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Localização geográfica do Sudão Oriental
De acordo com Hassan & Ogot (2010, p. 205), o nome de Sudão designa a parte Oriental do Bilad al sudan que compreendia, na era Medieval, o reino cristão da Núbia e, depois, os sultanatos islâmicos de Funj e de Fur, e que, no presente capítulo equivale em boa parte ao território da moderna República de Sudão.
O Sudão Oriental vai ter uma superfície terrestre de 2.505.813km, fazendo dele maior território de África. Assenta, em grande parte numa vasta planície dividida em três regiões naturais, que vão desde os áridos desertos da Líbia e do Sahara, no Norte, até as planícies do Centro e as células tropicais do Sul. Faz limite a Norte com o Egipto a Sul com Zaire, Uganda e Quénia a Este vai fazer fronteira com a Etiópia e a Leste com o Mar Vermelho, a Sudeste com a República Centro Africano e a Oeste com Chade e a Noroeste com a Líbia.
Estado Darfur
Segundo Kropacek (2010, p. 448), com o mapa da Núbia do fim do século XII ao começo do século XVI, geograficamente o Estado Darfur Localizou-se no Sudão Oriental e atualmente é uma província que integra o Sudão do Norte. Fazia limite a Sul com um dos afluentes do Nilo, o rio Bar el Ghazal e a Norte com as savanas do Estado Uri, a Leste fará fronteira com o Kodorfan e Oeste estender-se-á até o Estado Wadai.
De acordo com UFP (2004, p, 23), toda a imensa faixa do Sahel possui clima semelhante, sendo que Darfur situa-se de forma longitudinal, mais ou menos ao meio dessa faixa. Ao Norte, o Dar Zaghawa, se assemelha ao Sahara onde na atualidade concentra o pastoreiro ao redor dos Oásis e é sujeito a secas prolongadas, sendo habitado também por tribos de Jebel Marra, sendo mais fértil e mais densamente povoada por populações de etnia Fur, Massalit (Dar Massalit) e Dadjo.
Organização Social, Política, Económica e Cultural
Organização Social
Segundo Karol (1958, p. 37), a maioria da população de Darfur pertence a etnias africanas, como os Zaghawa, Massalit e Fur. A população Darfur era constituída por um complexo mosaico de muitas etnias, frequentemente sobrepostas e interconectadas. A região Central era habitada por tribos de agricultores sedentários como os Fur, Massalit, Tama, Qimir, Mima e entre outros que falam suas próprias línguas, enquanto o Sul era habitado por tribos que passaram adoptar o árabe, aquando arabização como língua e se dedicaram ao pastoreiro nomada.
Os Baqqara, Bani Halba, Habbaniyya, Rizayqat e Taaisha são os grupos mais numerosos.
Ki-Zerbo (1972), reitera que:
“foi neste estado que se registou a confluência racial e étnica desde a mais alta antiguidade, sobretudo depois da queda dos reinos na Núbia e da chegada dos Árabes. Os primeiros habitantes são os Dajus negroides “, (p. 371).
Do postulado, podemos concluir que no Estado Darfur presenciou a juncão de raças e genética pois a idade antiga, onde isso, verificou-se muito mais no período de trambolhão de algumas soberanias Nubianas e aparecimento dos árabes no território.
Governantes | ||||
Agricultores | ||||
População em Geral | ||||
Fonte: (KAROL, 1958, p. 37)
Organização Política
Segundo Prunier (2007, p. 127), os grupos étnicos e fundamentalismo Islâmico contribuíram para se alterar o panorama no que toca o desenvolvimento político do Darfur mesmo com difícil formação de um governo centralizado. No fundo tradicional dos autóctones percebe-se que politicamente a sociedade estava dividida em duas classes: dominante – composta por família real e outra que era dominada- constituída por camponeses, comerciantes e a população em geral.
Mas com o advento cristianização e posterior arabização, estes povos terão outra forma de organização politica onde encontrava os na época cristã o Estado sob governo do Clero copta e na época do Islão o Estado passa a ser um sultanato e governado por sultão com um governo centralizado, vigorou como modelo de governação as monarquias dinásticas colaterais em que o poder passava do rei para o sobrinho.
Família Real | ||||
Comerciantes | ||||
Camponeses e população em Geral | ||||
Fonte: (PRUNIER 2007, p. 127).
Organização Económica
Na ótica de Gentili (1999, p. 365), a base da economia do Estado foi o comércio e na complementaridade, praticava-se agropecuária. Os principais produtos agrícolas são: sorgo, milho, trigo e leguminosas, e o principal produto comercial era o algodão. Entre seus recursos florestais destacam-se a goma-arábica, considerado na atualidade o Darfur o maior produtor mundial.
