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Conceitos básicos
Fonema: trata-se dos sons produzidos pelos falantes, os quais se articulam e formam as palavras. Eles representam as menores unidades sonoras que formam as palavras de uma língua.
Segundo Mateus et al (2005:45), a Fonética é o estudo dos sons da fala humana, da sua produção à sua percepção.
A Fonologia é definida como “uma área da Linguística que estuda os sistemas de sons das línguas, sistemas esses que têm correspondência no conhecimento intuitivo e mental que os falantes possuem da sua língua.”
Fonologia
O fonema como uma unidade fonológica
Fonema como uma unidade mínima distintiva do sistema de som, sendo a menor unidade fonológica da língua. Ao conceituar o fonema como elemento mínimo do sistema da língua, a linguística moderna pode avançar metodologicamente, pois permitiu a segmentação na análise da fala.
Os traços redundantes e traços distintivos
- Os traços distintivos têm seus fundamentos na fonética –correlatos articulatórios, acústicos e perceptuais;
- Os traços devem ser adequados para caracterizar diferenças fonéticas entre línguas naturais; os traços devem acomodar os alofones principais de uma língua;
- O conjunto de traços distintivos deve acomodar todos os contrastes num sistema de língua, uma vez que os traços servem para categorizar os contrastes fonémicos de uma língua;
Traços Distintivos de Vogal podem ser: Alto, baixo, recuado, arredondado.
Distribuição complementar e a variação livre
Distribuição complementar
Quando dois ou mais sons nunca ocorrem no mesmo contexto fonémico diz-se que se encontram em distribuição complementar.
Por exemplo, os segmentos /z/ e /c/ nunca ocorrem no mesmo contexto fonémico, ou seja, na palavra /cinco/ só pode ocorrer o segmento /c/ e não o /z/. Pois, se assim acontecer estaremos num contexto fónico diferente do da palavra cinco, que seria zinco, que é diferente de cinco.
Variação livre
Quando, na pronúncia duma palavra, dois fonemas podem ocorrer em alternância mas sem alterar o seu significado. Por exemplo, no contexto moçambicano, algumas pessoas pronunciam como /i/ e outras como /e/ a primeira vogal [e] da palavra económico – [ikunómiku] /[ekunómiku]. Por isso, diz-se que /e/ e /i/ estão em variação livre.
Exemplo de fonemas do português
Fonemas vocálicos orais | Representação | Exemplo |
/a/ | A | amor |
/e/ | E | beijo |
/é/ | E ou É | berro, café |
/i/ | I | ilha |
/o/ | O | olho |
/ó/ | O ou Ó | cola, mói |
/u/ | U | uva |
Quadro – 1: Fonemas do português. Fonte: autora 2021
Fonemas vocálicos nasais | Representação | Exemplo |
/ã/ | Ã | rã |
/ã/ | AM | campo |
/ã/ | NA | anta |
/ẽ/ | EM | sempre |
/ẽ/ | EN | sente |
/ĩ/ | IM | sim |
/ĩ/ | IN | cinto |
/õ/ | Õ | põe |
/õ/ | OM | pomba |
/õ/ | ON | ponta |
/ũ/ | UM | bumbo |
/ũ/ | UN | mundo |
Quadro – 2: Fonemas do português. Fonte: autora 2021
Exemplo de fonemas do Inglês
VOGAIS | CONSOANTES | ||
AFI | EXEMPLOS | AFI | EXEMPLOS |
ʌ | cup, luck | B | bad, lab |
ɑ: | arm, father | D | did, lady |
æ | cat, black | F | find, if |
e | met, bed | G | give, flag |
ə | away, cinema | H | how, hello |
ɜ:ʳ | turn, learn | J | yes, yellow |
ɪ | hit, sitting | K | cat, back |
i: | see, heat | L | leg, little |
ɒ | hot, rock | M | man, lemon |
ɔ: | call, four | N | no, tem |
Quadro – 3: Fonemas do Inglês. Fonte: autora 2021
Exemplo de fonemas das línguas bantu
ARTICULAÇÃO | PONTO | ||||
Modo | Labial | Alveolar | Palatal | Velar | Glotal |
Ocluviva | mp mb | nt nd | nc nj | nk ng | nq
ngq |
Africada | mpf mbv | nts ndz | |||
fricativa | mf mv | ||||
Lateral | ntl ndl | nhl |
Quadro – 4: Fonemas do Changana Fonte: autora 2021
Regras fonológicas
Segundo Duarte. (2000), A Regra fonológica é a operação fonética dos sons que todos os falantes usam mas, em alguns casos, inconscientemente as conhecem. Das diversas regras fonológicas elaboradas, vai-se, neste texto, focalizar as seguintes:
Regra de assimilação
Um som ou fonema adquire um traço do outro fonema vizinho, ou seja, copia o traço do fonema sequencial criando uma semelhança entre os dois sons. É o efeito de vizinhança de um determinado som com o outro, provocando uma semelhança entre eles em termos de traços fonéticos.
