A Web 2.0 (termo que faz relação com o tipo de notação em informática que indica a versão de um software) é a segunda geração de serviços online e se caracteriza por potencializar as formas de publicação, compartilhamento e organização de informações, além de ampliar os espaços para a interacção entre os participantes do processo
A Web 2.0 se refere não apenas a uma combinação de técnicas informáticas, mas também a um determinado período tecnológico, a um conjunto de novas estratégias mercado lógicas e a processos de comunicação mediados pelo computador.
A educação tem sido uma das áreas mais beneficiadas com a “interferência” das novas tecnologias, especialmente as relacionadas com a Web 2.0. Por ela, resulta fundamentalmente conhecer e aproveitar a bateria de novos dispositivos digitais, que abrem inexploradas potencialidades a educação e a investigação. A Web 2.0 se trata de um território potencial de colaboração na qual podemos empregar de maneira adequada processo de ensino e aprendizagem. Um dos principais benefícios desta nova aplicação Web – de uso livre e que simplificam tremendamente a cooperação entre pares – responde ao princípio de não requerer do usuário uma alfabetização tecnológica avançada. Estas ferramentas estimulam a experimentação, reflexão e a geração de conhecimentos individuais e colectivos, favorecendo a conformação de um ciberespaço de interactividade que contribui a criar um ambiente de aprendizagem colaborativo.
As primeiras experiências de Educação a Distância (EAD) relatam a utilização de mídias “convencionais” como impressos, rádio, TV e computador desconectado da rede, na perspectiva de um relacionamento assíncrono de um para muitos ou de um para um. Com o advento da internet e as potencialidades da EAD via Web, a principal mudança está na possibilidade de uma interacção síncrona, em tempo real, independentemente da localização física dos participantes do grupo.
De acordo com Haguenauer e Pedroso (2003) a aprendizagem colaborativa e o trabalho colaborativo tornam-se figuras centrais no EAD via Web, viabilizadas pelas ferramentas de comunicação e interacção das plataformas de ensino. Conforme as autoras, vários métodos desenvolvidos e utilizados para a EAD via Web vêm sendo aproveitados como apoio ao ensino presencial, possibilitando uma hibridização do ensino a distância e ensino presencial – na concepção do ensino semipresencial, que proporciona uma nova cultura do ensino on-line junto a alunos e professores.
Os recursos da Web 2.0 ganham cada vez mais centralidade nesse contexto. Grosseck,Marinho e Tárcia (2009) ao reflectirem sobre a EAD baseada na Web 2.0 indicam uma perspectiva pedagógica que presume modificações no método de ensino, permitindo, por exemplo, aos alunos colaborar, envolver-se activamente na criação de conteúdos compartilhar ou trocar informações on-line. Os autores listam algumas características e contribuições da Web 2.0 que a coloca como vector de mudanças no contexto educacional, destacam-se algumas:
O Moodle1, o Amadeus2 e outras plataformas de ensino (ambientes virtuais de aprendizagem) apresentam parte dessas características a partir de funções que contribuem com aprendizagem colaborativa: fóruns de discussão, blogs e wikis. Mas quando são adoptadas por instituições de ensino e usadas na EAD ou mesmo no ensino presencial, podem ser consideradas “fechadas”, pois o acesso e a interacção são restritos aos professores e alunos em turmas previamente cadastrados de acordo com a política institucional adoptada.
Nesse contexto o uso de recursos da Web 2.0 na educação por meio de serviços abertos, como é o caso dos wikis, blogs, dos microblogs e das redes sociais na internet (BLATTMANN; CORRÊA 2011) ganham cada vez mais espaço. Esses ambientes se tornam ricos espaços de trocas e fazem com que o assunto discutido ultrapasse as limitações espaço temporal da sala de aula uma vez que “ganha” a rede e suas múltiplas possibilidades.
A aplicação mais popular da Web 2.0 na educação são os “wikis, blogs e podcasts3”.Reconhecidos pelos autores como “softwares sociais”, ou “tecnologias da Web 2.0 (que) representam um revolução quanto a Web 1.0 na maneira de gerenciar e dar sentido ou ofertar a informação online” (BLATMANN; CORRÊA DA SILVA, 2007, p.194). Os wikis permitem maior interactividade por meio da colaboração entre editores e isso os torna bem apropriados para o uso educacional, pois dá centralidade ao usuário (aluno) e o elege como produtor de conteúdo em uma perspectiva de construção colectiva.
