Todos nós sabemos que existe uma relação entre a distribuição da fauna e da flora e as condições geográficas do clima e do solo. Alguns seres vivos, quando retirados do seu habitat, não sobrevivem, querendo com isto dizer que existem animais e plantas de região e clima. Daí que se pode concluir que a diferença da fauna e da flora deve-se aos factores geoclimáticos.
Quanto à espécie humana, as diferenças marcantes entre os povos do globo terrestre, não são, completamente devidas à factores culturais, embora a sua capacidade de adaptação é bem superior àquela possuída pelas espécies vegetais e animais.
O homem é influenciado pelos factores culturais e geoclimáticos ou naturais. Exemplo: O homem da planície é diferente do das florestas, do deserto, etc. mas com tudo isto não se quer afirmar que existe um determinismo geográfico na cultura ou determinismo cultural no meio geográfico, mas sim, uma interacção dos dois sobre o mesmo ponto, o homem.
Embora os Geógrafos tentam mostrar que todas as formas da cultura humana derivam do ambiente geográfico em que vivem os homens, os antropólogos provam o contrário afirmando que existem culturas diferentes em mesmo ambiente geográfico, concordando com o facto de a cultura ter alguma influência do meio geográfico.
Partindo do princípio de que a cultura é selectiva, o ambiente geográfico não determina o tipo e grau de cultura de qualquer povo mas contribui para o desenvolvimento ou empobrecimento cultural de qualquer povo, isto é favorece ou limita o desenvolvimento de uma cultura.
Em suma: o ambiente é uma condição indispensável para que haja cultura; o meio ambiente pode influenciar a cultura, pois é dele que o povo retira a sua subsistência mas o factor decisivo é a cultura. A união de uma cultura eficiente (de tecnologia avançada) com um ambiente geográfico rico proporcionará uma capacidade maior de subsistência aos habitantes e pode ter resultados surpreendentes mesmo em ambientes tidos como pobres. O significado do ambiente para os pobres é dado pele própria cultura, pois, é com os olhos culturais que vemos o ambiente geográfico; a cultura transforma o ambiente geográfico em ambiente cultural.
Dai que Titiv , prefere falar de determinantes culturais do uso ambiental, onde constata que um dos maiores aspectos do comportamento humano é a difícil ou a recusa do homem em tratar ou lidar-se com o seu ambiente externo em termos biológico , físicos e químicos Diferentes de outros animais, o homem, nunca reage á força do homem consumindo tudo o que existe no seu território. O homem, seja em canto do mundo for, só utiliza para sua alimentação, artigos seleccionados da região que habita, de acordo com os valores simbólicos, que prevalecem na forma de vida da sua sociedade.
Esta forma de comportamento pode dar muitas satisfações ao humanos, mas também pode dar muitos satisfações aos humanos e pode pôr em perigo a sua existência. Isto é, a cultura pode aumentar a utilização da natureza pelo homem, em certas circunstâncias, mas pode, restringir consideravelmente a sua utilização.
Exemplo: existem alimentos que o homem só consome depois de confecionados. O cultivo desses artigos torna-se culturalmente significativo ao recordarmos que o homem aprendeu a produzir e a controlar o fogo; assim como existem povos que consomem tubérculos de espécies venenosas e que só é possível esse consumo depois de certo artifícios culturais para desativar o veneno.
Contudo, concluirmos que adaptação da cultura pode alargar o valor de coisas que o homem obtém na natureza mas também os valores simbólicos culturais podem restringir a utilização do ambiente pelo homem. Isto ajuda a compreender porque é que embora os alimentos culturalmente aprovados por certas sociedades sejam escassos e caros, não vale a pena obrigar uma família pobre para jantar mais barato na base de ratos. Mesmo que se demonstrem estes, limpos e nutritivos.
Na relação do homem com o ambiente, pode-se concluir que os seres humanos não vivem num mundo de puros objectos físicos. Porque á sua volta pode ter valor simbólico e invariavelmente as pessoas aprendem a manter ideias culturalmente padronizadas sobretudo no seu ambiente físico.
A existência de ideias culturais que dirigem as atitudes de uma pessoa em relação ao mundo á sua volta é a única das formas essenciais em que o homem difere-se do resto do reino animal.
Portanto, nenhum observador externo, pode jamais esperar compreender completamente
Pode-se destacar também que não existe uma relação direta entre o físico individual e o tratamento do ambiente. Ex: um zoólogo pode a partir de um exame de anatomia de uma criatura, descobrir se ela é carnívoro ou herbívoro, aquática ou terrestre, mas não é possível a um cientista com base ao exemplo do corpo de uma pessoa, distinguir se é vegetariana ou nadadora.
Conteúdos
Natureza e cultura
O objecto especifico do estudo da pesquisa antropológica é o homem . A antropologia cultural indaga o significado do homem como expressão da sua actividade mental.
