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Periodização
A expansão Mercantil Árabe-Persa para a região da Africa Oriental intensificou-se entre os séculos. IX – XIII, data de fixação destes mercadores na zona supracitada
A origem dos povos árabes e persa
Os árabes e Persas são povos oriundos do Médio Oriente, os primeiros tem sua origem na península arábica e os segundos são de origem do golfo Pérsico, (RODRIGUES 2007, p. 78).
De acordo com Ki-Zerbo (1999, p. 156), a costa Oriental conheceu a chegada dos árabes e persas a partir do séc. VII aos meados do século XII e o desenvolvimento constante das práticas comercias. Os de Mogadíscio desciam a costa até a Sofala, para levarem o ouro que extraia-se das regiões do Zambeze e do Limpopo, assim como escravos.
Segundo o Departamento de História da UEM (1982, p. 57), as populações asiáticas fixaram se lentamente entre os séculos IX e XIII, nas Ilhas de Zanzibar e de Moçambique, e mais tarde, a partir do séc. XIII, verificou-se maior número de emigrantes que se estabeleceu em entrepostos comerciais ao longo da costa oriental africana, no vale do Zambeze e no planalto do Zimbabwe. Houve um comércio ativo nas regiões de Sofala, e foi nesta época em que Mogadíscio tornou-se um centro comercial de ouro durante o século XII e que foi substituído pelo Quíloa a Sul de Tanzânia.
Segundo Serra (2000, p. 25), por volta dos séculos IX-XIII, a fixação dos povos provenientes do Golfo Pérsico na região que hoje é Moçambique manifestou-se de uma forma muito lenta, isto é, a sua fixação decorreu de uma forma gradual, foi um processo onde o Indico era um dos seus principais centros comerciais no século X.
Na ótica de Niane (2010, p. 513), os mercadores árabes oriundos da Arábia do Golfo Pérsico estenderam a sua expansão em direção a costa Oriental, começando do Chifre da África a Madagáscar para a efetivação de um intercâmbio comercial e intercontinental. Os melhores centros comerciais foram os da região de Sofala, Quíloa e Mogadíscio. “O ouro produzido no interior e o marfim inicialmente fornecido pelos caçadores macuas, foram os primeiros produtos de troca em Moçambique. Em troca os chefes Moçambicanos recebiam tecidos de seda, louça de vidro e porcelanas”.
Al-Massud Apud Departamento de História UEM (1988, p. 59), sustenta que, Bilad as Sufala (“terras de Sofala”) dependia do Sayuna um centro comercial localizado na foz do rio Zambeze, e ainda avança afirmando que os Zanj controlavam o interland a partir das cidades costeiras. Os barcos indianos apostados a estes lugares faziam trocas comerciais de tecidos por ouro ou seja eles traziam tecidos e levavam dos africanos ouro e outros metais.
A Penetração Asiática e os Contactos ao Longo da Costa
Comercio Regional e de Longa distância
De acordo com Ki-Zerbo (1999, p. 83), o actual Moçambique foi desde sempre um país rico em diversidade cultural. Há centenas de anos, tal como acontece hoje em dia, o território foi palco de intercâmbio entre povos oriundos de várias partes do Mundo com os povos aqui sediados. Dentre os primeiros povos que estabeleceram contactos com povos de actual Moçambique contam se os Árabes e Persas, ou seja, do Golfo Pérsico.
regiões da África subsaariana a ter mantido muito cedo relações comerciais regulares com o mundo exterior. O surgimento, a partir do século VII, de um poderoso império islâmico no oriente Médio estimulou consideravelmente o desenvolvimento das actividades comerciais no Oceano Índico, inclusive na costa oriental da África.
As relações comerciais eram a parte de um processo mundial e constituíam um ramo da grande via comercial que ligava o Ocidente ao Oriente; a África Oriental e Madagáscar, onde existia contacto entre o litoral e os territórios auríferos do interior próximo do lago Niassa e, dali vinha o ouro que chegava a Kilwa,
O comércio e as trocas que se desenvolveram em torno das cidades costeiras podem ser divididos em três categorias:
- O comércio com os estrangeiros;
- O comércio entre os assentamentos costeiros; e
- O comércio com o interior.