Exemplo: na palavra atenção, a vogal /e/ assimila o traço [+nasal] da consoante nasal /n/ devido ao efeito de vizinhança entre os dois sons com traços distintos.
Regra de reforço do traço
Nem todas as regras são de assimilação. A regra que aspira as oclusivas surdas em certos contextos em inglês constitui a regra de reforço do traço, pois quando se adiciona à consoante surda bilabial /p/[- contínuo; -voz ] o aspirador /h/ em palavra como phonology, aquela passa a ter mais outro traço [+aspirado].
Assim, a regra de reforço de traço acrescenta mais traços aos sons ou fonemas.
Regra de redução e reforço
As regras fonológicas não se circunscrevem apenas nas regras de assimilação (modificação de traço) ou reforço do traço, como também encontramos as regras de redução e reforço que consistem, respectivamente, em omitir ou acrescentar segmentos fonémico completo.
Esta regra é mais evidente em francês, por exemplo, as consoantes finais de uma palavra, quando essa mesma palavra segue outra iniciada por uma consoante ou líquida, são apagadas – redução.
Exemplo: petit tableau, pronuncia-se [peti tableau].
Ocorre, também, a redução em inglês, por exemplo, na contracção das palavras he is surge a palavra he´s. Todavia, em francês, por exemplo, as consoantes permanecem quando a palavra seguinte inicia por uma vogal – pode-se considerar regra de reforço.
Exemplo: petit ami, ficando [petit ami].
Regra de movimento ou metátese
Esta regra ocorre quando há uma deslocação de fonemas de um ponto da cadeia para o outro.
Exemplo: em alguns dialectos de inglês, a palavra ask pronuncia-se [aks].
Aqui, a regra de metátese “troca” /s/ com /k/, em certos contextos
Representação fonémica e representação fonética
A transcrição fonética é a representação dos sons da fala através de símbolos fonéticos. O uso do til indica a nasalização da vogal e o uso do apóstrofo antes de uma sílaba indica a sua tonicidade.
Regras fonológicas: assimilação e dissimilação
Assimilação
Por assimilação, entende-se a modificação de um som por influência do som vizinho que com ele passa a partilhar traços articulatórios (i.e. torna-o foneticamente parecido ou igual a ele). A assimilação de um som pode verificar-se por influência do som anterior (será uma assimilação progressiva), do som seguinte (uma assimilação regressiva), por influência simultânea dos sons anterior e seguinte (assimilação dupla) e por influência de um som não contíguo (assimilação à distância). Os contextos fonéticos (i.e. palavras concretas onde ocorrem as mudanças fonéticas) mais propícios à assimilação são os nasais, os anteriores e os intervocálicos
- Contextos nasais: – Uma vogal vizinha de [m] e [n], sons que são consoantes nasais, tem tendência para deixar de ser vogal oral e passar a ser vogal nasal.
- Contextos anteriores ou palatais: – Outras assimilações podem dar-se junto de vogal anterior, tradicionalmente chamada palatal [i] ou [e], ou junto de semivogal anterior, ou palatal, [j].
- Contextos intervocálicos: – Aqui já se observa a assimilação dupla. Por assimilição dupla entende-se aquele tipo de influência simultânea que as vogais exercem sobre uma consoante que ocorra entre elas na cadeia sintagmática.
Dissimilação
Por dissimilação entende-se a modificação de um som por influência de um som vizinho, articulatoriamente próximo que, com ele, e por sua influência, deixa de partilhar traços articulatórios (i.e. torna-se foneticamente diferente). Esta é também, tal como a assimilação; uma mudança sintagmática, que envolve elementos da mesma cadeia sintagmática (i.e. sons da mesma palavra), mas é muito menos regular, ocorrendo apenas esporadicamente, pelo que é difícil também calcular uma data precisa para a sua ocorrência
Dissimilação entre vogais:
LOCUSTA->lagosta ROTUNDA->redonda
VENTA:NA->ventãa>venta CAMPA:NA->campãa>campa
Dissimilação entre consoantes:
MEMORA:RE>nembrar>lembrar ANIMA->alma LOCA:LE->logar>lugar
Bibliografia
Mateus, M. H. M. et al. Fonética e Fonologia do Português. S/ed.; Lisboa, Universidade Aberta, 2005.
Câmara, Jr., J.M. Para o Estudo da Fonémica Portuguesa. Rio de Janeiro, Organização Simões, 1953.
Duarte, I. Língua Portuguesa – Instrumento de Análise. Lisboa, Universidade Aberta, 2000.