As manifestações da actividade mental do homem são expressões de escolhas determinadas que o homem faz para organizar a própria vida. Nas suas escolhas o homem é condicionado pela sua constituição de individuo, pelas relações que o ligam a outros indivíduos com os quais compartilha a sua vida e a natureza mais vasta que circunda e dentro da qual está incluído:
– O homem como individuo, as relações com outros homens, a relação humana dos indivíduos e dos grupos com a natureza, são os grandes temas em torno dos quais se desenvolve o estudo antropológico.
A natureza não compete à antropologia estudar a natureza na complexidade das suas leis e das suas formas, mas compete-lhe definir as várias acepções sob as quais o conceito da natureza se ajusta à mente humana para ordenar a vida do homem em sistemas de interpretações teóricas e de instituições sociais.
Natureza, Fundamento da Cultura
Natureza é antes de mais o universo, como totalidade cósmica, visível e invisível, dentro do qual o homem está imerso. É necessário acentuar a totalidade do cosmos; inclui as coisas, os seres, os animais os homens e as forças conhecidas e desconhecidas que os regem.
O termo cosmos, refere-se à totalidade do universo e não apenas ao céu ou ao espaço de corpos celestes .
O confronto com esta realidade imensa e imprecisa atrai permanentemente o homem. Busca a medida do universo para encontrar o seu limite individual e procura avaliar as suas forças para conhecer as suas dimensões e determinar a sua própria relação cósmica.
Por natureza compreende-se também o ambiente ecológico, a terra, vegetação, os animais; a vida humana desenvolve-se em simbiose com esta realidade. O homem é impelido a conquistar e dominar o ambiente para obter os meios da sua sobrevivência. Constrange o homem a organizar a sua vida de forma correspondente . Realidade física da natureza, apresenta-se ao homem como objecto de pesquisa e de interpretação, a natureza, como complexo de forças estranhas ao homem é encarada em contraste com a cultura, ou seja com o homem e a sua actividade. Neste sentido Lévi-Strauss explica assim o totenismo: “ o mundo animal e o mundo vegetal não são utilizadas apenas porque existem mas porque sugere ao homem um método do pensamento” ( Lévi –Strauss 1964: 21).
As leis físicas e biológicas que regem a constituição íntima das coisas e dos seres são também descritas pelo nome de natureza e o próprio homem, na sua estrutura física, sujeita-se a estas leis: nasce, cresce e morre. A constituição natural do homem apresenta-se sobre uma forma dupla devido a diferenciação dos sexos; a distinção entre homem e mulher é um factor natural não um produto de livre escolha do Homem.
Não é fácil traçar a linha limite entre natureza e cultura. Em geral, sublinha-se que a natureza é regida por leis universais fixas; é universal, constante, não dá salvos evolui gradualmente.
A capacidade de intervir na natureza é a característica mais significativa do homem . Observa-a e estuda-a, não só para conhecer e apreciar, mais para modificar e corrigir o seu curso acomodando ou dobrando aos próprios intentos as suas leis a interacção sexual, natural e biológica entre homem e mulher para a procriação e a continuidade da vida humana, oferece por exemplo ao homem um campo de intervenção.
O homem intervém com normas precisas e severas para regular a própria actividade sexual. Trata-se de normas fundamentais difundidas embora por formas e graus diversos entre todas as culturas humanas a proibição das relações sexuais entre parentes próximos é um facto universal , a ponto de Lévis-Trauss considerar a proibição do ”incestos” um fenómeno que apresenta simultaneamente o carácter distintivo da natureza, pela sua universalidade, e o carácter distintivo da cultura, porque é objecto de leis e instituições. “Lévis-Strauss 1967:1”.
Também a linguagem apresenta as características da ligação entre natureza e cultura. Os linguistas distinguem a linguagem como um facto universal da natureza e a língua como um facto particular da cultura. De Saussere descreve a faculdade linguista , ou seja , capacidade de elaborar uma língua, como fundamento natural da linguagem. Estes correspondem a leis físicas precisas – naturais – e devem considerar-se factos da natureza, atribuir um valor semântico aos sons significa criar símbolos, ou seja, servir-se de uma realidade ( Sons, gestos) para significar outra ( o pensamento). Toda esta actividade já é cultura, isto é, uma intervenção por homem sobre a natureza que a linguagem é uma instituição humana.
Em conclusão: a cultura assenta necessariamente sobre a natureza . Portanto, se quer compreender a fundo o complexo fenómeno da cultura convêm não descurar fundamento natural que permite ao homem desenvolver actividade mental e criar a cultura. Por essa mesma razão Malinowski e outros antropólogos como eles viram que era necessário seguir caminho das “necessidades naturais” do homem para analisar as interpretações teórica e as instituições correspondente que ocorrem para formar a cultura (Malinowski, 1944), portanto, pode afirmar-se com uma ulterior acepção do termo que a natureza do homem é a cultura, ou seja, que o homem pela sua própria natureza, produz a cultura.