Comércio com estrangeiros – era feito com os Árabes, Persas, Índios e Indonésios, onde exportavam o marfim as escamas de tartaruga, o âmbar-gris, o incenso, as especiarias, os escravos, o ouro, ferro e outros, entre os séculos VII a X. Os produtos importados eram as cerâmicas (islâmicas e chinesas), os estofos, as pérolas e o vidro. A maior parte das importações sobretudo em Gedi eram a fiança azul e verde, assim como a porcelana da China amarela, preta, verde céladon, azul e branca
Comércio entre os assentamentos costeiros – as grandes cidades eram mais voltadas para o comércio marítimo estrangeiro que as pequenas que viviam sobretudo da agricultura e da pesca, por isso podemos supor que as interações entre os assentamentos eram frequentes, verificou-se um afluxo de trocas entre Kilwa e outras cidades importantes como Manda.
Comércio com interior – nessa época os povos costeiros não se aventuravam para fazer o comércio com o interior, mas sim a transmissão dos bens de um povo para outro
A penetração Árabe-Persa: século IX-XIV
Ki-Zerbo (1999, p. 99), sustenta que os Árabes foram os primeiros povos que chegaram a Moçambique no século IX, provenientes do Golfo Pérsico e fixaram se primeiramente na região costeira, concretamente na Ilha de Moçambique e Quelimane e mais tarde, a partir do século XIII, maior número de asiáticos fixaram se em entrepostos comerciais na costa oriental africana, no vale do Zambeze e no planalto de Zimbabwe.
Para Newitt (1995, p. 8-9), o comércio árabe principiou a prosperar por volta do século VII, no momento em que iniciaram a penetrar à costa oriental da África, vindo de diversos pontos de regiões da Ásia. Estes detinham como objectivo, realizar trocas de seus produtos com os das terras africanas, nomeadamente: panos de algodão, missangas, sal, louça, e recebiam em troca ouro, marfim, ferro, cobre e peles de animais. Por vezes levavam também escravos.
Na perspetiva de Serra (2000, p. 52), por volta do século XI ainda se fazia sentir as actividades mercantis Swahili e árabe na região que hoje é Moçambique, e que ainda se manifestava a presença de alguns mouros no império de Mwenemutapa, onde não só simplesmente praticavam as actividades comerciais, como também passaram a trabalhar o ferro e o cobre.
Os fatores da penetração Mercantil Árabe-Persa
De um modo sintético, KI-ZERBO (1999, p. 145), diz que os factores da penetração foram quatro, geográficos, técnicos, económicos e também ideológicos. No entanto, deve-se referir que a atuação árabe-persa preocupou-se fundamentalmente com atividade comercial e com a manutenção de boas relações com os Estados moçambicanos.
a) Fatores geográficos ou naturais
SERRA (2000, p. 38), presume que a Península Arábica apresenta-se como um território maioritariamente árido e infértil. A maior parte da paisagem na Península Arábica é desértica, o que levou os seus habitantes a procurarem novos territórios, não só habitáveis como, fundamentalmente, propícios para a prática de actividades económicas.
A proximidade geográfica de Moçambique também pode ser considerada um factor de expansão persa. Moçambique apresentou-se como uma boa resposta para o povo persa porque era relativamente perto e alcançável por mar e por terra.
- b) Factores económicos
SERRA (2000, p. 34) fez-nos perceber que os Árabes, tanto em outros tempos como na actualidade, foram sempre bons comerciantes. Moçambique, no século VIII, apresentou-se como um bom mercado tanto para a venda de produtos árabes como para a compra de produtos africanos.
c) Fatores ideológicos
Um dos pressupostos de algumas religiões consiste na sua expansão a fim de cativar e converter mais fiéis. O islão também teve uma fase de forte expansão inicial, logo após a ascensão de Maomé. Neste sentido, os Árabes expandiram-se para Moçambique também com a motivação de difundirem o Islão.
