Conteúdos
Funções gerais do sistema excretor
As funções das células corporais dependem de um contínuo suprimento de nutrientes orgânicos, da eliminação de produtos finais do metabolismo e da existência de condições físico-químicas estáveis no líquido extracelular no qual estão imersas. Com isso este sistema apresenta as seguintes funções:
- Excreção de resíduos metabólicos
- Excreção substâncias exógenas (drogas e toxinas)
- Regulação da pressão arterial
- Produção do fator eritropoiético renal / eritropoietina
- Produção da forma ativa da vitamina D
- Realização de gliconeogênese – jejum prolongado
A secreção de hormônios e a hidrólise dos pequenos peptídeos são outras funções essenciais dos rins. Os hormônios participam da regulação das dinâmicas sistêmicas e renal, da produção de hemácias e do metabolismo do cálcio, fósforo e ossos. A hidrólise dos pequenos peptídeos conserva os aminoácidos, destoxifica os peptídeos tóxicos e regula os níveis efetivos do plasma de alguns hormônios peptídicos. Por causa dessas múltiplas funções, há muitos sinais clínicos associados com doença renal.
Aspetos anatômicos
O sistema urinário é composto por:
- Dois rins;
- Dois uréteres;
- A bexiga
- Uretra.
Os rins são órgãos pareados vermelho-acastanhados que filtram o plasma e os constituintes plasmáticos do sangue e em seguida reabsorvem seletivamente água e constituintes úteis do 14 filtrado, finalmente excretando excessos e produtos residuais plasmáticos (FRANDSON, 2005). Cada rim é composto de milhões de diminutas unidades funcionais, o néfron, todas similares em estrutura e função, mantidas unidas por pequenas quantidades de tecido conectivo no qual se encontram vasos sanguíneos, nervos e linfáticos.
O conhecimento da função do néfron é essencial para entender a função renal. O néfron consiste em um componente vascular (o glomérulo), onde o sangue é filtrado, e um componente tubular, composto de vários segmentos distintos (túbulo contorcido proximal, alça de Henle, túbulo contorcido distal e túbulo coletor) onde o líquido filtrado é transformado em urina em seu trajeto até a pelve renal
Rim esquerdo e Rim direito
O rim direito
Possui forma elipsoide achatada, com fixação retroperitoneal dorsal, à musculatura sublombar. Ele é alojado cranialmente na impressão renal do fígado (DYCE et al., 2010). Segundo Feitosa (2010), o rim direito tem um comprimento que pode variar de 18 a 24 centímetros de tamanho e está localizado dorsalmente com a última costela e com as apófises transversas das três primeiras vértebras lombares.
O rim esquerdo
É rotacionado cerca de 90º ao redor do eixo da aorta e fica suspenso em uma prega relativamente longa, descansa na massa intestinal e é achatado pelo contato com o rúmen (DYCE et al., 2010). Segundo Feitosa (2000), o rim esquerdo mede cerca de 19 a 24 centímetros e tem um localização muito variável, pois depende da quantidade de ingesta dentro do rúmen. Quando o rúmen está parcialmente cheio o rim repousa à esquerda do plano médio, e quando o rúmen esta distendido, o rim esquerdo é pressionado para o plano médio e repousa abaixo e caudalmente ao rim direito
O rim é revestido por uma cápsula fibrosa cuja rigidez restringe a habilidade de expansão do tecido renal. O aumento de volume que ocorre em certas doenças renais tende a causar compressão do tecido, estreitamento das passagens internas e dor
Rim dos bovinos
Os rins dos bovinos são do tipo multipiramidal, onde são observadas pirâmides medulares separadas e recobertas por um córtex contínuo, apesar de em uma inspeção ocasional este também se mostrar lobulado por fissuras que se estendem para dentro, a partir de sua superfície. O córtex é encerrado em uma cápsula rígida, a qual é facilmente removida em um órgão saudável, exceto na região do hilo, onde ela se mistura à parede do ureter
Dyce et al. (2010) afirma que:
As regiões corticais e medulares são distinguíveis em secções macroscópicas pela cor muito mais clara da primeira e pelos vasos cortados que marcam seus limites mútuos. Os tufos vasculares glomerulares dispersos ao longo do córtex podem ser visíveis a olho nu. O ápice de cada pirâmide medular se encaixa em um cálice ou taça formada por um dos ramos terminais do ureter; esses ramos eventualmente se unem para formar dois grandes canais, os quais convergem dos polos cranial e caudal para resultar em um único ureter
“A vascularização do rim é muito mais extensa do que o tamanho do órgão poderia sugerir. As duas artérias renais podem carrear um quarto do sangue circulante. A artéria renal entra no hilo e se divide num número de ramificações relativamente grande, as artérias interlobulares. Estas passam perifericamente entre as pirâmides até o córtex, onde elas se curvam abruptamente e correm de uma maneira arqueada, sugerindo o nome de artérias arqueadas ou arciformes. Cada artéria arciforme desprende um número de arteríolas interlobulares dos glomérulos.