De acordo com Hasan & Ogot (2010, p. 222), no Darfur, o comércio distante era razoavelmente submetido ao controlo de estado, visto que, esse comércio, sua organização e proteção dependiam, ao que tudo indica, da autoridade dos sultões dos respetivos países. Às vezes, os sultões enviavam suas próprias caravanas ao cairo.
O Darfur comercializava com Trípoli, Túnis, Cairo, Alexandria, Bengazi e o resto das cidades do Mediterrâneo usando como as principais rotas a “estrada” do Nilo que se juntava a “Darb Al-Arbain” conhecida também como estrada de 40 dias, a principal artéria do comércio Fur com Egipto, que partia de El-Fesher passava por Dongola e juntava-se a Assuat.
M’Bokolo, (2003, p. 129) afirma que, no sentido contrário, do Norte para Sul partiam produtos alimentares em pequenas quantidades associadas ao luxo das classes dirigentes da corte do Estado Darfur como: frutas, passas sobretudo tâmaras fornecidos principalmente pelo Oásis saariano, cavalos, tecidos luxuosos e ceda de Túnis.
Cultura
No século IV da nossa era, chegam os Tondjurs, sem dúvida negroides também. Os Dajus são repelidos para Oeste. Século XIII, o Kanem-Borno de que nos referi anteriormente, exerce uma grande influência comercial (controla dando a rota do Nilo) e religiosa, como o testemunham as numerosas mesquitas de tijolos encarnados em Ain Farah, assim como os títulos principescos oriundos do Darfur. Além disso, o fundo cultural negro-africano reflete-se na importância ritual dos tambores e do fogo real, tal como ele existe no Mossi e em numerosos reinos da África Central, Oriental e Meridional.
No avaliar de Hassan & Ogot (2010):
“As migrações árabes com distino ao Sudão Oriental correspondendo mais ou menos ao Sudão actual, (…) começaram no séc. IX e atingiram seu apogeu no séc. XIV. Por meios pacíficos, os árabes penetraram progressivamente no país e propagaram sua cultura, sua religião e sua influência entre as sociedades cristãs e tradicionalistas”, (p. 411).
Do texto supracitado, conclui-se que os povos cristãos e tradicionais autóctones foram influenciados culturalmente em grande parte dos Árabes. A arabização não foi feita pacificamente. Os invasores tiveram de dominar muitas revoltas; na realidade, os negros foram submersos por ondas de imigrantes Árabes. De salientar que a religião tradicional, baseada no culto dos ancestrais, continuou a mesma, tanto entre os povos governados por soberanos islamizados quanto os não Muçulmanos.
Estado Uri
Localização geográfica
Segundo Arkell Apud Kropacek 2010, p. 473), o Estado Uri, localiza-se geograficamente na área da savana, a Norte do Bilad Al-Sudan Oriental ou Sudão Oriental, concretamente a Norte do Darfur e fará limites a Oeste, com o Estado de Wadai e a Leste com as planícies do Kodorfan que irá o separar dos sultanatos Fur e Funj. Foi fundado pelos autóctones no período que antecipa a era Cristã no século V; que os mesmos vir-se-ão invadidos pelos Tundjur que no decorrer do tempo sofreram também invasão dos Kanem.
De acordo com Sengulane (2007):
“Em geral, esta região abarca áreas desérticas de estepes, de savanas e das grandes florestas e tinha um clima moderado sendo caracterizado por pastagens abundantes. O Nilo vai ser a principal artéria fluvial, cujas margens habita um grande grupo de população, (p. 210).
Do postulado, conclui-se que a região onde estava localizado o Estado Uri não fugira desta realidade natural, tendo como caraterísticas faunística a savana, facto este que poderá justificar a invasão dos Furs que se encontravam nas montanhas que ambicionavam o controlo do monopólio comercial.
Organização Social, Politica, Económica e Cultural
Organização Social
Segundo Kroparcek, (2010, p. 473), são primeiros habitantes desta região os Ddju e Tundjur negroides onde no século IV n.e os Dadju são repelidos pelos Tondjurs aquando da perda do controle do comércio. Estes últimos impuseram sua autoridade, a princípio, sobre a região Central, para depois, pouco a pouco, avançar sobre o Darfur e algumas partes de Wadai. Este facto atesta as grandes confluências raciais e étnicas engendradas pela deficiente economia e fraca organização política que caracterizava aquela região do Sudão Oriental.