Tais tecnologias deveriam fazer parte da formação do professor “com ênfase na formação e manutenção de redes de relações sociais” na construção de uma “cultura digital que se fundamenta em tecnologias e processos livres e abertos”, para que continuem a crescer
Os blogs são géneros comunicacionais emergentes que vêm se destacando no cenário digital brasileiro, sua usabilidade e lógica de comunicação interactiva contribuem com o processo de socialização do conhecimento, podendo inclusive ser considerados tanto “uma fonte utilitária de informação e como canal de disseminação da informação”
O microblog é uma variação do blog (CAMARGO, 2008; PIMENTEL et al., 2009),pois contém os mesmos princípios de um blog com certas limitações em relação à quantidade de informação que pode ser trafegada e a maneira como a mensagem trafega dentro desta rede social, que no blog funciona sob outra lógica. O Twitter (www.twitter.com), lançado em 2006é um bom exemplo de microblog e além de ser considerado uma rede social (BOYD;ELLISON, 2007; RECUERO; ZAGO, 2010; PEREIRA; CRUZ, 2010) funciona como um servidor para microblogs no qual o usuário cria uma conta (“@+nome” – pública ou privada) que lhe dá acesso a uma página onde é possível incluir foto, escolher imagem de fundo, construir um perfil (bio) e publicar mensagens (tweets). As relações se estabelecem a partir da escolha de quem o usuário deseja seguir (following) e por quem ele poderá ser seguido (followers). A mensagem postada por um usuário aparece automaticamente na página principal ou linha do tempo (timeline) da sua rede de seguidores.
A comunicação e intercâmbio de informações entre os usuários, o que indicam a interactividade da rede, podem ocorrer de três formas: o usuário ao postar uma mensagem menciona (mention) um outro usuário (da sua rede ou não); ao ver uma actualização em suatimeline o usuário pode responder (reply) ou reproduzir (retweet ou RT) a mensagem.
O que caracteriza o Twitter como microblog é sua lógica de comunicação baseada noShort Message Service (SMS) na qual oferece apenas 140 caracteres de espaço para escrever.
No teor da mensagem o usuário pode usar o recurso da hashtag indicado pelo símbolo “#”que funciona como marcação de palavras-chave, que agregam valor semântico aos tweets,auxilia na categorização das mensagens e no acompanhamento de determinados assuntos. Osnomes4 e hashtags mais usadas pelos usuários se tornam populares e podem aparecer noTrending Topics5.
De acordo com Recuro e Zago (2010) o Twitter é um site de rede social propícia para o estudo de difusão de informações. Por mesclar características de blog, SMS e mensageiro instantâneo, o microblog apresenta um carácter informacional, visto que nas trocas informacionais os usuários podem incrementar as mensagens curtas e incluir links de sites com notícias, imagens, vídeos, ou mesmo postar fotos próprias, por meio de aplicativos como o Twitpic6.
Ao discutirem sobre o uso potencial de microblogs como o Twitter na educação, Pimentel e outros (2009) destacam que no contexto do ciberespaço (LÉVY, 2000) os conceitos de comunicação e interacção são retomados e analisados na busca por um melhor aproveitamento da Rede, em vista da compreensão do “como” se processa o ensino aprendizagem, a partir do entendimento de que a educação é gerada pela mediação que ocorre nos espaços e ambientes virtuais.
Falar em mediação nesse contexto é necessariamente repensar o papel, até então unilateral, do professor em relação ao aluno e transferi-lo para um lugar que pode inclusive ser descentralizado, mas jamais perca sua actuação de influenciar, instigar e motivar. Isso implica dizer também que o aluno assume um papel mais autónomo e crítico de criação e colaboração.
Ao reflectir sobre a epistemologia do professor, Becker (1998) apresenta três concepções pedagógicas que podem estar presentes em sala de aula. Uma delas é a do ensino centrado na relação entre docente e aluno, na qual, segundo o autor nenhum dos dois dispõe de superioridade prévia, uma vez que, o docente traz sua bagagem, o aluno também, porém são bagagens diferenciadas que entram na relação de ensino-aprendizagem. Consideramos que essa concepção se materializa em uma prática pedagógica interactiva, e que com a incorporação de recursos da Web 2.0 no apoio ao ensino pode contribuir nessa direcção.
