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Conceitos básicos
O termo fenomenologia significa estudo dos fenómenos, daquilo que aparece à consciência, daquilo que é dado, buscando explorá-lo.
A fenomenologia visa, assim, ser uma ciência de rigor, que se direcciona à investigação do conhecimento, das condições de que algo pode ser objecto de pensamento. Husserl (1992) fala da consciência como o objecto norteador da fenomenologia.
Reforçando este argumento afirma que o sentido da fenomenologia está em nós mesmos, no mundo vivido e na relação espaço-tempo. Ao trabalhar estas categorias Merleau-Ponty sustenta a crítica a forma de produção de conhecimento científico na modernidade centrado no objectivismo e facilita a construção de novos olhares no seio do pensamento geográfico.
De acordo Santos (1997), Paisagem é o conjunto de formas que num dado momento, exprimem as heranças que representam as sucessivas relações localizadas entre o homem e a natureza. Ou ainda, a paisagem se dá como conjunto de objectos concreto (p.5).
De todo modo, actualmente, a definição mais aceita de paisagem é a de que ela é a representação de tudo aquilo que podemos captar com os nossos sentidos: visão, tato, olfacto, paladar e audição.
Paisagem não seria a simples junção de elementos geográficos…, mas a combinação dinâmica, estável, dos elementos físicos, biológicos e antrópicos, porque a paisagem não é apenas natural, mas é total, com todas as implicações da participação humana.
Fenomenologia
A Fenomenologia tem como princípio norteador analisar a essência dos fenómenos através de uma consciência intencional. Lencioni (2003) cit. Em Pereira (2010), a Geografia Fenomenológica surgiu com base nas concepções filosóficas da fenomenologia como forma de reacção ao objectivismo positivista, o excesso de racionalismo, a materialização, a teorização, a instrumentalização, a ideologia e o dogmatismo apresentado pela racionalidade científica.
A maneira em que determinado objecto se relaciona com outro ocorre pela subjectividade.
O método fenomenológico se define, então, como uma volta às mesmas coisas, isto é, aos fenómenos, aquilo que aparece à consciência. “A fenomenologia se preocupa essencialmente com o rigor epistemológico, promovendo a radicalização do projecto de uma análise crítica dos fundamentos e das condições de possibilidade do conhecimento”
A fenomenologia visa, assim, ser uma ciência de rigor, que se direcciona à investigação do conhecimento, das condições de que algo pode ser objecto de pensamento.
Constata-se assim que a fenomenologia é um método que sustenta uma ciência de rigor e a proposta para a investigação de conhecimento pela articulação da objectividade e subjectividade. Ao optar pela fenomenologia como fundamentação, assume-se a responsabilidade de produção do conhecimento indo às mesmas coisas.
Para Pereira (2010), em linhas gerais a Geografia Fenomenológica propõe uma orientação metodológica:
- Que utilize técnicas de observação, questionário, entrevistas, depoimentos, entre outros;
- Que enfatize o estudo de eventos únicos, contrariamente aos estudos de eventos gerais;
- Que incorpore o indivíduo no processo de construção do conhecimento, sendo que cada indivíduo apresenta especificidades para apreensão e avaliação do espaço;
- Que resgate as noções de espaço e de lugar, uma vez que ambos trazem consigo a ideia de percepção, valores, comportamento, atitudes e motivações;
- Que priorize aspectos relacionados a subjectividade, intuição, simbolismo, sentimentos e experiências e o espaço torna-se concebido pelo espaço presente.
Características da Fenomenologia
Nesta direção, Lencioni (2003) discutiu as características da fenomenologia com base em Husserl, dizendo que:
- a fenomenologia prioriza a percepção e entende que qualquer ideia prévia que se tem sobre a natureza dos objectos deve ser abolida”. Reporta-se a Merleau-Ponty quando este discute a relação entre natureza e consciência, na qual a relação entre o homem e o mundo ocorre por meio da percepção.
- A fenomenologia busca uma fundamentação totalmente nova, não só da filosofia, mas também das ciências singulares, enquanto as ciências positivas consideram os objectos como independentes do observador, a fenomenologia tematiza o sujeito.