Barkindo (2010), avança que:
“A formação, por diferentes grupos étnicos, de entidades mais ou menos autónomas (…) impediu a instauração de um sistema politico centralizado naquela região, (p. 585).
Disto pode-se alegar que, Uri sempre foi zona de passagem, área de contacto entre numerosos clãs ou grupos étnicos negros. Após a chegada dos Árabes, por volta do século IX surgem mestiços negros árabes islamizados, um grupo que emergiu a partir da chegada dos Árabes.
Dadju | |||
Tondjur | |||
Fonte: Adaptado in (KROPARCEK, 2010, p. 473).
Organização Política
Na perspetiva de Niane (2010, p. 764), desenhou-se em Uri uma nova ordem social, onde na era Cristã encontravam duas classes: uma dominante onde encontrávamos a família real e o Clero e na classe dominada estavam lá os comerciantes e artesãos e, no período Islâmico a sociedade estava estratificada da seguinte forma: na classe dominante (Sultão, sacerdotes e exército) e a classe dominada era composta por (comerciantes e artesãos).
O modelo de governação era dinástico, mesmo muitas vezes caracterizado por convulsões étnicas. De salientar que a evolução politica, podemos dizer que antes de 1600, em todo Sudão, o estágio clínico havia sido alcançado ou superado e que, onde quer que as condições o tenham permitido, criaram-se cidades, reinos e impérios viáveis. Desse modo, fundaram-se formações politicamente originais, enriquecidas por contribuições externas, conhecendo-se muitos métodos de governo
Sultão | ||||||||
Sacerdotes | ||||||||
Exército | ||||||||
Comerciantes | ||||||||
Artesãos | ||||||||
Fonte: (NIANE 2010, p. 767).
Organização Económica
Na ótica de M’Bokolo (2003, p. 126), a existência de uma economia de subsistência baseada essencialmente na agricultura levou estes povos a optar por um comércio exterior feito ao longo dos dois grandes eixos orientados nos sentidos Oeste-Este e Sul-Norte. O que equivale dizer que estes povos exportaram produtos do Sudão Ocidental e Central usando as rotas transarianas e com os mesmos desenvolvia comércio com o Norte de África e, não só, a partir da rota comercial Darb al-Arbain que irá corresponder o comércio vindo dos entrepostos de Wadai e El Fasher em Darfur.
Tal como confirma Kroparcek (2020):
“Uri constituía importante entreposto destinado ao comércio de longa distância, no cruzamento do Darb al-Arbain com a rota Oeste-Lesteda savana, conhecida esta em árabe pelo nome de Tarik Al-Sudan”, (p. 473).
Perante esta citação, pode-se dizer que Uri, era visto como um entreposto preponderante no tocante a deliberalização da atividade comercial a longa distância, no ponto de Darb Al-Arbain junto com o trilho de Oeste-Leste da savana designada de Tarik Al-Sudan.
Cultura
Segundo Garcin (2010, p. 464), o Estado Uri tinha vivido três realidades culturais distintas até o período em análise (século XV) das quais: uma tradicional típica das primeiras sociedades nilóticas nómadas que adoravam os seus antepassados e outra cristã que surgiu com a cristianização da região da Africa tropical e a última que surge com o processo de islamização. A mudança de religião, ocorreu por meio da miscigenação ou aliança em larga escala de grupos étnicos e linguísticos e, que por meios pacíficos propagaram sua cultura, sua religião e sua influência entre as sociedades cristãs e tradicionalistas.
Entretanto falar da cultura tradicional destacaremos o desenvolvimento da História lítica mostrada pelos dados obtidos através de escavações, fornecem as provas de um habitat fixo: a utilização de cabanas guarnecidas de cerca, o uso em larga escala de uma cerâmica elaborada e o emprego de mós. A cerâmica, constituída de tigelas, caracteriza-se por uma decoração de linhas sinuosas cavadas por incisão e por pontos impressos.
O instrumental lítico abundante, feitos de quartzo, nitidamente microlítico e geométrico, compreende tipos variados: semicírculos e segmentos de círculos, triângulos escalenos, retângulos, trapézios, lascas escamadas e furadores. Nestas mesmas sociedades os mortos eram enterrados em suas próprias casas, deitados de lado. Essa prática persistiu por muito tempo no Sudão e em outras partes da Africa o que demonstra que as sociedades de Estado Uri adoravam os seus antepassados ou professam o animismo como religião
No avaliar de Niane (2010):
“ A era cristã (séculos IV-IX), uma nova ordem cultural vai se desenhar com a introdução do cristianismo como religião e surgimento de novas indústrias que produziram instrumentos de ferro. (…) E já no período de arabização do Sudão Oriental (século IX com maior ascensão no século XIII) vai verificar-se no geral uma mesclagem (mistura) racial em larga escala, na qual finalmente predominou a adesão da língua e da cultura árabes. Desta feita surgiram os afro-árabes naquelas regiões que podemos encontrar até a atualidade. Não só, nasceu também nesta região literatura negro-muçulmana”. (p. 764).