Repercussões da presença árabe-Persa na região que hoje é Moçambique
Os contactos permanentes entre as populações moçambicanas da costa norte e os mercadores asiáticos contribuíram para o desenvolvimento de transformações sociopolíticas, económicas, religiosas e culturais:
Âmbito económico
Para Ferreira (2000, p. 49), os dirigentes seriam, por sua vez, também brutalmente explorados pelos comerciantes asiáticas que, nas primeiras fases do intercâmbio, trocariam uma mão-cheia de ouro por outra mão-cheia de missangas ou por alguns metros de tecidos, bens que utilizavam para adornar as suas numerosas mulheres e para marcarem a sua distinção pelo vestuário considerado deslumbrante
Na visão de Serra (2000, p. 55), no âmbito do comércio, o Estado de Mwenemutapa estava ligado aos árabe-Persa e com os Portugueses, e este comércio era efectuado pelos chefes locais, os intermediários, que serviam como elo de ligação entre os chefes locais e os estrangeiros, isto é, levavam os mercadores do interior para a costa. Os árabes traziam missanga, tecidos, para além dos tecidos e missangas comprados na índia, os portugueses traziam o vinho e em troca recebiam ouro. Os tecidos e missangas perdiam a sua qualidade de mercadorias ao entrar no Estado e transformavam se em bens de prestígios, suportes de lealdade política e de submissão.
Foram também eles, e outros comerciantes asiáticos, que introduziram em Moçambique as bananeiras, plantas alimentares como: o arroz, a cana-de-açúcar, as mangueiras, o inhame, os citrinos e a técnica de tecelagem de panos de algodão.
Âmbito Sociopolíticas
Na visão de Serra (2000, p. 111), o impacto da penetração mercantil árabe-Persa contribuiu para o surgimento de novas unidades políticas, os reinos Afro-Islâmico da costa que são: os Xeicados de Quitangonha e Sancul, Sangage, – que tiveram sua origem na actividade comercial – e o Sultanato de Angoche. Porém as classes dominantes destes reinos controlavam clandestinamente o tráfico de escravos para Zanzibar, Madagáscar e Golfo pérsico depois da abolição oficial do tráfico de escravos em 1836 e mais tarde 1842.
Âmbito cultural
Departamento de História de UEM (1982, p. 59), avança que no Quénia e na Tanzânia deram origem a cultura Swahilis, casamentos, os contactos comerciais e surgimento de novos hábitos, em particular deram o surgimento de vários núcleos linguísticos em Moçambique, resultantes da fusão de habitais e línguas africanas e árabes, como por exemplo:
– Os MWANI na costa de Cabo Delgado com a influência da língua Maconde e macua;
– Os NAHARRA na ilha de Moçambique e na costa de Nampula, assim como nos continentes vizinhos e os Koti de Angoche.
– O uso de brincos no nariz, o modo de vestir, nas construções, nos casamentos, no enterramento dos mortos, etc.
De modo geral os mercadores asiáticos tiveram como reflexos a adoção de diversos elementos tais como:
- No vestuário o uso do cofió, do lenço, da capulana e da túnica;
- No calçado a utilização das sandálias/chinelos;
- Na dança a difusão do tufo (dança praticada por mulheres) e de molide/maulide (dança mágico religioso praticada essencialmente por homens);
- Na alimentação destaca-se a utilização de diversos condimentos orientais (canela, açafrão, gengibre,pimenta etc.) com especial realce para os”picantes” (vulgo piri-piri).
No âmbito Religioso
A difusão do islamismo no norte de Moçambique permitiu igualmente o surgimento de unidades políticas tais como xecados e sultanatos, dependentes entre si ou ligadas as outras unidades políticas de Moçambique ou das ilhas Camarões. O islão deixou como reminiscências a disseminação de mesquitas bem como a prática da circuncisão (uma das componentes dos ritos de iniciação masculinos),