Cultura e Civilização
Só no fim do séc. Passado, quer na linguagem comum quer na cientifica, o termo civilização era preferida a cultura. Há autores que empregam o termo civiltá (civilização) para exprimir uma manifestação superior ou territorialmente importante da cultura; trata-se, por outras palavras de uma especialização da cultura Grottanelli observa o seguinte: “ No etnomonológico – que se liga com paleo – etnológico costuma-se principalmente empregar o termo civilização no que se refere às formas superiores e territorialmente difundidas e importantes ( civilização Knmer, maia , Indiana, e por ai em diante).
A referencia de civilização “ forma superiores exprime juízo de valores e não oferece um critério exacto de medida. Não existe de facto, uma escala a que possamos referir-nos para definir uma classificação das culturas”.
O valor de uma cultura está na sua essência da cultura como produto de actividade mental do homem. Assim, portanto, o critério da divisão territorial não é bastante suficiente e exacto para opor um termo ao outro. O próprio emprego etnológico e paleo – etnológico não é constante e aos dois termos podem ser intermutáveis como sinónimos ( civilização maia e cultura maia).
Outros estudiosos, e os antropólogos culturais entendem por cultura o aspecto ideológico, isto é, os valores teóricos e interpretativos, enquanto por civilização consideram o aspecto concreto, ou seja, as elaborações práticas e institucionais expressas pelas várias sociedades no tempo e em relação com as situações locais.
A distinção entre culturas e civilização pode, pelo contrário, fazer-se da maneira nítida e precisa, tendo como base a etimologia latina da palavra civilização.
A posição entre modelos de vida citadina e de vida rural adquire um significado de urbano e não urbana, de civil e incivil.
Em conclusão o termo civilização pode muito bem ser reservado para indicar uma especialização da cultura não tanto no sentido de superioridade mas em relação à configuração especial caracterizada pela organização residencial da cidade. Convirá observar que a estrutura urbana não é peculiar da cultura ocidental mais encontra-se bastante difundida, também, na Ásia e na Áfria pré-conial, particularmente na África Ocidental, por exemplo entre os Yoruba. Assim, deve haver uma indicação terminológica no próprio contexto e conceito de cultura, como mais adiante se proporá.
Cultura e Sociedade
Na literatura antropológica, especialmente na que se refere antropologia social, o conceito e o termo sociedade são pontos constantes de referencia. Em relação a cultura não se pode deixar de perguntar se as duas palavras, cultura e sociedade são simplesmente sinónimos pelo contrario encerram diferenciação significativa.
Os sociólogos preferem referirem-se a aspectos mais concretos e práticos da pesquisa como sistema social, organização social, e por ai em diante.
Nesta definição não há qualquer referencia aos valores conceptuais que constituem a base da ordenação social.
O antropólogo tem presente a totalidade do significado de cultura. Tal significado abrange tudo o que é actividade do homem para além da sua constituição física e biológica, quer como individuo, quer como pólo de realizações sociais.
A sua actividade mental de intuição e pensamento constitui a base originária a partir da qual surge e toma corpo a cultura.
A sociedade como grupo, considera actividade humana não no aspecto individual mais no aspecto de participação e de socialização pluri-individual. Representa, portanto, uma manifestação da cultura humana de aplicação vastíssima e de valores fundamentais mais distinta da cultura como expressão total da mente humana. A cultura, ainda que brotando da actividade do homem singular, deixaria de ser cultura se permanecesse aos simples níveis individuais, mais não haveria nem cultura nem sociedade se não existisse o individuo e a sua actividade mental. A cultura abrange todos aspectos do fenómenos e é um conceito mais vasto e compreensível da sociedade.
No significado da cultura esta incluídos igualmente os aspectos teóricos do pensamento que derivam da actividade mental do homem: O esforço da interpretação das coisas e dos seres, sistematização dos conhecimentos adquiridos para tirar consequências precisas na definição das relações humanas com toda realidade cósmica dentro da qual se realiza a sua vida. Estas interpretações variam de homem para homem e reflectem-se na organização de grupos, isto é, na constituição da sociedade.
Tomemos como exemplo: a terra trata-se duma realidade bastante concreta sobre a qual se desenvolve a vida humana. O conceito que o homem tem da terra varia. Pode considerá-la uma simples realidade material avaliável em dinheiro; pode também considerá-la como símbolo de universidade e respeitá-la como devindade, a Grande Mãe Terra, da qual todos os seres extraem a vida. Estas concepções, são de ordem cultural, reflectem-se de forma determinante no modo de organização e comportamento social: Aspecto comercial no primeiro caso, aspecto religioso no segundo.
A cultura não é só um conceito mais vasto da sociedade ; esta assume ainda a forma de que, também a sociedade é uma manifestação tipicamente cultural. Se quisermos chegar a uma definição da sociedade que tenha em canto estas considerações antropológicos, devemos dizer que a sociedade é o conjunto de sistemas normativos das relações humanas que traduzem e accionam os valores e as interpretações culturais em instituições sociais.
Bibliografia
Bernardo Bernardi – Introdução aos estudos Etno-Antropológicos (prespectivas do homem, edição 70).