Perante está citação pode concluir-se que mesmo com cristianização, a arabização e a religião tradicional, baseada no culto dos ancestrais, continuou a mesma, tanto entre os povos governados por soberanos islamizados quanto entre os não muçulmanos.
Organização social, politica, económica e cultural
Organização sociopolítica
De acordo com Gentili (1999, p. 426), no Estado Turra, havia classes socias distintas, uma que era a classe dominante e a outra classe dominada. A classe dominante era composta pelo: Chefe supremo, seguia a este os chefes locais que controlavam os territórios do estado, sacerdotes e homens mágicos responsáveis pela ligação do estado com o mundo exterior não visível. A classe dominada que era composta basicamente por agricultores e pastores, sem muita renda e ao serviço do supremo, e que pagavam a este para uso de terras. Na fase de escravos quem não podia pagar ao supremo era vendido como escravo.
Chefe Supremo | ||||||
Chefe Locais | ||||||
Sacerdotes e Homens
Mágicos |
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Agricultores e Pastores | ||||||
Fonte: (GENTILI, 1999, p. 426)
Organização económica
De acordo com Aavv (1983, p. 242), no Estado de Turra praticavam a agricultura, onde produziam produtos como, mapira, mexoeira mais tarde substituído pelo milho americano. Também praticavam a caça e criavam animais. A sua principal atividade era o comércio através de produtos feitos de ferro e de cobre e mais tarde comercializavam escravos para Índia e Arábia, comprados por moeda que era designada Libra Esterlina, e em troca recebiam tecidos e olarias. Este comércio com Árabes e Indianos, desenvolveu-se entre os séculos III a IV, faziam comércio a longa distância.
Cultura
Segundo Ki-Zerbo (1972, p. 218), o Estado de Turra praticava crenças de adoração e crenças mágicas religiosa lideradas pelo supremo. As actividades culturais e intercâmbios inter-regionais jamais haviam atingido tal importância anteriormente como no período de arabização em todo Sudão, desde o Atlântico ao mar Vermelho, nasceu uma literatura negra-Muçulmana.
Estado de Kodorfan
Localização geográfica
De acordo com Sengulane (2007, p. 210), Kodorfan vai ser um dos estados que fará parte do conjunto de tantos que estavam localizados no Sahel Oriental: Wadai, Baguirmi, Funj, Darfun, Turra, Mandara e Núbia.
Para Kropacek (2010, p.448), o estado do Kodorfan era limitado a Sul pelo rio Al-Ghazala, a Sudoeste pelo rio al-Arab também conhecido por rio Kiir, a Oeste fazia limite com Estado de Darfur, a Norte era limitado pelo Estado Dongola dos e Kababish a leste encontrava-se limitado pelo Nilo Branco.
Organização Social, Política, Económica e Cultural
Organização Social
Segundo Niane (2010, p.767), o Sudão neolítico sempre foi zona de passagem, era zona de contacto entre números clãs ou grupos étnicos negros. Como em tantos outros Estados do Sahel Oriental, o Kordofan terá dentro do seu território alguns grupos étnicos como os Shilluk, Takkara e Djamaab facto que talvez podem justificar as crises dinásticas e crises Políticas ligadas a sucessão ao trono.
Shilluk | ||||
Takkara | ||||
Djamaab | ||||
Organização Política
Zayed & Davisse (2010, p. 99) argumentam que, apesar de tantas convulsões (revoltas) étnicos os reinados obedeciam os regimes monárquicos dinásticos, cuja família real, sacerdotes comerciantes e o exército compunham a classe dominante, enquanto os camponeses, artesãos e a população em geral constituíam a classe dominada. Entretanto o volume das actividades comerciais provocou rápido desenvolvimento social em Kodorfan, fazendo surgir uma nova camada a dos comerciantes e eruditos negros.
Família real |
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Sacerdotes | ||||||||||||||
Comerciantes | ||||||||||||||
Exército | ||||||||||||||
Artesão | ||||||||||||||
Camponeses | ||||||||||||||
População em geral | ||||||||||||||
Fonte: (ZAYED & DAVISSE, 2010, p. 99).