Como usar a Web 2.0 na pesquisa
Os serviços online também são conhecidos como as ferramentas da Web 2.0. Várias delas estão disponíveis na Internet para auxiliarem o usuário em alguma tarefa. São algumas bastante difundidas na Internet: Blogue, Youtube, Delicious, Wikipedia, Mapas Conceituais Online e Google Docs.
Há um uso expressivo dessas ferramentas pelo público virtual uma vez que uma das principais características da Web 2.0 é a de criar interfaces amigáveis possibilitando para o usuário uma fácil adaptação que reflecte em uma rápida aprendizagem no uso da ferramenta, Machado (2009). Outro factor bastante influenciador é a gratuidade da maioria das ferramentas. Qualquer usuário com apenas alguns cliques da mousse poderá usufruir dos recursos que os serviços online podem oferecer.
Dentre as ferramentas da Web 2.0 citadas acima, vimos o Google Docs. Esta é uma ferramenta que vem aos poucos se manifestando com grande potencial de se aliar à educação, como é o caso da abordagem ensino com pesquisa. Surgiu em 2006, através da unificação de dois serviços, o de processamento de textos e de planilhas. Podemos defini-la actualmente como o conjunto de serviços online capazes de processar textos, planilhas, apresentações, desenhos e formulários de forma colaborativa e gratuita, isto é, vários usuários podem estar participando activamente do processo de criação e edição de tais documentos.
Optamos por essa ferramenta, pois através de seu serviço formulário possibilita ao investigador formas inovadoras de elaboração, disponibilização e avaliação dos questionários tidos em pesquisas Survey.
Os serviços do Google Docs que são responsáveis pelo gerenciamento de documentos, apresentações, desenhos, e outras opções de formulário também não serão discutidos. Este último pode conter intuitos/objectivos diferentes dos quais tomamos neste trabalho – colectar dados em uma pesquisa quantitativa – como, por exemplo, cadastro de eventos para diversas finalidades.
Antes de dar início a elaboração do questionário no Google Docs, é preciso ter um e-mail e a cessar o Google Docs através do link2, http://docs.google.com, em algum browser (navegador de internet) inserindo os dados da conta para realizar o Login3. Após isso, o Google Docs está pronto para elaboração do questionário.
Temos como procedimentos de elaboração, disponibilização e avaliação dos questionários tendo como mediador o Google Docs.
- Os questionários são gerenciados pelo Google Docs. As perguntas do questionário são inseridas directamente no Google Docs, na ferramenta “formulários” e ficam disponíveis online já que o formulário está sendo salvo em um servidor virtual da Google. É nesta etapa que o pesquisador vai orientar o público visado sobre como responder aos questionamentos. Por isso, é a etapa que o pesquisador irá precisar de um maior tempo uma vez que irá exigir um bom planejamento e uso de estratégias que irão depender do público que irá ter acesso ao formulário em sua futura disponibilização;
- Após gerar o link do formulário e enviá-lo para o público visado, não há necessidade de encontros presenciais para a aplicação do questionário;
- Após a elaboração do questionário na ferramenta Google Docs, a tarefa se torna muito simples para atingir o público visado. A disponibilização do questionário é dada através da Internet por meio de um link, como este, https://spreadsheets.google.com/viewform?formkey=dGtUQkVnbEM1Z2FxYmhRTENMTjRObW6MQ, gerado automaticamente pela ferramenta. Não é necessário, portanto, o deslocamento do pesquisador para o local onde está presente o grupo/população visado, em contrapartida, é imprescindível que esse grupo a ser questionado tenha acesso a computadores ou outros equipamentos conectados à internet. Basta, pois, enviar o link do formulário para o público visado, seja via e-mail, SMS, Facebook, Orkut, Twitter e outros. Como consequência, não é necessária a impressão do questionário ou realização de cópias, isto é, fica dispensada a utilização de papel na aplicação do questionário, visto que o formulário é a cessado e respondido através da Internet.
- Os dados inseridos pelo público-alvo no formulário online são vinculados a uma planilha electrónica;
- A qualquer momento pode ser observado como está o andamento da pesquisa, ou seja, a análise pode ser realizada em tempo real;
- O procedimento é único por parte do público-alvo: somente acessar o link do formulário e inserir os dados, assim, os dados da pesquisa se tornam mais confiáveis/precisos;
- Os dados não são armazenados em dispositivos físicos, mas sim em servidores virtuais, neste caso, o da Google.
Referencias bibliográficas
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MATTAR, J. Web 2.0 e redes sociais na educação. São Paulo: Artesanato Educacional, 2013.