Deixando os glomérulos, a maioria das arteríolas eferentes se dispersa numa rede de capilares que circunda o resto do néfron. Estas arteríolas, que deixamos glomérulos perto da medula, correm diretamente para a medula como artérias renais, onde formam redes de capilares em volta dos tubos coletores. As veias arqueadas drenam o sangue do córtex e da medula, passam através da medula como veias interlobulares e entram na veia renal. A linfa é drenada do rim para os linfonodos renais.”
Os rins são inervados pelos nervos simpáticos do plexo renal, que segue os vasos sanguíneos e termina grandemente nas arteríolas glomerulares. As ramificações do nervo vago podem inervar os rins
As glândulas adrenais estão localizadas próximas aos rins. A glândula direita tem a forma de coração, e usualmente se localiza contra a margem medial da extremidade cranial do rim correspondente. A esquerda é menos regular na forma e menos constante em posição; geralmente é encontrada no interior da gordura perirrenal, alguns centímetros cranial ao rim esquerdo. A divisão em córtex e medula é bastante evidente nas secções macroscópicas
Constituindo o sistema urinário inferior estão os ureteres que são responsáveis pelo transporte da urina dos rins para a vesícula urinária e a uretra. Os ureteres chegam aos rins através do hilo, onde se conectam à pelve renal.
Cada ureter passa caudalmente para desembocar próximo ao colo da bexiga, área conhecida por trígono. A maneira pela qual o ureter passa obliquamente através da parede da bexiga forma uma válvula eficaz para prevenir o retorno do fluxo de urina para o rim
A vesícula urinária é intra-abdominal no bezerro jovem. No adulto, quando ela está vazia, fica confinada à cavidade pélvica, mas se estende para frente no assoalho abdominal quando se distende. O colo no interior da pelve não apresenta cobertura peritoneal e liga-se ao assoalho pélvico por meio de tecido adiposo e tecido conjuntivo frouxo. Os usuais ligamentos mediano e laterais estão presentes
Por fim, nos bovinos machos a uretra se prolonga como processo de 2 a 3 cm, que fica encaixado no sulco localizado do lado direito da extremidade peniana. Nos pequenos ruminantes ocorre o processo uretral que se projeta para além do pênis. A uretra feminina tem cerca de 10 a 13 cm na vaca. O orifício uretral externo se abre no assoalho da vagina, sob forma de fenda delimitada, lateralmente, por pregas de mucosa. Ventralmente ao orifício uretral externo, existe o divertículo suburetral, que se constitui em uma pequena bolsa, direcionada cranioventralmente, com cerca de 2 cm de diâmetro na vaca
Aspetos fisiológicos
Os rins são responsáveis pelo recebimento e filtração de cerca de 25% do débito cardíaco, que é o sangue que é ejetado por uma unidade de tempo. Os rins não devem apenas filtrar este sangue a fim de excretar resíduos metabólicos, devem também recuperar as substâncias filtradas necessárias ao organismo, incluindo proteínas de baixo peso molecular, água e uma variedade de eletrólitos
Um processo importante de se entender na fisiologia renal é a formação da urina (Figura 4), que tem três etapas envolvendo os nefróns, que são a filtração glomerular, reabsorção e secreção tubular (
Insuficiência renal
Os rins possuem grande capacidade de reserva funcional e podem manter a produção de urina, como também suas demais funções, enquanto sofrem algum tipo de doença. Assim, o clínico deve avaliar: (1) a possibilidade de existência de alguma doença renal em curso, sem comprometimento importante da função e (2) a possibilidade de haver déficit da função renal
A incapacidade dos rins desempenharem suas funções metabólicas e endócrinas normais, sendo de forma parcial ou total, é conhecida por insuficiência renal e falência renal. Essa incapacidade pode ser desencadeada por causas pré-renais, renais ou pósrenais, onde irá resultar em retenção de constituintes do plasma que normalmente são removidos pelos rins.
Aspeto da Urina
Normal
Cor: âmbar a amarelada
Transparência: clara ou turva
Anormal
Sangue: coágulo ou avermelhada turva
Hemoglobina: avermelhada transparente
Mioglobina: amarronzada
Exsudato inflamatório: turvação ou filamentos
Referencias
COLVILLE, T. P. BASSERT, J; Anatomia e Fisiologia Clínica para Medicina Veterinária, 2ª Ed. Rio de Janeiro ; Elsevier. p. 206,. 2010.
CUNNINGHAM, J; BREDLEY, G. Tratado de Fisiologia Veterinária/ 5ª Ed. Rio de Janeiro: Elsevier. 2008.
DYCE, K.M. SACK, C. Tratado de Anatomia Veterinária, 3ªEd.- Rio de Janeiro. Elsevier. 2004.