Organização Económica
O comércio como principal atividade económica, sendo a agricultura desenvolvida nas margens do Nilo Branco, rios al- Gazala e al-Arab como uma atividade complementar onde produzia-se algodão, inhame, tâmaras, lentilha e melão. Kodorfan representou para os egípcios uma fonte de mão-de obra, de animais e de minerais, o que significa para além do comércio e agricultura desempenham atividade como a mineração também.
De acordo com Oliver (1991, p,135), o comércio era feito ao longo de dois grandes eixos orientais nos sentidos Oeste-Leste e Sul-Norte. O primeiro ligava o Borno-Wadai e Sennar por Kobie principal centro comercial do Kodorfan. Por esta rota, conhecida como rota do sudão circulavam não só, mercadorias, mas também peregrinos muçulmanos que exerciam uma atividade comercial importante ao longo de seu caminho, vendendo asnos, livros e outras mercadorias. Eles também inscreviam fórmulas em amuletos.
No pensamento de ki-zerbo (1972):
“ (…) O Estado de Kodorfan usava como produto de troca o ouro, nozes de cola, goma, marfim e peles que a partir dos portos Suwakim Aydhab localizados no Mar Vermelho comercializavam com povos palestinos e egípcios usando a rota de 40 dias mantinham contacto com as cidades do mediterrâneo” (Trípoli, Alexandria, Túnis, Benzazi), (p. 214).
Disto pode-se concluir que a localização geográfica do Estado fez desta região uma encruzilhada das civilizações que vinham do Norte de África, Europa mediterrânica, do Ocidente e Centro Sudanês, que a partir das suas rotas escalavam as cidades santas (Meca) e também escalavam as regiões ricas em ouro no Sudão.
Entretanto no sentido contrário ou da África do Norte entravam para circuito económico produtos que realçavam o brilho da corte tais como tecido de seda e lã, produtos alimentares como trigo, frutas, passas, tangas do brocado, barretes dourados e cavalos que foram usados para reforçar o prestígio dos reis e aumentar seus exércitos pela adjunção da cavaleira.
Cultura
De acordo com Oliver (1991, p.151), culturalmente o Kodorfan sofreu influências do Sudão Ocidental, da África do Norte e dos Arábia no âmbito do comércio. Essas influências são apontadas como causa do desaparecimento do seu governo central, basicamente tradicional dando espaço a uma mudança progressiva da religião, que ocorreu por meio da miscigenação ou aliança em larga escala de grupos étnicos e linguísticos, surgindo desta feita uma sociedade com características étnicas e culturais semelhantes, em muitos pontos, onde atualmente fazem do Sudão uma entidade Afro-árabe única. O mesmo autor avança-nos que penetração progressivamente dos árabes no Kodorfan propagou sua cultura e sua influência entre as sociedades cristãs tradicionalistas.
Estado wadai
Origem do estado wadai
Segundo Ki-zerbo (1999, p. 371), o Estado Wadai surge com a queda do Baguirmi, que culminou com a morte de Abd El-Kader ao tentar opor-se ao profeta rodeado de fanáticos. É desta forma que Wadai aproveita se disso para saquear e transferir em massa os artífices baguirmianos, assim como camponeses instalados como servos em terras de colonização.
Organização Sociopolítica
País dos Mobas, que conheceu seu auge no século XVI pela dinastia dos Tondjonus povos mestiços negros árabes do Darfur, mas que não parece ter sido amnistias, pois no princípio do século XVII, um letrado muçulmano de nome Adb-el-Krim veio como missionário muçulmano e acabou tomando o poder em 1635-1653 Wadai paga então tributo ao Bornu e ao Dafur e sua capital é situada em Uara.
Em segundo, é a luta para se libertar do Darfur, a expansão para o Ocidente as Expensas do Kanem no século XVIII e do Baguirmi Mohammed Xerife Sale, continua a lutar contra o Bornu, transporta capital do Uara para Abche, essa época é considerada período de agitação, pois o pós Ahmed Gazele e seu eunuco Cherade ad-Dinn, de um lado e de outro Djerma Chefe da cavalaria.
Rei | ||||
Chefe da cavalaria | ||||
Chefe da administração | ||||
Fonte: (KI-ZERBO, 1999, p. 371)
Na Perspectiva de Ki-Zerbo (1999, p.371), na realidade a cavalaria era uma das armas decisivas do Wadai. Podia alinhar 7000 cavaleiros 1000 dos quais couraçados. Existia mesmo um alto funcionário encarregado da inspeção couraças. O chefe da administração era o vizir sobre as ordens do rei considerando um deus e do seu conselho.
