção a uma modernidade mais assente em seus substratos culturais.
Bernardo (2005) diz que a fase de “pós-colonialidade” emerge com novos problemas mais ou menos insolúveis com os quais se choca um anticolonialismo desprovido de suas ilusões – mas que parece ser a única via possível – que é tomada como constitutiva de um momento particular da história social e intelectual (GEFFRAY, 1991). A expressão parece ser a que dá melhor conta da problemática do mundo em desenvolvimento, na medida em que a característica principal do período actual é o fracasso de todas as “hipóteses felizes”, quer elas venham do interior ou do exterior, e o desaparecimento de qualquer outra solução que não seja o ocidentalismo.
Ainda de acordo com Geffray (1991) com efeito, chegou-se a pensar que a independência política, possibilitaria o controlo das rédeas económicas, o que não ocorreu. Foi mais fácil realizar a independência política que a independência económica. Por definição, é sabido que, a economia de uma sociedade colonizada é essencialmente dependente de economias mais avançadas.
Bibliografia:
BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos Etno-Antropológicos. Perspectivas do Homem. Lisboa, Edições 70, 1974.
MATTA, Roberto da. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia. São Paulo, 1981. MEA, Margaret. O conflito de Gerações. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1970. 1968.
GOLDMAN, Lucien. A criação Cultural na Sociedade Moderna: Para uma Sociologia da Totalidade. Lisboa, Ed. Presença, 1976.