A Antropologia na África
Na ideia de Bernardo (2013) na antropologia do colonialismo e pós colonialismo parece ser o campo disciplinar mais próximo do diálogo entre a Antropologia e a História. A análise que aqui se vai forjando pretende ser uma análise globalizante dos fenómenos em apreço, o que passa por não parcelar a totalidade social, adequando-a a determinadas tendências teóricas.
A antropologia na África colonial
A colonização apresenta uma descontinuidade geográfica e cultural e, ao mesmo tempo, uma relação de domínio entre a metrópole e as Colónias. A distância geográfica, as diferenças étnicas e culturais, a desigualdade política, económica e social tornam possível a emergência de um corpus de conhecimento específico assumindo múltiplas funções (COSTA, 2013).
Ainda de acordo com Costa (2013) portanto colonização é: A ciência que ensina como se formam e constituem novas sociedades civilizadas, em regiões onde os seus habitantes viviam antes sem conhecimento das leis e usos dos povos dominadores e portanto sem obediência a essas leis e usos, e sem tirarem do solo, apto á exploração e cultura de diversos produtos, as riquezas que ele encerra, ou pode fornecer. Demartis (2002) e Costa (2013) para colonizar importa conhecer o espaço e realidade do Outro, construindo novos conhecimentos que dão forma a uma expressão estética do colonialismo e corpo a uma espécie de ‘acompanhamento musical’ da dominação.
Geffray (1991) avança que o contacto com novos espaços e novas gentes conduz inevitavelmente a uma reconfiguração efectiva (e afectiva) da conquista, da posse, do querer colonizar. Os conhecimentos produzidos sobre a natureza dos novos espaços, sobre os nos povos, numa linha naturalista (por tradição masculina, eurocêntrica), permitem estabelecer a posse intelectual e abstracta de um saber e da natureza, com traços sugestivos da idealização do viajante/ colonizador expressando o seu desejo de posse.
Para Bernardo (2006) o marco divisório através do qual o europeu julga e classifica a sociedade nativa é a escravatura. Esta estabelece a divisão básica entre o Eu e o Outro, sendo o Outro percebido como brutal e inferior. Nesta lógica, com as ciências coloniais emerge uma nova cultura. A colonização enquanto fenómeno cultural, faz a destrinça entre o colonizador com conhecimento e o colonizado ignorante. A ciência nas colónias é antes de mais, um instrumento de controlo
A antropologia na África pós-colonial
Os caminhos começaram se abrir a partir do momento que o nacionalismo criou os movimentos de revolução que conduziram os países africanos a independência dos seus países. Essa era a porta que precisava para que o processo de autoconhecimento fosse exposto em documentos e em ambientes adequados para sua estruturação científica.
Os estudos sobre o colonialismo e o pós-colonialismo actuais de acordo com Costa (2013) prendem-se, em parte, comum a necessidade mais ou menos recente de pôr em causa a produção antropológica sobre povos e culturas não ocidentais, que não levem em contacto debate sobre o pós-colonialismo. Porque o tempo pós-colonial deu lugar a uma série de redefinições dos espaços ex-coloniais, da relação entre globalização e localização. A globalização sua utilização vai no sentido de percebê-la como uma rápida celebração dos acontecimentos no mundo contemporâneo. Em contrapartida, a localização fornece-nos a via para pensar a resposta à própria globalização.
A relação entre globalização e localização leva-nos, necessariamente, à reflexão sobre outro binómio conceptual como o de poder e resistência, particularmente importante para entender como do colonialismo pode nascer o nacionalismo. Para Geffray (1991) conquistada a independência, os novos cidadãos reclamam o fim da ideologia europeia, que “instruíram” os não-europeus, visto que as elites nacionalistas ficaram com os lugares do poder outrora ocupados pelo poder colonial. Então, tal como o colonialismo tinha sido um sistema, também a resistência começou a ser sistemática. Conceição (2006) e Costa (2013) à luz dos estudos pós-coloniais, o conceito de resistência ganhou novo fôlego. Já não se pensa apenas nos processos de resistência visíveis, com vista à obtenção de frutos imediatos; tende-se antes a privilegiar processos mais ou menos informais de resistência.
Bibliografia:
BERNARDI, Bernardo. Introdução aos estudos Etno-Antropológicos. Perspectivas do Homem. Lisboa, Edições 70, 1974.
MATTA, Roberto da. Relativizando: Uma Introdução à Antropologia. São Paulo, 1981. MEA, Margaret. O conflito de Gerações. Lisboa, Publicações Dom Quixote, 1970. 1968.
GOLDMAN, Lucien. A criação Cultural na Sociedade Moderna: Para uma Sociologia da Totalidade. Lisboa, Ed. Presença,