Organização Económica
No pensamento de Sengulane (2007, p. 224), a história regista para os Estados, do Sudão Oriental e no Wadai em particular de uma certa economia sustentada fundamentalmente no comércio com o Nilo, estimulada pela abertura da rota Wara-Benghazi. De facto, paralelamente ao desenvolvimento da agricultura e do artesanato, Baguirmi com Wadai faziam um comércio com o Nilo
Estado de baguirmi
Localização geográfica
Na perspectiva de Ki-Zerbo (1972, p. 192), o Estado Baguirmi localiza-se no Sudão Central juntamente com os seguintes Estados: Kanem-bornu e os Estados Haúças, que eram constituídos pelas cidades de Sokoto, Katsina, Rano, Daura, Gobir, Kebbi e Zaria (zazzau ou Zegzeg). Geograficamente localizara-se a Sudeste do lago Chade, e será limitado a Sul pelo Rio Chari, a Leste pelo reino de Darfur a Norte pelo Estado Wadai. Terá como cidades importantes Yao e Massenia.
Organização Social, Politica, Económica e Cultural
Organização Social
De acordo com Barkindo (2010, p. 598), no panorama social, não irá diferenciar-se do cenário que vivera-se em outros Estados que vão se registar grande confluências raciais e étnicos desde a queda da Núbia e a chegada dos árabes para as trocas comerciais, registando desta feita progresso demográfico mais ou menos maciço, o que de certo modo criou um equilíbrio que se traduziu por realizações sócio-politicos elevados, que colocaram realmente estes países ao ritmo de outros estados.
Fage & Tordoff, (2010), argumentam que:
“Sudão não era uma região habitada pelas sociedades tribais, nelas existiram reinos organizados (…) o islão era estranho aos olhos dos muçulmanos, os árabes eram capazes e estavam interessados em negociar, como faziam com os outros estados não Muçulmanos”, (p. 68).
Perante esta citação podemos concluir que os baguirmianos não eram tribalistas pois estavam estruturados em estados, onde a presença dos muçulmanos fez com que eles se convertessem e também o islamismo era visto como algo estranho. No que toca a presença dos árabes neste ponto são fins comerciais que os caracteriza e que faziam também com os baguirmianos.
Segundo Barkindo (2010, p. 601), a sociedade baguirmiana era altamente hierarquizada e formada por duas grandes classes por sua vez divididas em subclasses: a kontuowa (classe dirigente ou nobre) e a talaa (os plebeus). Cada classe e subclasse diferenciava-se por sua linguagem, seus trajes, sua moradia, seu estilo arquitetónico e sua mobília. A posição social dependia do pertencimento a tal ou tal etnia, das actividades exercidas, do nascimento, da idade e do lugar de resistência.
Kontuowa | ||
Talaa |
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Fonte: (BARKINDO, 2010, p. 601)
Organização Política
De acordo com Barkindo (2010, p. 603), a formação, por diferentes grupos étnicos, de entidades mais ou menos autónomas e das principais dinastias no poder impediram a instauração de um sistema político centralizado uma vez que a sucessão nem sempre acontecia sem conflitos. Contrariando Niane (2010), afirma que:
“A evolução política, antes de 1600, em toda a África, o estágio crítico havia alcançado ou superado e que onde quer que as condições o tenham permitido, criaram-se cidades, reinos e impérios viáveis. Desse modo, fundaram-se formações políticas originais, enriquecidas por contribuições externas, conhecendo-se muitos métodos de governo. As diferentes etapas do desenvolvimento político mostram uma evolução que vai do clã ao agrupamento de clãs em reinos e ao agrupamento de reinos em impérios” (p. 767).
Facto que nos remete a concluirmos que o Estado Baguirmi desde a mais alta antiguidade esteve organizado politicamente, mas o novo quadro vai desenhar-se com advento arabização onde vão trocar-se as instituições tradicionais dos autóctones (indígenas) a favor das introduzidas pelos estrangeiros (árabes).
Na ótica de Niane (2010):
“A progressiva instalação de novas instituições em todo Sudão, foi impulsionado pelo volume das actividades comerciais que provocaram rápido desenvolvimento social, fazendo surgir uma nova camada, a dos comerciantes e eruditos negros, havendo desta feita a necessidade de criar-se novas instituições políticas capazes de controlar e garantir a segurança no comércio facto que no Baguirmi foi garantido pelos Mai. A cena política africana já atingira certo nível de equilíbrio e de estabilidade durante o período compreendido entre os séculos XII e XVI e a evolução do mapa político demonstrava as pressões exercidas pelas forças exteriores” (p. 764).
