Conceitos básicos
O termo fenomenologia significa estudo dos fenómenos, daquilo que aparece à consciência, daquilo que é dado, buscando explorá-lo. A própria coisa que se percebe, em que se pensa, de que se fala, tanto sobre o laço que une o fenómeno com o ser de que é fenómeno, como sobre o laço que o une com o Eu para quem é fenómeno.
A fenomenologia visa, assim, ser uma ciência de rigor, que se direcciona à investigação
do conhecimento, das condições de que algo pode ser objecto de pensamento. Husserl (1992) fala da consciência como o objecto norteador da fenomenologia. Ele, quando esta tem tematicamente objectos da consciência, seja qual for sua Natureza, se reais ou ideais, tem-nos apenas como objectos dos respectivos modos de consciência.
Merleau-ponty, (1999). cit. Em Pereira (2010) a fenomenologia busca evidenciar as essências repondo-as na existência, na medida em que o palpável sempre existiu “ali”, numa forma prévia ao pensamento. A abstracção intelectual espácio-temporal do mundo “vivido” materializou-se no exercício descritivo da experiência da maneira como ela ocorre, uma vez que o real deve ser registado e não construído ou constituído.
Reforçando este argumento afirma que o sentido da fenomenologia está em nós mesmos, no mundo vivido e na relação espaço-tempo. Ao trabalhar estas categorias Merleau-Ponty sustenta a crítica a forma de produção de conhecimento científico na modernidade centrado no objectivismo e facilita a construção de novos olhares no seio do pensamento geográfico. Voltaremos a esta questão posteriormente. No momento é importante compreender o fundamento da crítica do autor à ciência moderna.
Breve historial
A fenomenologia como corrente de pensamento surge no final do século XIX com Franz Brentano (1838-1917) Mais que influência, na perseguição de suas questões, Husserl procurará superar a “psicologia descritiva” de Brentano. Mantendo e endossando a crítica de Brentano ao método das ciências morais, em especial à psicologia experimental, Husserl procurará rejeitar a tendência ao que chama de “naturismo”, responsável por ofuscar a afirmação de um objecto. E tem suas principais ideias desenvolvidas por Edmund Husserl (1859-1938). É o contacto com Brentano que vai despertar em Husserl o olhar para as insuficiências das Ciências Humanas, as “ciências morais” de então. Aquele já censurava a adopção do método das ciências naturais pelas ciências humanas, em especial na psicologia, apontando que se tratava de uma aplicação, ou reaplicação metodológica, despreocupada em discernir o seu próprio objecto.
A Fenomenologia tem como princípio norteador analisar a essência dos fenômenos através de uma consciência intencional.
Alfred Schütz nasceu em Viena em 1899 e morreu em Nova York, em 1959. É considerado o primeiro autor a propor uma síntese entre sociologia e fenomenologia
de forma abrangente e sistemática. Estudou Direito e Ciências Sociais em Viena. E como profundo conhecedor da filosofia de Husserl, procurou a confrontar com a sociologia da acção de Weber. As bases do seu pensamento estão nas obras desses autores, além dos estímulos ou influências de outros pensadores como Bergson, James, Scheler, Dewey, Mead, Whithead etc.
Lencioni (2003) cit. Em Pereira (2010), a Geografia Fenomenológica surgiu com base nas concepções filosóficas da fenomenologia como forma de reacção ao objectivismo positivista, o excesso de racionalismo, a materialização, a teorização, a instrumentalização, a ideologia e o dogmatismo apresentado pela racionalidade científica. As críticas avolumaram e fizeram a Geografia buscar novos caminhos e novas fontes teóricas.
Nesta direcção, Lencioni (2003, p. 149) discutiu as características da fenomenologia com base em Husserl, dizendo que “a fenomenologia prioriza a percepção e entende que qualquer ideia prévia que se tem sobre a natureza dos objectos deve ser abolida”. Reporta-se a Merleau-Ponty quando este discute a relação entre natureza e consciência, na qual a relação entre o homem e o mundo ocorre por meio da percepção.
Para Pereira (2010), No campo fenomenológico, o espaço tornou-se um objecto muito importante para pesquisa geográfica. Nesse processo, as categorias geográficas são interdependentes e isso resulta num campo fértil para estudo do espaço a partir de sua interação entre o lugar, a paisagem, a região e o território, visando manter as relações entre fenômenos que se manifestam a todo instante no espaço.
Para Pereira (2010), em linhas gerais a Geografia Fenomenológica propõe uma orientação metodológica que utilize técnicas de observação, questionário, entrevistas, depoimentos, entre outros; que enfatize o estudo de eventos únicos, contrariamente aos estudos de eventos gerais; que incorpore o indivíduo no processo de construção do conhecimento, sendo que cada indivíduo apresenta especificidades para apreensão e avaliação do espaço; que resgate as noções de espaço e de lugar, uma vez que ambos trazem consigo a ideia de percepção, valores, comportamento, atitudes e motivações; e que priorize aspectos relacionados a subjectividade, intuição, simbolismo, sentimentos e experiências e o espaço torna-se concebido pelo espaço presente.
A paisagem é aqui representada como cheia de predicados ao se tratar de lembranças afetuosas de uma população culturalmente apegada com seus lugares. A modificação desta paisagem natural, trás a população uma sensação de vazio, visto que há uma ligação direta deste povo com o ambiente natural que os cercam e fazem parte de seus ciclos de vida e de convívio. Neste contexto de manifestações da paisagem, segundo Solórzano; Oliveira e Guedes-Bruni (2009, p. 52): “a paisagem é retratada como a manifestação material das relações entre os seres humanos e o meio ambiente”.
A observação da paisagem é de grande importância, uma vez que retrata as relações sociais estabelecidas em um determinado local, onde cada observador seleciona as imagens que achar mais relevantes, portanto, diferentes pessoas enxergam diferentes paisagens.
Uma paisagem representa diferentes momentos do desenvolvimento da sociedade. Sendo esta o resultado de uma acumulação de tempos. Para Marques (2001), o pensar da paisagem implica também a presença de um juízo critico sobre o poder humano de modelar e transformar. A paisagem, assim como o espaço, altera-se continuamente para poder acompanhar as transformações da sociedade.
É através de uma consciência intencional que o homem observa e analisa uma paisagem. As descrições de paisagens realizadas por Humboldt (1952) eram marcadas de intencionalidades, visto que o autor pretendia “mostrar” ao mundo paisagens, até então, pouco conhecidas. A metodologia aplicada, além das descrições, era multiplicar os pontos de vista e abarcar o todo.
BIBIOGRAFIA
PEREIRA Gonçalves Andrei, Luiz geografia fenomenológica: espaço e percepção, v. 11, 2010.