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Localização geográfica do Sudão Central
De acordo com Adamu (2010, p. 313), Sudão Central, é uma região que se estende do lago Chade a leste, a bacia do Níger a oeste, do Sahel ao norte, a bacia do Benue ao sul.
Ki-zerbo (1972, p. 192), no Sudão Central, situavam-se os estados de Kanem- Bornu e os estados Haússas, que eram constituídos pelas cidades de Sokoto, Katsina, Kano, Rano, Daura, Gobir, Kebbi e Zaria (Zazzau ou Zegzeg).
Localização dos estados Haússa
Segundo Adamu (1988, p. 299), a zona habitada pelo Estados Haússa situa-se na região que vai dos montes Air (Azbin) ao norte até as bordas setentrionais de planalto de Jos ao sul, faz fronteira com antigo reino do Bornu a leste até ao vale do Níger ao oeste.
Adamu (1988, P. 300) considerar que os masusarauta (aristocratas) opunham-se aos talakawa produtores livres mas sem nenhum poder político. A medida que a aristocracia, os letrados e os comerciantes se enriqueceram, a distinção tornou‑ se de cunho económico, entre os masuarziki, ou attajirai (os ricos) e os talakawa (os pobres), obawansarki (escravo real).
Organização política
Adamu (1988, p. 334), os estados Haússa estava organizado segundo linhagem semelhantes baseada na identidade cultural e socioeconómico que se exprimia sobretudo na língua comum, enquanto, as pequenas comunidades kanyukas estavam formadas por um grupo de famílias dirigidos por um chefe, o Maigar, de seguinte forma:
Organização económica
De acordo com Adamu (1988, p. 310) & Sengulane (2007, p. 220) avançam que o desenvolvimento económico assentava se na exploração de jazidas de minérios de ferro que existiam bem distribuídos em todo o território e localizavam-se perto das regiões florestais onde se produzia madeira para o aquecimento e carvão para a fundição do minério e deste, derramavam em grandes fornos grandes quantidades de pedregulho ferruginosas e fabricavam instrumentos agrícolas tais como: facas, machados, flechas, lanças e outros materiais. A principal actividade era a agricultura favorecida por dois (2) factores:
- A fertilidade do solo em quase todo o território;
- O elevado número da população que se encontrava distribuído de forma regular.
Adamu (1988, p. 333), avança que no território Haússa, produzia-se muitas culturas incluindo diversas variedades de milhete, sorgo, amendoim, feijão, milho e arroz. Sendo assim, além da prática de agricultura, o artesanato era uma actividade mais importante para sua economia, onde, fabricavam vestuários de algodão, actividade de fabricação e descaroçamento, cardagem, fiação, tinturas e tecelagem, havia também couros e sapateiros que produziam vastos gama de artigos (bolsas e calcados, zelas, almofadas), os ferreiros fabricavam todos instrumentos necessários a comunidade: utensílios da cozinha, instrumentos agrícolas (fosses, machados, flechas e lanças), na cerâmica fabricavam recipientes para conservar água e cereais.
Cultura
De acordo com Madeira (1987, p. 150), os Haússa são povos negros e tinham influência dos povos vizinhos como os tuaregues na sua cultura e faziam adivinhas chamadas tachchet (a vípara) onde o réptil é interrogado e a serpente tinha a função de protectora ou o seu surgimento em sonhos era como um mensageiro do infortúnio assim conferia-lhe um significado ambíguo. A cultura Haússa é fortemente ligada ao islã o que tornou difícil a penetração do Evangelho.
Segundo a crónica de Kano citado pelo Adamu (1988, p. 305), com a chegada de um grupo dos muçulmanos Wangarawa (jula) que deram apoio ao rei Yaji na guerra contra o rei de Santola, as cidades passaram a ser centros Islâmicos e a população rural continuava a fazer sacrifícios tradicionais e que pouco a pouco firam destruídos tendo-se observado as lutas entre as classes dominantes e o povo.