Do exposto pode concluir-se que o Estado Baguirmi sofreu influências externas e nem quando analisado pelo período que é nos avançados de século XII-XVI cronologicamente constata-se que é o período do auge do islamismo e de criação de Estados muçulmanos ou de emirados que ocuparam progressivamente todo o Sudão Central graças as Jihad. Portanto, os baguirmianos, adotaram como modelo de governação as monarquias dinastias colaterais em que a ordem de sucessão obedecia a linhagem onde o poder passava do tio para o sobrinho.
Governantes | ||||||
Conselheiros | ||||||
Comerciantes | ||||||
População em geral | ||||||
7.2.3. Organização Económica
De acordo com Ki-Zerbo (1972, p. 175), o continente africano em especial os seus países negros atingiram após a fase da formação, movimento migratório de contactos e trocas mais ou menos benéficos com o exterior por intermédio dos árabes. O Estado Baguirmi será atingido por essas influências e desenvolvendo dentro do seu Estado actividades económicas como o comércio inter-regional e exterior, uma agricultura sem muito excedente virada basicamente para a subsistência que se pratica ao longo das margens do algo fitre.
No entender de Sengulane (2007):
“A história regista para o estado de Sudão Oriental e Central uma economia fundamentalmente pelo comércio com o Nilo e Baguirmi, o estado que localizava-se no Sudão Central também foi influenciada por esta prática económica, com o andar do tempo onde abriu-se mais uma nova rota comercial designada Wara-benghazi que estimulou esta actividade nesta região”, (p. 224).
O que leva-nos a concluir que Baguirmianos devido a baixa produção que não lhe garantia excedente sentiram-se obrigados a buscar solução para fazer face a improdutividade das suas terras, optando por comércio inter-regional com os Estados de Sudão Oriental e Ocidental e exterior com os povos da Saara e África do Norte.
Barkindo (2010, p. 592) avança que, eram produtos que faziam parte do circuito económico: peles, marfim do lado dos Baguirmianos e no sentido contrário estes povos importavam principalmente produtos de luxo como: sedas, brocados, armas ricamente ornamentados.
“Baguirmi assim como Wadai desenvolveram a agricultura e o artesanato em paralelo com o comércio no Nilo, o Darfur e o Cordofão tornando-se desta feita entrepostos comerciais dos produtos exóticos Africanos provenientes do Leste do Sudão e entravam para o circuito comercial o sal, cobre, estanho e o bronze, produtos exóticos (peças de elefantes, penas de avestruz e animais vivos, escravos capturados nos estados não Muçulmanos), são produtos que se trocavam com os cavalos que tinham um valor militar, roupas, tecidos, armas de ferro, sendo produtos árabes” (Ibid, p. 224).
Onde concluímos que, devido a falta de excedente levara este Estado a ter uma dependência face a outros Estados para limar a escassez que lá fazia-se sentir.
De acordo com Barkindo (2010, p. 594), destacaram-se nesse comércio os Komboli e os Mai. Os Komboli eram oriundos de Bornu e são considerados responsáveis pela difusão da cultura do nascente dos países dos Haússas. Comerciaram com os povos do Sudão Ocidental, Sudão Oriental, povos do Saara e Norte de África. E o grupo étnico contava com apoio dos maique pouco interferem nas actividades comerciais propriamente dita, mas sim, limitavam-se a garantir segurança contra os rapinastes, tais como os Ngizin e os Tuaregues e não só, tinham também a missão de afirmar acordo com os regimes no poder em Saara e da África do Norte, com intuito de assegurar a livre circulação das mercadorias entre Estados, assim como entre pessoas.
Cultura
Segundo Niane (2010, p. 764), no pano religioso, mesmo com múltiplas influências no Estado Baguirmi a religião tradicional, baseada no culto dos ancestrais, continuou a mesma, tanto entre os povos governados por soberanos islamizados quanto entre os muçulmanos. Mesmo os Estados islamizados tiravam sua força moral menos do Islão que da tradição africana mais viva que nunca. As populações autóctones da África Central, apesar de islamizados e arabizados, preservaram a identidade cultural. Foi o caso dos baguirmianos, que tendo aceitado o Islão, conseguiram conservar a língua e alguns traços de cultura.