- O método da fenomenologia estabelece uma relação directa com o objecto de conhecimento e o sujeito conhecedor, acreditando na visão de ser humano que se dedica a voltar às mesmas coisas.
O método regressivo progressivo proposto pelo filósofo Henri Lefebvre (1978) tem a sua concepção atribuída a Marx (Duarte, 2006) e baseia-se em uma análise do presente partindo do actual para o passado para o esclarecimento dos processos em curso e apontamentos para o futuro.
De acordo com Lefebvre (1972, p. 30), o conhecimento passa por um “movimento de duplo sentido:
- Regressivo (do virtual ao actual, do actual ao passado);
- Progressivo (do superado e do terminado, ao movimento que determina aquela conclusão e que anuncia e faz surgir algo novo) ”.
Sendo assim, os fenómenos devem superar a linearidade da sucessão dos fatos e serem compreendidos enquanto processos articulados nas mais diferentes temporalidades. O método regressivo-progressivo, compreende três momentos de investigação, a saber:
O descritivo
Consiste com a observação do objecto de estudo, com diversas técnicas e embasamentos teóricos que coadjuvem na descrição. A descrição não deve ser baseada apenas na descrição pura e rasa dos fatos, pois isso engendraria uma análise parcial da realidade.
Segundo MARTINS (1996), o pesquisador deve se apoiar em teorias críticas para a descrição do visível, “cabe ao pesquisador reconstituir, a partir de um olhar teoricamente informado, a diversidade das relações sociais, identificando e descrevendo o que vê” (p. 21).
O analítico-regressivo
O analítico-regressivo, prevê a análise da realidade descrita considerando as contradições e possibilidades, bem como as diferentes temporalidades dos fenómenos encontrados.
Para Martins (1996), a realidade é analisada, decomposta. É quando o pesquisador deve fazer um esforço para datá-la exactamente. Cada relação social tem sua idade e sua data, cada elemento da cultura material e espiritual também tem a sua data.
Histórico-genético
Na etapa histórico-genética ou regressiva-progressiva, último momento do método, reencontra-se o presente descrito, retomando as modificações que a estrutura apresenta. Isto é, busca-se a génese da formação das estruturas, apontando um marco geral de transformação em uma visão holística do processo.
Na perspectiva de Lefebvre (1978), é fundamental que se considere a interacção das estruturas e a influência das estruturas recentes sobre as precedentes, subordinadas (p. 22)
Nesse momento regressivo-progressivo é possível descobrir que as contradições sociais são históricas e não se reduzem a confrontos de interesses entre diferentes categorias sociais. Ao contrário na concepção lefebvriana de contradição, os desencontros são também desencontros de tempos e, portanto, de possibilidades. Na descoberta da génese contraditória de relações e concepções que persistem está a descoberta de contradições não resolvidas, de alternativas não consumadas, necessidades insuficientemente atendidas, virtualidade não realizadas. Na génese dessas contradições está de fato a gestação de virtualidades e possibilidades que ainda não se cumpriram.
Paisagem Geográfica e a Fenomenologia
O que é paisagem para a Geografia? Inicialmente, é tudo aquilo que a visão pode abarcar, diria Milton Santos (1996), mas ele complementa que esta visão é dotada de intencionalidades, afirmando que: a noção de intencionalidade não é apenas válida para rever a produção do conhecimento. Essa noção é igualmente eficaz na contemplação do processo de produção e de produção das coisas, considerados como um resultado da relação entre o homem e o mundo, entre o homem e o seu entorno
No âmbito da Geografia a Fenomenologia poderá fornecer um aporte para compreensão da valorização subjectiva do espaço geográfico. O objectivo não é negar a existência de um mundo material, mas compreender como o conhecimento do mundo acontece através das intencionalidades. Nesse sentido Souza (1989) afirma que não existe algo como uma face objectiva pura da realidade social tanto quanto não existe uma subjectividade que crie ou se imponha absolutamente ao mundo.
De acordo com Claval (2004) multiplicar os pontos de vista é o mesmo que construir uma visão horizontal do fenómeno que expressa uma leitura de paisagem, à qual, todos têm acesso. Porém, para este autor a inconveniência do olhar horizontal é a revelação apenas de uma parte do real. Além do olhar horizontal, as fotografias aéreas e os mapas proporcionam uma visualização vertical dos fenómenos produzindo análises generalizadas.