Pode se também afirmar que o islão integrou se nos esquemas religiosos africanos porque não era considerada como estrangeira ou incompatível com a visão religiosa Haússa, o é mais que importante, é porque a sociedade muçulmana não reivindicava para a sua ideologia religiosa estando disposta a acomodar muitos traços das crenças religiosas e costumes tradicionais
Estado Kanem–Bornu
Localização do Kanem–Bornu
Segundo Bethwell (2010, p. 68), No século XIII, o Estado muçulmano do Kanem era um dos mais extensos do Bilādal-Sūdān. O poder dos mai (reis) sefuwa abrangia um vasto território compreendido, do Norte ao Sul, entre as margens orientais do Lago Chade e o oásis do Fezzān. O estado de Kano limita o estado de Katsina ao noroeste, o estado de Jigawa ao nordeste, o estado de Bauchi ao sudeste e o estado de Kaduna ao sudoeste. A capital do estado de Kanem-Bornu é Kano.
Organização Social
Segundo Muhallabi citado por Lange (2010, p. 523), as cidades, aldeias e comunidades étnicas encontravam‑ se agrupadas em chidi (feudos), controladas por grandes dignitários do Estado, em qualidade de chima (feudatário). Tinham a responsabilidade da ordem e da segurança de seu domínio, assim como da arrecadação de impostos e da mobilização de tropas para o exército.
Durante o período estudado, os sefuwa conseguiam notadamente seus recursos através do zakāt (esmolas), do dibalram (pedágios rodoviários), dos kultingo (tributos), assim como dos espólios de guerra. Todas as pessoas envolvidas na arrecadação de impostos separavam um certo montante para eles, e os grandes feudatários guardavam uma boa parte do valor arrecadado, encaminhando o resto como tributo ao mai.
Organização política
Segundo Ki- zerbo (1999, p. 197), o Kanem-Bornu foi, com Mali e songhay, um dos vastos impérios dos grandes séculos africanos. A organização politica e administração são do mesmo género que o Mali e sobretudo no songhay. Trata-se de uma monarquia feudal descentralizada, tendo no cume o sultão (mai), o reverenciando como um Deus e que, no decurso das audiências públicas esteve sempre oculto por uma cortina.
O conselho do Estado (notiena) é formado de doze príncipes ou emires, com uma competência territorial ou funcional: assim o yerimae o (província de norte), o galadina (província do oeste), o futuma (governador da capital), o kaigamma (generalíssimo ministro de guerra e da província do sul), o mestrema (grande eunuco, chefe de harém e da província de leste), o yiroma (ao serviço da rainha, sob controlo do mestrema) seguia-se um conselho privado que cuidava de assuntos quotidianos.
Organização económica
Bethwell (2010, p. 671), diz que a economia de Kanem-bornuse baseia enormemente na agricultura. Na verdade, cerca de três quartos da população total do estado executa empregos que são de natureza agrícola. Os feijões, milho, arroz e sorgo são as principais culturas alimentares cultivadas predominantemente em Kano para as necessidades dos habitantes locais. Por outro lado, o algodão e o amendoim são as principais culturas agrícolas de Kanem para uso industrial e exportação.
O Kanem foi conhecido, em tempos remotos, por viajantes árabes, tendo passado a desfrutar da fama que outras entidades politicas da época e da região. Dois factores contribuíram para o crescimento do Kanem: o comércio transaariano e a expansão e instalação das suas etnias, tomaghra, tura, kay e ngalmadukko, na região.
O reino de Kanem-Bornu praticava a actividade comercial, controlava as rotas de Kawar e do Air que dava acesso às trocas com as ricas regiões salinas de Bilma e Aghram situadas a sul do território. A outra salina do Sudão Central tinha valor económico comparável ao destas regiões. Para além do sal, o Kanem-Bornu fornecia também o cobre, estanho, o bronze e os escravos que eram capturados principalmente nos países não muçulmanos ao sul do Bornu. Os escravos eram comprados pelos árabes berberes a troco de cavalos, que tinham um valor militar e eram revendidos no Magrebe. (LANGE, 1988, p.265).
O Kanem-Bornu importava também roupas, tecidos e armas de ferro. Para além do comércio, desenvolveram também a agricultura, criação de animais e um artesanato que fornecia produtos como: roupas bordadas, que eram exportadas para países vizinhos (Idem).