No avaliar de Hrbek (2010):
“ O início do processo de arabização presenciou um renascimento da literatura árabe no Sudão central e ocidental, além dos trabalhos naquela língua, um número cada vez maior de livros foi escrito em línguas locais, como Haússa, Fulfulde, Kanuri, Mandara, Kotoco, etc., utilizando carácteres árabes” (p. 181).
Do exposto acima podemos concluir que o Baguirmi como um Estado que localizava-se no Sudão Central e ter sofrido influências árabes desenvolveu uma literatura árabe e em todo o Sudão, do Atlântico ao mar vermelho, nasceu uma literatura negro-muçulmana.
Estado da núbia
Localização geográfica
De acordo com Barkindo (2010, p. 278), o estado da Núbiasita a Nordeste da África, é uma extensa faixa da terra localizada ao sul do Egipto, entre a primeira e a sexta catarata do Rio Nilo. No interior da Núbia floresceu o reino de Kush com suas capitais: Natapa na margem esquerda e Méroe na margem direita.
Organização Social, Politica, Económica e Cultural
Na perspetiva de Apolinário (2007), as comunidades uniram-se e passaram a obedecer a um único líder, o rei e a sua família e também era formado pelos nobres que ocupavam altos cargos do funcionalismo e pelos sacerdotes, era composta também por uma classe dominada que era constituída por agricultores, os criadores de gado que eram pessoas livres, formavam a maioria da população.
Família real | ||||||||||
Nobres e sacerdotes | ||||||||||
Agricultores e criadores de gado |
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Fonte: (APOLINARIO, 2007)
Organização Política
De acordo com Silva (2012), os Núbios tinham um jeito próprio para proceder à sucessão de seus reis. O poder passava de pai para filho, na Núbia, quando um rei morria, seu poder era entregue ao seu segundo irmão, que governava de forma vitalícia. Na sequência, o trono era passado para cada um dos irmãos sobreviventes. Terminada essa sucessão, o poder real era entregue ao filho mais velho de quem primeiro reinou, só depois, era retomado a linhagem de irmão para irmão.
Rei | ||
População |
Organização Económica
Os Núbios cultivavam trigo, cevada, cereais, algodão, linho, abóbada e frutas (tâmara e uva), e domesticavam bois, cabras, cabritos, cavalos e burros e praticavam a pesca. O cultivo da terra foi impulsionado pela introdução da nora ou roda pérsica, movida por um boi, a nora captava água do rio e distribuía pelos canais de rega, permitindo irrigar as terras, as margens do rio nilo. Mas foi o comércio a atividade económica mais importante.
Os povos núbios já estabeleciam relações comerciais com as comunidades que habitavam a região do Egipto mesmo antes da unificação do reino Egípcio. Em troca de objetos de cobre, de conchas e pedras trabalhadas, os núbios ofereciam gomas, incenso, pele de animais, madeiras, marfim, ouro e principalmente pedras para a construção dos templos e pirâmides do Egito.
Na ótica do mesmo autor, onde existia Napata atualmente encontra-se a cidade de Merowe. Vários factores contribuíram para que Méroe se tornasse um grande centro urbano, dentre eles a menor aspereza do clima e do solo e a pequena distância de rota de caravanas que ligava Méroe e Napata. Esse caminho tornou-se mais frequente, pois, como já foi dito, encurtava bastante o trajeto e com isso permitia uma economia com tempo menores gastos nas viagens de negócios.
Méroe lucrou muito com o desenvolvimento do comércio com o mar vermelho. Tornou-se um grande império de produtos africanos que chegavam passando de mão em mão, de tribo em tribo. Não há registros de que fossem muito longe buscá-las. Os escravos também eram trazidos e vendidos para terras distantes, para evitar que fugissem e retornassem a sua terra de origem.
Organização cultural
A cultura dos povos da Núbia guardava tradições importantes, como hábito de construir túmulos em forma de pirâmides. Esse povo também tinha uma escrita própria, que está marcada até os dias de hoje nas pirâmides de El Kurru, Nuri e Meró na região do Sudão. O Egipto teve vários faraós núbios, líderes negros que unificaram e fortaleceram o Império.
Os núbios foram responsáveis por várias maravilhas arquitetónicas do Egipto, principalmente as que se localizavam nas proximidades do rio Nilo. Os núbios deixaram uma marca importante na cultura do povo Egípcio. Na sua cultura o artesanato, os animais e as tradições são muito relevantes. Uma das tradições mais antigas e que ainda é mantida em Núbia, é a hora do chá, hoje a Núbia é uma nação com vários sítios arqueológicos, com um povo ancestral e com muita história preservada.
Bibliografia
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