Actualmente, a paisagem é mais analisada através de um olhar vertical e um dos riscos é desconsiderar elementos que realmente importam na vida das pessoas, promovendo uma “redução” da paisagem.
Para Pereira (2003), em linhas gerais a Geografia Fenomenológica propõe uma orientação metodológica que utilize técnicas de observação, questionário, entrevistas, depoimentos, entre outros; que enfatize o estudo de eventos únicos, contrariamente aos estudos de eventos gerais; que incorpore o indivíduo no processo de construção do conhecimento, sendo que cada indivíduo apresenta especificidades para apreensão e avaliação do espaço; que resgate as noções de espaço e de lugar, uma vez que ambos trazem consigo a ideia de percepção, valores, comportamento, atitudes e motivações; e que priorize aspectos relacionados a subjectividade, intuição, simbolismo, sentimentos e experiências e o espaço torna-se concebido pelo espaço presente.
Componentes da paisagem
Oliveira e Guedes-Bruni (2009, p. 52), “a paisagem são retratadas como a manifestação material das relações entre os seres humanos e o meio ambiente”.
A observação da paisagem é de grande importância, uma vez que retrata as relações sociais estabelecidas em um determinado local, onde cada observador selecciona as imagens que achar mais relevantes, portanto, diferentes pessoas enxergam diferentes paisagens.
De acordo com Martins (2012), uma paisagem representa diferentes momentos do desenvolvimento da sociedade. Sendo esta o resultado de uma acumulação de tempos. Para Marques (2001), o pensar da paisagem implica também a presença de um juízo crítico sobre o poder humano de modelar e transformar. A paisagem, assim como o espaço, altera-se continuamente para poder acompanhar as transformações da sociedade.
É através de uma consciência intencional que o homem observa e analisa uma paisagem. As descrições de paisagens realizadas por Humboldt (1952) eram marcadas de intencionalidades, visto que o autor pretendia “mostrar” ao mundo paisagens, até então, pouco conhecidas. A metodologia aplicada, além das descrições, era multiplicar os pontos de vista e abarcar o todo. Como elementos, a paisagem apresenta:
Elementos naturais
Os elementos naturais presentes numa paisagem são aqueles que fazem parte da natureza como por exemplo, vegetação, relevo, clima, montanhas, serras, planaltos e planícies), a hidrografia (rios, lagos, oceanos e mares).
Uma paisagem natural é toda aquela onde não se verifica nenhuma alteração por parte do homem. Dela fazem parte apenas os elementos naturais.
Elementos humanos
Os elementos humanos presentes numa paisagem são todos aqueles que são alvo de modificações por parte do homem de modo a atender ás suas necessidades como por exemplo, pontes, habitações, estradas, plantações.
Uma paisagem humanizada é toda aquela onde se regista alterações por parte do homem. Dela fazem parte todas as construções feitas pelo mesmo.
Por sua vez, uma paisagem cultural é dividida em:
Paisagem Rural
É formada pela actividade agro-pecuária, como hortaliças, frutas, além da criação de bovinos, aves e suínos, esses elementos fazem parte da realidade de propriedades rurais com fazendas, casas de campo ou quintas.
Paisagem Urbana
É constituída por elementos urbanos como ruas, avenidas, praças, viadutos e prédios que se encontram habitados por pessoas que realizam as suas actividades nesse espaço.
Bibliografia
Claval, Paul. (2004), A Geografia Cultural. Florianópolis. Editora da UFSC. 454 P.
Martins, Luís. (2012).Legado, paisagem e turismo Geografia: Revista da Faculdade de Letras, n. 1, p. 149-156
Oliveira, Fátima Maria (2013), Porto Nacional: tradição cultural no sertão”. Revista Educação & Mudança, p. 75- 92.
Lefebvre, H. (1969), Lógica formal lógica dialéctica. Rio de Janeiro: Civilização Brasileira.
Lencioni, Sandra. (2003), Região e Geografia.
Pereira, Annette Marília. (2003).A ciência geográfica: métodos e tendências do pensamento e da abordagem,
Santos, Milton. (2006), A natureza do espaço: técnica e Tempo, razão e emoção.