Na óptica de Sengulane, (2007, p. 224), O reino de Kanem-Bornu praticava a actividade comercial, controlava as rotas do Kawar e do Air que davam acesso às trocas com as ricas regiões salinas do Billma e Agharm situadas a Sul do seu território.
Lange (2010, p.279), afirma que:
“…Afirma que nenhuma outra salina tinha o valor comparável destas regiões. O reino de Kanem-Bornu estava envolvido no comércio transahariano, fornecendo para além do sal também o cobre, o estanho e bronze; produtos exóticos como presas de elefante, penas de avestruz e animais vivos; e os escravos que eram capturados principalmente entre os povos não muçulmanos ao Sul de Bornu” (p. 279).
Conclui-se que os Kanem-Bornu utilizavam mais de cinquenta palavras para diferenciar os tipos de sal. Ele era produzido por escravos em grandes reservas no Sahara e transportado para o sul, em especial, por tuaregues em caravanas de vinte a trinta mil camelos e vendido em troca de ouro e cereais da savana.
Cultura
Na perspectiva de Ki-zerbo (1999, p. 198), islã constituía um dos fundamentos da cultura kanuri. Profundamente enraizado na vida quotidiana do homem comum, impregnava também as tradições populares. Inúmeros termos próprios do islão foram assimilados pelos kanuri, a ponto de perder seu sentido original. Foi assim que a palavra kasalla que designava qualquer operação de lavagem, aplicando-se até aos animais, derivou do termo árabe sallah que significa orações.
Os kanuri distinguiam-se por sua língua e por sua aparência física.Homens e mulheres apresentavam marcas verticais características sobre cada bochecha. Os cabelos das meninas eram dispostos em uma kelayasku, ao passo que os das mulheres casadas eram penteados em jurungul (coroa) 68.
As mulheres mastigava nozes-de-cola e tingiam seus dentes com a gorongo ou fure (flor de tabaco)69, coloriam suas mãos e seus pés com o nale (hena) e ornavam uma de suas narinas com uma pérola de coral ou um prego de metal. Vestiam habitualmente gimaje (longos vestidos de algodão tingido), e as das classes superiores cobriam suas cabeças com um kalaram (turbante). Os homens vestiam o tobe (amplas túnicas abertas de algodão cru ou tingido de azul). Os membros das classes superiores possuíam um grande número dessas túnicas, fabricadas com custosos tecidos importados, e no fim do século XVIII, passaram a usar enormes turbantes incómodos, costume que teriam herdado dos otomanos do século anterior
Os ritos nupciaiskanuri apresentavam traços culturais específicos cuja análise adequada traria à luz as inúmeras fontes de inspiração: ritos islâmicos, elementos de cultura magumi e de diferentes culturas pré -islâmicas do Borno
Bibliografia
ADAMU, Mahdi. “Os Haussas e seus vizinhos do Sudão Central.”In: NIANE, DjibrilTamsir. (Org). Historia Geral de África: África do Século XII ao Século XVI. Vol IV. São Paulo, Ática S.A/ UNESCO, 2010.
ADAMU, Mahad. “Os estados Haussa do Sudão central e os seus vizinhos”. In: “Historia Geral . de África volume IV”. 2ª Edição, Brasília, 1984.
BETHWELL AllanOgot. História geral da África. Brasília, UNESCO, 2010.
KI-ZERBO, Joseph. História da África Negra. Vol V. Lisboa, publicações Europa – América, 1972.
KI-ZERBO, Josseph, “ Historia de África Negra. Volume I, Porto, Publicações Europeia- AmAmerica, 1999.
LANGE, Dierk. “ Reinos e Povos de Chade,” In: NIANE, DjibrilTamsir. Historia Geral de África: África do Século XII ao Século XVI. Vol IV. São Paulo, Ática S.A/ UNESCO, 2010.
MADEIRA, Franҫois“Os povos do Sudão: Movimentos populacionais”. In: Historia de África vol Volume II, 2ª Edição, Brasília, 2010.
SENGULANE, Hipólito. Das primeiras Economias ao Nascimento da Economia-Mundo. MiMaputo: UP. 2007.